INTERESSE POR PEQUENOS REATORES REVELADO POR BOLSONARO COLOCA O BRASIL NA ROTA DE METAS CLIMÁTICAS, AVALIA ABDAN

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

bolsonaro-com-Putin-pyDOIjA viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia terminou com uma importante sinalização para o mercado brasileiro de energia nuclear. Depois de uma reunião de cerca de duas horas com o presidente Vladimir Putin, em Moscou, Bolsonaro afirmou que o Brasil quer estreitar laços com a Rússia no segmento nuclear, incluindo os promissores pequenos reatores modulares (SMRs, na sigla em inglês). Em rápido discurso após a reunião com Putin, o presidente brasileiro declarou que existem amplas oportunidades para que Rússia e Brasil ampliem negócios nas áreas de exploração de gás, petróleo, derivados e energia. “Desejamos aprofundar nossos diálogos em alto nível em temas como exploração em águas profundas e hidrogênio. Temos interesse nos pequenos reatores nucleares modulares”, disse Bolsonaro. O recado foi muito bem aceito por membros do setor, que já há algum tempo têm apontado que o futuro da indústria nuclear está nesse novo tipo de tecnologia, que promete até mesmo reduzir os investimentos necessários para a construção de novas plantas.

Para o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, o recado de Bolsonaro mostra que o Brasil está atento à tendência mundial em torno dos SMRs. “O mundo todo está correndo atrás dessa tecnologia, pois possui uma série de vantagens adicionais que os grandes reatores não têm. Por exemplo, esses reatores modulares reduzem os riscos em termos econômicos. Por serem reatores menores, o volume de financiamento exigido também é menor”, explicou. A Rússia é um dos países que está participando do desenvolvimento de SMRs, por meio de sua estatal Rosatom. Cunha lembra ainda que não apenas os russos, mas que outras empresas e governos de diferentes cantos do globo estão de olhos vivos para o potencial dos reatores modulares.

westinghouse-smrO mundo todo, na realidade, é sensível à questão nuclear. A China vai construir 150 reatores nos próximos 15 anos. A França anunciou recentemente a produção de reatores nucleares. A taxinomia europeia para os financiamentos verdes está passando a incluir a fonte nuclear. Os Estados Unidos estão apoiando a construção de pequenos reatores, principalmente para produção de hidrogênio. Então, veja que o mundo todo está indo nessa direção”, apontou o presidente da associação.

Cunha diz ainda que se o Brasil quiser cumprir as metas climáticas da última conferência do clima (COP-26), não poderá fugir de novos investimentos na fonte nuclear. “Sem a energia nuclear, a conta não fecha”, opinou. O presidente da ABDAN, lembra, contudo, que a tecnologia dos SMRs ainda é extremamente nova, com diferentes modelos sendo pesquisados ou desenvolvidos em diferentes países. Outro ponto de atenção é que o Brasil ainda não possui, até então, um conjunto de informações técnicas que possam embasar a decisão de construir reatores modulares no futuro.

celso-cunhaPor isso, a ABDAN começou a preparar em janeiro, em parceria com o Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (GESEL/UFRJ), um estudo para identificar todas as barreiras de entrada dos SMRs na matriz energética brasileira. “Nós precisamos fazer toda uma questão de arcabouço legal e definir os tipos de usos dessa tecnologia. É preciso decidir onde esses SMRs serão usados. Existem muitas coisas que precisam ser feitas nesse caminho”, apontou. Segundo o presidente da ABDAN, a expectativa é que a pesquisa dure cerca de quatro meses, com os resultados sendo anunciados entre abril e maio deste ano.

No ano passado, conforme noticiamos, a ABDAN lançou o Fórum Permanente sobre os Pequenos Reatores Modulares. O colegiado é composto por representantes das seguintes entidades: EPE, Ministério de Minas e Energia, Autoridade Nacional de Segurança Nuclear, diretoria de Geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, Agência Naval de Segurança Nuclear e Qualidade da Marinha do Brasil, Centro de Pesquisa da Eletrobras – CEPEL, ABDAN, Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA, Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Institutos de Pesquisa.

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