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ENGENHEIROS AFIRMAM QUE DESINVESTIMENTOS COMPROMETERÃO FINANÇAS DA PETROBRÁS

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) – 

Felipe_coutinhoNa contramão da sabedoria popular, onde “vale mais um pássaro na mão do que dois voando”, a Petrobrás apertou o botão da liquidação total e está numa forte onda de desinvestimentos. Alega que esta é a saída para seu alto endividamento. Mas há quem critique o caminho escolhido pela estatal. É o caso do presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), Felipe Coutinho. A entidade, por meio de carta enviada ao Tribunal de Contas da União, chamou a atenção para uma série de irregularidades e ilegalidades detectadas nos desinvestimentos da empresa, como a possibilidade de escolha de eventuais compradores, em processo sigiloso; e a falta de oportunidades iguais para os licitantes. Além disso, na opinião de Coutinho, o programa de desinvestimentos terá consequências negativas no futuro, comprometendo o fluxo de caixa da petroleira. “Quando você vende ativos rentáveis, acaba perdendo participação de mercado. Isso é uma política empresarial que merece críticas“, acrescentou.

Para exemplificar, o presidente da associação citou o recente caso da venda da participação em Guarani, uma das líderes do mercado brasileiro de açúcar e etanol.  “A Petrobrás está se desfazendo de Guarani, depois de pesados investimentos, que a tornaram em um ativo moderno. E agora, quando os investimentos começariam a dar retorno, a estatal decide vendê-lo. Foi um péssimo negócio“, disse. Coutinho ainda revelou que a Aepet está desenvolvendo novos estudos sobre conteúdo local, gasodutos e a venda de ativos, que devem ser lançados nas próximas semanas.

A Aepet se posicionou contra a saída da Petrobrás da produção de biocombustíveis. Que perdas a empresa pode ter com esta estratégia?

Nós temos demonstrado que este é um setor estratégico e que tem importância relativa tanto na matriz brasileira, como na mundial. O etanol disputa mercado e, você pode observar, que nos últimos anos, apesar da crise, há um aumento de participação deste combustível. O setor de biocombustíveis vem se recuperando, e a saída da Petrobrás deste segmento vai deixar a companhia de fora de uma parte significante do mercado.

O biodiesel representa 8% do mercado de diesel brasileiro. Esse número crescerá para 10% até 2019. Observe que enquanto o consumo do diesel, por conta da crise, vem diminuindo, o consumo de biodiesel vem aumentando. A Petrobrás está se desfazendo de Guarani, depois de pesados investimentos, que a tornaram em um ativo moderno. Os canaviais também receberam investimentos. E agora, quando os investimentos começariam a dar retorno, a estatal decide vender o ativo. Foi um péssimo negócio. 

Quais serão as consequências negativas com a venda de Guarani?

Agora, esse ativo está começando a gerar os frutos. Ela é uma usina muito moderna e competitiva, com uma alta capacidade. A Petrobrás tem repetido que os desinvestimentos são necessários para reduzir a dívida. Mas o que a Aepet demonstrou, por meio de um estudo, é que o desinvestimento não é necessário. Mostramos que, caso a Petrobrás não vendesse os ativos, seria possível manter as premissas do seu plano de negócios. Sua a alavancagem seria de 3,1 em 2018, enquanto que a meta da estatal é de 2,5. 

Os 2,5 seriam alcançados em meados de 2021. Com isso, demonstramos que a justificativa da Petrobrás não se sustenta. A Petrobrás tem geração de caixa pujante e com a própria geração de caixa e planejamento de investimentos, sua dívida seria reduzida naturalmente sem vender os ativos.

E, na sua opinião, qual será o balanço final da política de desinvestimentos da Petrobrás?

O comprometimento de fluxo de caixa no futuro. Quando você vende ativos rentáveis, acaba perdendo participação de mercado. Isso é uma política empresarial que merece críticas.

Que outras alternativas seriam viáveis para a empresa equilibrar as contas?

Fazer um planejamento de investimentos, renegociar dívidas, diminuir a exposição ao dólar, procurar fontes de financiamento alternativas… Basicamente, as alternativas são soluções que dependem exclusivamente da Petrobrás. O problema da venda de ativos é que acaba ocorrendo uma perda de verticalização corporativa. A verticalização permite gerar receitas mesmo com a variação de preços relativos. Com a Petrobrás focando em exploração e abandonando outras áreas, ela fica mais vulnerável aos preços relativos.

Como o senhor enxerga o movimento para flexibilização das regras de conteúdo local?

O conteúdo local é uma política pública. Os países que formularam essa política de forma competente, tiveram mais sucesso. Ela precisa ser corrigida, à medida da verificação dos resultados que se tem. A política de conteúdo local, no médio e longo prazos, precisa de gestão de aprimoramento. Acredito que é importante corrigi-la à medida em que os seus resultados sejam auferidos.

E qual será a consequência direta para empresas e trabalhadores nacionais a partir dessas mudanças?

De uma forma geral, você diminuir o compromisso de conteúdo local na indústria do petróleo significa diminuir a distribuição da renda petroleira. Poucos setores receberão os recursos e boa parte dessa renda vai ser transferida para o exterior. O que está em jogo é a disputa pela renda petroleira e sua renda para o exterior. Qualificando a mão de obra local e mantendo a renda petroleira no País, você está colaborando para a construção social do Brasil. 

De que forma, em sua opinião, a Petrobrás pode contribuir na questão do conteúdo nacional?

A Petrobrás pode contribuir identificando os setores em que a indústria brasileira pode fornecer. Mapear as demandas, planejar o desenvolvimento e acompanhar os resultados para ter a garantia de que suas demandas serão asseguradas. A Petrobrás pode contribuir dessa forma, como empresa que conhece todas as tecnologias e que pode desenvolver os fornecedores, como sempre fez.

Quais serão os próximos passos da Aepet?

Nós produzimos documentos, com fatos e dados que contém com nossos pontos de vista. Demonstramos o potencial de cada ativo. A Aepet procura divulgar para a sociedade e até mesmo para as esferas de controle. Estamos fazendo novos trabalhos sobre conteúdo local, gasodutos e também sobre as mentiras repetidas pela Petrobrás para justificar a venda de ativos. A expectativa é de que sejam lançados nas próximas semanas. Todos eles servirão para defender o patrimônio da Petrobrás, fazendo com que a estatal esteja à serviço dos brasileiros.

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Jorge
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Jorge

Com todo os respeito a este site, mas colocar a opiniao da associacao dos engenheiros da Petrobras como se fosse uma verdade absoluta nao seria um pouco como transformer a visao da associacao em uma verdade absoluta? Todos merecem ser ouvidos mas acredito que faz parte da credibilidade jornalistica estampar uma visao mais global dos fatos e nao transformer a opiniao de alguem que claramente tem interesses particulares em uma situacao que deveria ser de juizo publico. Eu conheco varias outras entidades que provam que sem Petrobras havera mais empregos e mais desenvolvimento da cadeia produtiva. Alem disso, em se… Read more »

Antonio José
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Antonio José

Jorge, a fórmula da privatização é muito mais complexa do que apenas vender ativos estatais para entes privados. Primeiro, há que se avaliar com profundidade a estratégia de privatizar determinado setor ou ativos, além, obviamente, do preço de venda dos mesmos, de modo a não haver doação do bem público aos privados. Veja bem o exemplo da telefonia, que foi totalmente privatizada e hoje o cidadão brasileiro paga as mais altas tarifas por minuto do mundo, em troca de um serviço de qualidade questionável. Onde está a vantagem da privatização para a população?

luciano Seixas Chagas
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luciano Seixas Chagas

Senhor Jorge E gostaria que o senhor me informasse as fontes das suas informações, pois um cara que se sentia bem informado, como eu, não tenho conhecimento das mesmas, exceto se as suas fontes forem as revistas VEJA, Isto é, Época, etc., que publicam quase todos os dias notícias falsas que, quando confrontadas com a verdade, publicam o dito por não dito em letras minúsculas, antes garrafais, na prévia dita reportagem “esclarecedora”. Também tenho publicado bastante, aqui mesmo neste site – PetroNotícias -, um dos poucos que publicam os lados antagônicos, sobre as falácias e engôdos publicadas pelo senhor Parente… Read more »

Jorge
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Jorge

Poderiamos usar o exemplo da Embraer e tantos outros para mostrar o quao mais eficiente a iniciativa privada, e com isso quantos empregos a mais do que o Estado se gere, mas mostro um outro pequeno exemplo de como, quando nao ha estado pra interferer, a industria naturalemente se desenvolve, moderniza e gera riqueza e empregos (chega a ser meio comico em 2017 ainda se preciar mostrar isso, mas vamos la, afinal o Brasil vive numa realidade 1800 e alguma coisa) no link abaixo sobre o porto de rio grande, privatizado:

http://www.portalmaritimo.com/2017/02/10/tecon-rio-grande-investe-us-40-milhoes-em-novos-equipamentos/

Felipe Coutinho
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Felipe Coutinho

Caro Jorge,
Recomendo o artigo no qual analiso o fracasso da gestão das multinacionais privadas do petróleo e as lições para a Petrobras:
https://felipecoutinho21.files.wordpress.com/2016/06/o-fracasso-das-iocs_por-felipe-em-jun16.pdf

Jorge
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Jorge
joão batista de assis pereira
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joão batista de assis pereira

Onde estava a AEPET enquanto a Petrobras estava sendo assaltada e vilipendiada pelos corruptos por força do aparelhamento políticos implantada pelo PT e base aliada…… Espero que o atual presidente da AEPET responda o que fizeram seus antecessores na época do Fernando Siqueira.

Felipe Coutinho
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Felipe Coutinho

Caro Joáo Batista,
Segue a resposta em atenção ao seu questionamento.
http://www.aepet.org.br/noticias/pagina/14188/Onde-estava-a-AEPET