DEBATE PELO PREÇO DO AÇO PASSA A ENVOLVER TAMBEM A ABIMAQ COMO UM ATOR PRINCIPAL CONTRA O PLEITO DAS SIDERÚRGICAS

José Veloso - Presidente da Abimaq

José VelLoso – Presidente Executivo da ABIMAQ

Quem pensar que o debate sobre o preço do aço se esgotou, está muito enganado. O único que está em ponto morto, esperando tempo bom, como um velho sertanejo,  é o ministério comandado pelo Vice-Presidente Geraldo Alckmin que, aqui pra nós, está careca de conhecer o problema. Mas o governo precisa se posicionar. Há que se ter firmeza e determinação. Os dois lados em disputa tem as suas razões, mas está carente de um árbitro justo. E neste caso, não se tem o VAR para recorrer. Não dá para o governo se fingir de morto e, no melhor estilo Paulo Guedes, deixar o mercado se acomodar.  Esse problema parece longe de terminar e permanecerá enquanto os mercados chinês e turco não conseguirem absorver a produção de suas siderúrgicas. Enquanto isso não acontecer, eles vão oferecer ao mercado mundial – e especial ao Brasil – um aço mais barato do que é produzido aqui. Os chineses e os turcos apostam  nos tropicões tributários que as empresas nacionais são obrigadas a enfrentar. Muitas caem de cara no chão.  É imposto e taxas por todo lado atrapalhando a produção.

Por sua vez, as empresas consumidoras tem a oportunidade de comprar mais barato e aproveitam o preço de ocasião. Vale lembrar que na época da pandemia, ognews-jorn05-transicao-alckmin-20221114-1443-frame-78330 movimento foi ao contrário e as empresas comeram o pão que o diabo amassou, tendo que se virar para comprar o aço a um preço absurdamente caro no Brasil, que aumentava a cada mês, com as siderúrgicas brasileiras  optando por colocar  quase toda sua produção no exterior, porque o dólar era mais atrativo para se vender. Lembrando uma velha máxima popular: “ quem bate, esquece. Quem apanha, não.”

Sem vendas, as siderúrgicas nacionais são pressionadas a cortar custos,  o que inevitavelmente explode na redução da carga de trabalho e em seguida no corte de empregos e nas paralisações de suas unidades. Por enquanto,  a Gerdau já demitiu 700 funcionários e ArceloMittal, colocou 400 trabalhadores em férias coletivas e parou a unidade de Resende, no Rio de Janeiro. Mas esse movimento não vai parar enquanto o governo não aumentar as alíquotas de importação do aço, é o que estão reivindicando. O mercado vê este movimento como chantagem. As siderúrgicas, como trunfo. A solução seria diminuir a teia de impostos para tornar o aço mais competitivo. Mas com um governo guloso e gastador, com um déficit estimado em RS$ 177 bilhões, pode tirar o cavalo da chuva. Não será esta a solução que o governo apresentará. Por enquanto ele veste a fantasia do avestruz, enfiando a cabeça na terra para não ver nada.  E seja o que Deus quiser.

Hoje(22), a ABIMAQ  enviou uma nota para o Petronotícias contestando alguns pontos em relação ao  posicionamento apresentado aqui pelo Instituto Aço Brasil, publicado ontem (21). Em relação a esta  nota,  a ABIMAQ  faz um exame de tudo que foi argumentado pela instituição que representa 85 % das siderúrgicas brasileiras.

CSN (Companhia Siderúrgica Nacional)“ O aço é o principal insumo para a produção de máquinas e equipamentos e para diversos outros setores industriais no Brasil. A produção nacional já é altamente protegida pelas atuais tarifas, por medidas de defesa comercial e por normas técnicas que dificultam a entrada em um setor bastante concentrado, em que os principais fabricantes concentram enorme poder econômico.

As importações de máquinas e equipamentos são maiores que a de  aço. A participação de máquinas importadas no consumo aparente é maior do que a participação de aço importado. Os maiores aumentos de importação de aço ocorreram em produtos de aplicação destinada especificamente para as próprias usinas siderúrgicas. Dados da plataforma do governo brasileiro COMEX STAT, que  apontam um aumento de 883,9% nas importações de placas de aço.

Se o problema são as importações da China, o instrumento escolhido pelo aço está errado. Deveria ser um processo de subsídio contra a origemaço derrama China e não o aumento da alíquota de importação,  pois assim todos os tipos de aços, de qualquer origem, seriam atingidos. Portanto, o pleito foi genérico e indiscriminado.

O setor siderúrgico brasileiro pratica os maiores preços do mundo. Como aco é uma commodity, este é o motivo principal da competitividade chinesa e não o fato de a China praticar preço baixo. Chama a atenção que a siderurgia brasileira vende aço no mercado brasileiro com preços em media 83% mais caros do que os preços praticados em suas exportações. Ou seja, o setor explora o consumidor brasileiro,  se aproveitando de um mercado extremamente protegido com várias barreiras de importações.

Os vários setores industriais que consomem o aço como matéria prima, máquinas, eletrodomésticos, eletroeletrônicos, autopeças, automóveis, caminhões, ônibus, material ferroviário, construção civil, agricultura, setor naval, infraestrutura, óleo & gás, que incluem obras do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – são mais estratégicos que o setor siderúrgico, pois agregam mais valores em suas cadeias do que um setor que produz apenas a matéria prima. O setor siderúrgico gera aproximadamente 120 mil empregos diretos, enquanto os setores que transformam o aço empregam mais de 5 milhões de pessoas diretamente.

açosinoxSe a medida for adotada, com o aumento da proteção do aço, nossa indústria vai perder competitividade por aumento de preços,  vai gerar desemprego e acelerar a desindustrialização.

Mais de 90% do aço comprado no Brasil é de origem de distribuidores. Não há como o setor siderúrgico se comprometer que não haja aumento de preços pois o mercado é pulverizado. Vale lembrar que grande parte dos distribuidores é relacionada com as próprias siderúrgicas. O objetivo do setor é ter aumento de margens através do encarecimento da matéria prima.

O setor siderúrgico, de acordo com próprio Aço Brasil,  emprega apenas 120 mil postos de trabalho diretos, aproximadamente.  Por agregar mais valor nas cadeias produtivas mais longas, os consumidores de aço como matéria prima recolhem mais tributos do que o setor siderúrgico. O setor de máquinas faz mais investimentos que o setor siderúrgico por ser muito maior e mais tecnológico.aço carros Os consumidores de aço investem mais.  

O atendimento dos pleitos do Instituto Aço Brasil representaria, em síntese, prejudicar severamente a competitividade de toda a produção nacional de máquinas e equipamentos e de outros produtos que agregam mais valor e geram mais empregos e renda que o setor do aço, em troca de benefícios individuais para grandes empresas siderúrgicas, que tem obtido resultados significativos nos últimos anos.

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