TRADENER DEFENDE ABERTURA DO MERCADO LIVRE E DIVERSIFICAÇÃO DA MATRIZ PARA REDUÇÃO DA CONTA DE LUZ
O Brasil está completando, em outubro, o quinto mês seguido com as contas de luz levando a bandeira vermelha, o que representa uma cobrança extra de R$ 5 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Diante deste cenário onde o brasileiro está pagando muito mais por um insumo fundamental no cotidiano, membros do setor elétrico apontam alternativas para baixar os preços da energia do país. Um dos caminhos para isso, na visão do presidente da Tradener, Walfrido Avila, é a diversificação da nossa matriz energética, incluindo não apenas usinas eólicas e solares, mas também pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). “O Brasil precisa olhar com mais atenção para a sua matriz energética. Não adianta construir apenas usinas solares ou eólicas. É preciso diversificação. Identificar o quanto de PCHs podemos fazer para que a nossa média [de preço] abaixe no futuro”, afirmou. O executivo aponta ainda que a abertura do mercado livre de comercialização de energia para todos os consumidores como outra medida que reduzirá o valor da energia. Ele também comenta a postura que a Tradener vem adotando dentro desse segmento. “Cada vez mais, nós temos uma prioridade de atender os consumidores do mercado livre, comprando energia a longo prazo para vender também a longo prazo, fazendo uma agregação do mercado”, concluiu.
O senhor poderia começar comentando sobre o atual momento das tarifas de energia no Brasil, do déficit hídrico e do acionamento das térmicas.
Nós estamos em um sistema onde não há mais reservatórios. Não podemos esquecer que o Brasil optou por não fazer reservatórios. O país optou por fazer mais térmicas, eólicas e solar. Os nossos reservatórios aguentavam o sistema por 5 anos. Agora, esse período é de 4 meses. Então, após usar o nosso reservatório, tivemos que ligar as térmicas e usar da energia das eólicas para complementar. Por isso o Brasil está adotando as bandeiras amarela e vermelha nas contas de luz.
Qual implicação dessa decisão em relação aos reservatórios?
Só que quando fizemos isso, diminuindo o prazo dos nossos reservatórios de 5 anos para 4 meses, as hidráulicas geram mais quando o PLD (Preço de liquidação de diferenças) está baixo. Quando o PLD está mais alto, elas geram menos. Isso prejudica as hidráulicas. Essa regra servia no passado, mas não serve mais. O Brasil ainda não mudou essa regra. Isso está deixando a nossa CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) parada, porque a dívida dos geradores hidráulicos está muito grande. Porque as hidráulicas não conseguem gerar porque o GSF* (risco hidrológico) está muito baixo. Com a expansão que teremos para frente, com a eólica, a solar e as térmicas, teremos um problema de falta de água para complementar essas fontes.
Qual a alternativa para fugirmos dessa cenário?
A alternativa seria fazer a complementação de eólica e de térmicas sempre com as hidráulicas, seria possível abaixar a média do preço [da energia]. Precisamos de mais reservatórios e mais usinas hidráulicas. Só que há um porém. Uma usina hidráulica não é feita no mesmo período que uma solar ou eólica. Ela demanda mais tempo. Mas, no final, sai mais barato, porque a hidrelétrica dura 100 anos e a solar fica em torno de 20 anos. Fazer as hidráulicas no lugar certo, na maneira certa, sem encarecimento das obras.
O caminho, então, é a diversificação?
O Brasil precisa olhar com mais atenção para a sua matriz energética. Não adianta construir apenas usinas solares ou eólicas. É preciso diversificação. Identificar o quanto de PCHs podemos fazer para que a nossa média baixe no futuro. Isso é importante. Fazer um estudo global da matriz energética para atender o setor elétrico e outros setores também.
Além da diversificação energética, que outro passo poderia ser dado no sentido de baixar os custos com energia?
Eu espero pela abertura do mercado livre a todos os consumidores. E lhe digo que não há nenhuma dificuldade para isto. Quando isto for decido, não teremos consequências graves, o mercado vai se acomodar naturalmente para que, na sequência, tudo esteja livre. A partir de então, o preço será ajustado, não teremos mais a questão das bandeiras tarifárias. Nenhum consumidor do mercado livre paga bandeiras. Os nossos consumidores não sofrem com variação de preço. Durante o contrato, o preço não muda.
Como a Tradener planeja atuar dentro do mercado livre de energia?
Cada vez mais, nós temos uma prioridade de atender os consumidores do mercado livre, comprando energia a longo prazo para vender também a longo prazo, fazendo uma agregação do mercado. Compramos energia das mais diversas fontes para juntá-las e vender ao consumidor na sua curva de carga de consumo. Com essa diversificação, conseguimos atender a todos. Estamos nos especializando cada dia mais nisso. Temos feito esse crescimento paulatinamente, com bastante consciência de que o consumidor não pode ficar sem energia. Depois de 20 anos de mercado, vemos que essa é nossa missão: baratear o máximo o insumo energia elétrica para o consumidor.
Por fim, como avalia a questão da privatização da Eletrobrás?
Eu acho que deve ser feita de forma pulverizada. Não podemos sair de um monopólio estatal para um monopólio privado. Cada usina deveria ser vendida para um grupo diferente. Desta forma, teremos distribuição de riqueza. Então, temos nas mãos a possibilidade de fazer uma grande privatização correta, diversificando as empresas. Isso aumentaria a concorrência e a geração de empregos.
* GSF corresponde à relação entre o volume de energia gerado pelas usinas e a garantia física total delas. Caso o volume elétrico realmente gerado seja menor do que a garantia física, as hidrelétricas têm que pagar a diferença.
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