CRESCE NO MUNDO O MERCADO DE OBRAS SUBTERRÂNEAS POR CAUSA DE PROJETOS DE GASODUTOS, OLEODUTOS E METRÔS | Petronotícias




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CRESCE NO MUNDO O MERCADO DE OBRAS SUBTERRÂNEAS POR CAUSA DE PROJETOS DE GASODUTOS, OLEODUTOS E METRÔS

cxcDurante três dias, as maiores empresas construtoras de obras subterrâneas estiveram reunidas em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, no maior e mais importante congresso mundial do setor. Pela primeira vez este encontro foi realizado no Oriente Médio. E por uma simples razão: a região é a que mais cresceu com este tipo de obra. Foram quase duas mil pessoas de  50 países, em função do crescimento deste mercado, principalmente pela demanda do setor de gasodutos na Ásia e no Oriente Médio.  A Associação Internacional de Tunelamento e Espaço Subterrâneo (ITA) é a principal organização internacional que promove a construção e o  uso de túneis e espaços subterrâneos por meio do compartilhamento de conhecimento e aplicação de tecnologias. Desde sua formação em 1974, o ITA encorajou o uso do subsolo e promoveu avanços no planejamento, projeto, construção, manutenção e segurança de túneis. O ITA é presidido por um brasileiro, o engenheiro Tarcísio Celestino, que conversou com o Petronotícias sobre este assunto. Ele confirma um mercado mundial muito diferente do Brasil, que cruza um momento de apatia nos investimentos em infraestrutura desde 2014 num cenário que ele considera como “vergonhoso”.

Internacionalmente, ele considera um mercado em plena expansão, como no oriente médio e Ásia. Em termos de projetos, ele cita um especialmente que está  andamento na China, com a construção de um túnel de 250 quilômetros, que usa uma tecnologia recente. Celestino ressalta que o setor de túneis tem avançado muito e lembra que a empresa brasileira Liderroll tem uma tecnologia reconhecida internacionalmente e que poderá participar de grandes projetos que estão em construção na China, Índia, Turcomenistão, Irã e na Jordânia. Obras que precisarão lançar dutos de grande porte por dentro de grandes montanhas.

– Como está o mercado mundial de construções subterrâneas ?

– Este ano, o congresso deu mostras desse crescimento.  O que atrai o público atualmente é o crescimento da demanda pela construção de obras subterrâneas. No passado, a ITA realizou um trabalho de pesquisa sobre construção de túneis, que hoje é da ordem de 100 bilhões de euros no mundo, e o que se constatou foi um crescimento de 7 % ao ano. É bem expressivo. A taxa de construção geral no mundo é de 3%.  Há efetivamente muitos projetos.  É  uma solução que será cada vez mais utilizada. 

– Há um interesse maior por parte dos governos ?

– É uma indicação da consciência de que a construção subterrânea é muito mais vantajosa em muitas situações. Por exemplo, a transposição para gasodutos, oleodutos, na infraestrutura de transporte. São grandes vantagens que as obras subterrâneas urbanas trazem. Esse crescimento anual gera uma demanda pelo congresso, apesar das logísticas diferentes que temos que ter em cada país em que ele é realizado, como foi em Dubai e no próximo ano, em Nápoles, na Itália.

– Há muitos projetos internacionais em andamento ?

SONY DSC– A China projeta atualmente um túnel com 250 km de extensão. Isso é inusitado e impensável se nós voltássemos a duas décadas atrás. Isso nem seria pensado. Nem seria possível. Há dois anos vimos a inauguração do Túnel de São Gotardo, na Suíça, com 57 quilômetros para transporte ferroviário. As dificuldades de projetos, incertezas geológicas, de logística em um túnel  de 250 km são imensas. No entanto, são superadas pelo desenvolvimento e uso de novas  tecnologias. E esse é apenas um exemplo. Há muitas outras tecnologias disponíveis como construir e como utilizar obras subterrâneas.

– O senhor conhece a tecnologia de lançamentos de dutos em túneis ?

– Claro. É uma tecnologia da Liderroll para instalação de dutos em  túneis. É uma tecnologia respeitada  internacionalmente, com grande mercado mundial neste momento por ter sido  bem sucedida. Ela é usada não apenas no Brasil,  mas também no exterior e é muito bem vinda porque a necessidade de dutos para transporte de fluídos em geral, seja óleo, gás,  é cada vez maior  e portanto é bem vinda. Países como Noruega que tem grande exploração de petróleo offshore, tem túneis para condução de gás e de  óleo trazidos dos campos  do Mar do Norte. Muitos túneis foram construídos. No Brasil espera-se que a exploração do pré-sal  venha a demonstrar uma grande demanda por soluções deste tipo, mas também em muitos outros países  isso também anda acontecendo.

 – Aumentaram as exigências do ponto de vista ambiental…

– Sem dúvida. Essa tecnologia brasileira já foi usada e vai ser usada cada vez mais. Como mencionei, a demanda por soluções é cadaggg vez maior.  No caso de dutos em encostas, eles estão sempre sujeitos à instabilidade das encostas com  potencial de risco elevado.  Por isso, as soluções subterrâneas são muito vantajosas nesses casos. Não só no caso de encostas, mas o fato dos custos dos projetos subterrâneos são menores e trazem muita economia para o uso de dutos no interior de túneis. Em situações como temos em São Paulo,  a Serra do Mar sendo uma barreira geográfica e, em muitos casos, uma barreira ambiental já que áreas de preservação ambiental são extensas na Serra do Mar e não se permite mais intervenções  de obras civis  nestas áreas preservadas, não há outra solução que não sejam as obras subterrâneas.

– Quando será o próximo congresso mundial?

– Nossa expectativa é que o congresso de 2019 seja ainda maior. Será em Nápoles, na Itália. Mas nós temos reuniões mensais. Em novembro deste ano teremos a competição mundial de túneis. Há nove categorias. Uma delas é o uso de inovação no espaço subterrâneo. Eu até  gostaria de ver algum projeto de colocação de dutos dentro de túnel submetido ao nosso comitê. Há muitas outras categorias: inovação tecnológicas, de segurança,  vantagens ambientais e algumas outras. Esse evento tem sido um sucesso. O próximo vai ocorrer  na China. As inscrições já estão abertas.

– Como estão as perspectivas de novos negócios ?

– As perspectivas de negócios no mundo são muito boas. Pela primeira vez, o congresso mundial foi organizado no Oriente Médio.  Há dez, vinte anos, a região nem aparecia no mapa de negócios. Hoje já aparece como um mercado expressivo e a ser considerado. Ele  sofreu um crescimento de 300%  em apenas três anos. Isso é muito expressivo. Muitas obras são nos Emirados Árabes, mas há também no Catar, o metrô de Doha, uma obra bastante significativa. O Irã é o campeão na região, não só com obras de infraestrutura de transporte, mas  também com túneis de irrigação. Mas não é só. A China detém  50% do mercado de túneis. Atualmente, é a líder mundial, mas não vai continuar por muito tempo. Em cerca de dez anos, a Índia vai passar a China. A Índia tem uma situação  econômica  parecida com o Brasil e ainda com problemas muito maiores do que os nossos. Uma  população muito maior e ainda assim  está investindo pesadamente em infraestrutura  e, como falei,  será a líder mundial no mercado  de construção de túneis.  O significativo  no Oriente Médio não é apenas o número de obras que se mede o progresso. É também pela qualidade. Ano passado, na cerimônia de premiação do melhor projeto mundial, em Paris, o prêmio mais expressivo, para obras acima de 500 milhões de Euros, foi concedido auma obra do Oriente Médio, o metrô de Doha.

– E no Brasil, como está o mercado ?

– No Brasil, infelizmente as coisas não vão bem. Todos nós sabemos. Há uma  grande estagnação da infraestrutura. Mesmo antes dddessa crise de agora,  a condição sempre foi relegada a um segundo plano em relação ao tamanho da nossa economia.  Eu vou dar dados do Fórum Econômico Mundial: enquanto o Brasil é a oitava ou nona economia mundial, o nosso país ocupa a posição 130º na classificação  de infraestrutura neste fórum. Uma discrepância muito grande. Resultado do grande descaso  de governos. E não é só deste que está aí não. É também dos anteriores que não se importaram com a infraestrutura. O chamado Custo Brasil, todos nós padecemos dele. Tudo isso só pode ser superado com investimentos pesados, o que não tem ocorrido há muitas décadas. O resultado é esse.

– Com a crise atual os investimentos quase desapareceram…

– Agora, além de agravar essa situação desde 2014, o resultado é que o nosso mercado de obras subterrâneas é ínfimo. É ridículo,  se comparado a países muito mais singelos do que nós. Nós pagamos o preço de tudo isso. O Brasil, na safra passada teve perdas enormes.  Milhões de toneladas de  soja  foram transportadas em caminhão, outro grande erro. Ao invés de ser transportada sobre trilhos, vão de caminhão que atolavam nas péssimas estradas de terra. Isso é impensável. Mas, infelizmente, é a situação que nos encontramos. O despertar para o problema é o que esperamos que aconteça.  Acompanho o crescimento da produção de óleo e gás do pré-sal e isso tem que vir acompanhando  de uma maior demanda para túneis de transporte de petróleo e gás, em oleodutos e gasodutos. Mas isso nós estamos esperando por necessidade. Não é a toa  que a China, antes de 2050, será a maior economia do mundo,  passando os Estados Unidos. Ela vai chegar nesta posição, entre outras coisas,  pelo maciço investimento em infraestrutura. Nós precisamos muito desses investimentos. Nossa situação, não tem outro termo, é vergonhosa.

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Pedro Cavalheiro
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Pedro Cavalheiro

Parabens Dr Tarcisio pela entrevista esclarecedora! Precisamos de engenheiros preparados como voce!

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