ABDAN DEFENDE USO DE IRRADIAÇÃO EM ALIMENTOS VISANDO ABRIR NOVOS MERCADOS PARA A AGRICULTURA BRASILEIRA
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Brasil já é uma potência agrícola, mas pode aumentar ainda mais sua força nesse mercado com o uso da irradiação para preservação de alimentos. É o que defende a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN). O presidente da entidade, Celso Cunha, ressalta alguns dados interessantes que corroboram com a tese de que o país precisa dar mais importância a este tema. “Só para termos uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que, anualmente, 2 milhões pessoas morrem por questões ligadas aos alimentos ou à água. Outro dado importante: nos Estados Unidos, um a cada seis americanos fica doente por conta de alimentos”, alertou. Além do aspecto da saúde, o setor agrícola pode alcançar novos consumidores a partir do maior utilização da tecnologia nuclear. “No Rio Grande do Norte existe uma grande produção de melão. E o mercado asiático quer comprar este produto, porém, eles só aceitam alimentos irradiados. Imagina o volume que poderíamos estar exportando para aquela região”, afirmou. A ABDAN é uma das apoiadoras de um simpósio que acontecerá em outubro, no Paraná, organizado pela Sociedade Brasileira de Proteção Radiológica (SBPR) e que abordará como crescer o uso da irradiação para proteção alimentar no país.
Queria ouvir a sua opinião sobre a importância do Brasil discutir a preservação de alimentos por irradiação.
Atualmente, um terço de todo o alimento produzido no mundo é perdido ou desperdiçado pelos mais diversos motivos. A Cúpula Mundial de Alimentação de 1996 tratou da segurança alimentar. A previsão é que a população mundial chegue a 9,6 bilhões de habitantes em 2050. E também não podemos ignorar a questão da mudança climática. Esses dados e informações servem para contextualizar a importância da conversação de alimentos.
A importância de se discutir isso é que muitas doenças são transmitidas pelos alimentos e pela água. Só para termos uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que, anualmente, 2 milhões pessoas morrem por questões ligadas a alimento ou água. Outro dado importante: nos Estados Unidos, um a cada seis americanos fica doente com por conta de alimentos. Um total de 128 mil são hospitalizados e 3 mil morrem por ano apenas por doenças transmitidas por alimentos, segundo dados do Centers for Disease Control and Prevention [agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos].
Outro evento bem interessante é a contaminação microbiana de muitos ingredientes, como ervas secas, especiarias, condimentos e vegetais desidratados. Isso acontece em números alarmantes.
E quais são os números do Brasil em relação a problemas com alimentos?
No Brasil, se estima que são 400 mil casos de intoxicação alimentar por ano, de acordo com informações da Vigilância Sanitária. Quando olhamos para esses números assustadores, passamos a refletir sobre a importância de conservar os alimentos.
Como ampliar o uso da irradiação no Brasil para proteção de alimentos?
O primeiro ponto é construir os irradiadores no Brasil. As pessoas ainda têm muitas dúvidas sobre o tema, mas a irradiação de alimento só traz vantagens, quando operada nas doses limites estabelecidas. Ou seja, ela não altera a temperatura, destrói microrganismos, prolonga o prazo de validade do alimento, previne brotamento, impede a reprodução de insetos, trata produtos embalados e você não usa produtos químicos. Usada nas doses corretas, a irradiação de alimentos não afeta os humanos. Isso já é algo consagrado e comprovado.
Como tem sido a experiência internacional no uso da irradiação para proteção de alimentos?
Para se ter ideia, em 2006, a China processava 150 mil toneladas de alimentos irradiados. Em 2012, esse número passou de 765 mil toneladas. Então, dá para imaginar o tamanho desse mercado. O Brasil é um grande produtor de alimentos e exporta muito para os mercados europeu, americano e oriental (este último que só aceita alimentos irradiados). E tudo isto é amplamente respaldado por normas internacionais. O Brasil também já tem suas normas sobre irradiação desde 1973.
Quais são as principais vantagens ao expandir o uso de irradiação no país?
No contexto atual e futuro, você pode reduzir o desperdício de alimentos, aumentar a segurança alimentar, aumentar o prazo de validade dos produtos, além de evitar o uso de agrotóxicos. É um setor muito importante, que no Brasil ainda está engatinhando. Por isso, nós da ABDAN vamos apoiar o evento da SBPR. Somos entidades complementares e temos que apoiar este tipo de movimentação.
Duas empresas associadas à ABDAN estão patrocinando o evento – a Rosatom e a Framatome, pois têm interesse nesse mercado. Também existe o interesse na própria região onde o evento será realizado, em Maringá, em construir um irradiador. Olhamos isso como um processo que precisa ser acelerado, porque ganharemos um volume de mercado monstruoso.
No Rio Grande do Norte existe uma grande produção de melão. E o mercado asiático quer comprar este produto, porém, como eu disse, eles só aceitam alimentos irradiados. Imagina o volume que poderíamos estar exportando para lá. É algo monstruoso.
E quais são as perspectivas futuras em relação a este setor?
A ABDAN já teve uma primeira conversa com o Gabinete de Segurança Institucional. Já tivemos conversas com o Ministério da Agricultura. Teve um seminário em Brasília onde abordamos o uso da tecnologia nuclear para fins sociais. Nossa expectativa é que isso avance. Existe um projeto de lei tramitando no Congresso que pode dar flexibilidade para a iniciativa privada poder investir mais nesse segmento. Ou seja, vemos com muito bons olhos.
A ABDAN trabalha no sentido de gerar negócios. Vamos ajudar em tudo que pudermos fazer para fazer o setor nuclear a gerar negócios.
[…] Link Original […]