ESPECIALISTA ALERTA PARA POSSÍVEIS NOVOS RISCOS POR CONTA DO DESTINO DE RESÍDUOS DE ÓLEO DO NORDESTE
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A situação do litoral de Nordeste ainda é preocupante, com 166 localidades afetadas pelas manchas de óleo que castigam o litoral do país desde o início de setembro. Até o momento, a conta aponta para mais de 200 toneladas já recolhidas das praias – número que pode ficar maior na medida em que o óleo continua chegando à costa. O cenário é triste, mas para o setor de óleo e gás, e o país de modo geral, é uma oportunidade de rever os procedimentos para combater este tipo de situação, conforme afirma o oceanógrafo Jackson Krauspenhar, especialista em derramamento de óleo da empresa Sprink. “São mais de 200 toneladas retiradas das praias. Temos que tentar rastrear para onde está indo esse resíduo, pois podemos causar danos maiores em alguns locais, dentro do continente”, alertou. Krauspenhar diz que se esse material for guardado de maneira inapropriada, o Brasil terá problemas maiores, como a contaminação de lençóis freáticos. “Não sabemos onde isso está sendo colocado. Parece que são as prefeituras que estão cuidando disso. E as prefeituras não têm a capacidade e o conhecimento para isso”, disse. O especialista também comenta sobre o fato de o Brasil não ter um plano de contingência nacional em operação e ainda revela preocupação sobre como refinarias e portos, hoje, não estão preparados para lidar com eficiência em situações de vazamentos como o do Nordeste. “Geralmente, os portos estão em baías, porque precisam de águas abrigáveis, onde acontece a maior produtividade dos oceanos. Se o óleo vazar nessa região, as consequências serão muito mais desastrosas”, concluiu.
O senhor pode nos dizer, em sua opinião, sobre as possíveis causas deste desastre ambiental?
Por ser oceanógrafo, eu entendo as correntes marinhas e o comportamento de óleo na água. Pelo que temos de notícia, os primeiros toques do óleo na praia ocorreram próximo ao Rio Grande do Norte. Se a fonte do vazamento fosse no litoral da região do Caribe, onde está a Venezuela, o óleo teria tido outro comportamento de toque e teria chegado primeiro aos estados mais ao oeste e, por último, chegaria à Bahia.
No ponto mais extremo do Brasil, no Rio Grande do Norte, existe o início da Corrente do Brasil, que desce o litoral do país no sentido Norte-Sul. Essa corrente trouxe óleo até a Bahia. Naquela região do Rio Grande do Norte existe também uma bifurcação: uma parte da corrente desce e outra segue em direção ao oeste, levando o óleo em direção ao Maranhão.
É delicado afirmar isso, mas uma hipótese é a de algum navio transportando óleo da Venezuela para outra região. É importante dizer que não teria como a tripulação do navio não ver essa enorme quantidade de óleo. Esse navio pode ter sofrido alguma avaria muito grave e, para evitar o afundamento, despejou o óleo no mar para aliviar o peso e continuar navegando. Esta é uma hipótese bem plausível. Como existem esses embargos na Venezuela, o país pode estar vendendo óleo no mercado negro.
Existe outra hipótese, já que está acontecendo uma coisa atípica com esse óleo: quase não vemos manchas na superfície. Parece que esse óleo pode estar com uma densidade próxima a da densidade da água. Ele deriva à meia água (dentro da coluna d’água) ou próximo ao fundo, onde tem maior densidade devido à temperatura da água. Outro ponto que se notou é o mau cheiro do óleo. Em alguns locais, esse cheiro era muito forte. Esses dois indícios, somados à densidade do óleo que chegou à praia, apontam para um antigo naufrágio. O óleo está gotejando para fora do casco, por alguma ruptura. Como o naufrágio pode ter ocorrido em águas muito profundas, as gotículas de óleo vão se expandindo e aumentando de volume. As gotículas de óleo a 1000 metros de profundidade são gotinhas do tamanho de uma bola de tênis. Quando atingem a superfície, ficam do tamanho de um campo de futebol, devido ao aliviamento da pressão.
Quais serão as principais consequências para o ambiente marinho?
Se esse óleo estiver derivando próximo ao fundo, ele pode estar se agregando próximo a sedimentos (areia, lama). Isso aumenta mais o seu peso, que acaba se depositando no fundo marinho. Quando o óleo se deposita no fundo marinho, ele perde muitas de suas partes por dissolução, o que torna a água tóxica. Isso mata organismos e entra na cadeia trófica, causando bioacumulação em peixes e crustáceos.
Isso pode ocorrer não só no óleo no fundo do mar, como também no óleo que chegou à praia e ficou na arrebentação (região onde as ondas “quebram”), sendo dissolvido e emulsionado. Não conseguimos descobrir agora o tamanho dessa solubilização na água e quais os componentes que solubilizaram na água. É algo que vai levar certo tempo.
Geralmente, quando acontece algum vazamento de óleo, vemos o primeiro impacto, que é o visual. Não podemos falar agora se o impacto no ambiente marinho será grave ou não. Porque o foco agora é tentar descobrir a fonte.
Como lidar com esse material retirado da praia?
São mais de 200 toneladas retiradas das praias. Temos que tentar rastrear para onde está indo esse resíduo, pois podemos causar danos maiores em alguns locais, dentro do continente.
O ideal é o uso de biorremediadores. Ou seja, produtos que conseguem degradar rapidamente o óleo na areia da praia. É preciso limpar essa areia para ser colocada novamente no meio ambiente. São muitos resíduos gerados e caso não tenham um destino correto, podemos montar outra “bomba relógio”. Se guardarmos essas 200 toneladas de maneira inapropriada ou irresponsável, podemos gerar a contaminação do lençol freático. Não sabemos onde isso está sendo colocado. Parece que são as prefeituras que estão cuidando disso. E as prefeituras não têm a capacidade e o conhecimento para isso.
Como deve ser realizado o procedimento de retirada desse óleo?
Infelizmente, nas condições desse óleo, a melhor maneira é com enxada e pá, tentando retirar o mínimo de areia da praia, fazendo raspagens delicadas. As equipes precisam ser especializadas. Não pode a prefeitura mandar garis para limpar esse óleo. Precisa ter ao menos uma supervisão de um especialista. O órgão ambiental precisa tentar fazer vistorias e ver o destino do resíduo.
Do governo e da Petrobrás, o que se espera é a resposta à emergência. Que continue dando respostas a esse vazamento, tentando descobrir a fonte. A grande força-tarefa do governo é achar a fonte desse óleo, até mesmo para cobrar o pagamento das ações que estão sendo feitas.
Como o país deve se preparar para um eventual novo incidente deste tipo?
A melhor ferramenta é a prevenção. Eu trabalho com emergência ambiental e vazamentos de óleo. Tudo o que temos de tecnologia, recursos, treinamentos e equipes, fica quase de mãos atadas perante a um grande vazamento. Conseguimos remediar, mas o estrago sempre é muito grande. Enquanto não se recolhe todo o óleo, o estrago é muito grande.
Este é um tema importante, já que o país deve aumentar consideravelmente a sua produção com o advento do pré-sal…
Não é só a exploração do pré-sal. Essa é uma preocupação também nos portos brasileiros ou em locais onde se manuseia combustível fóssil. Existe no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) uma resolução que exige, desde 2008, que as empresas possuam um plano de emergência. Dentro desse plano de emergência, devem estar as estratégias e recursos de resposta em caso de vazamento. Esse assunto está sendo tratado com uma certa irresponsabilidade pelas empresas que elaboram os planos de emergência e pelos portos.
O óleo do pré-sal vai chegar à costa. As consequências de um vazamento próximo da costa são muito maiores do que o de um vazamento em alto mar. Geralmente, os portos estão em baías, porque precisam de águas abrigáveis, onde acontece a maior produtividade dos oceanos. Se o óleo vazar nessa região, as consequências serão muito mais desastrosas. Temos que aproveitar esse momento e tirar algo positivo dele, fazendo uma reflexão sobre a nossa real condição de resposta para vazamentos.
O que faltou ao país no controle e combate desta situação?
O governo não tem equipamento e recursos para dar combate ao óleo. A única empresa que tem esses equipamentos estrategicamente distribuídos é a Petrobrás, que demorou a entrar em ação, até porque não era dona do problema. Quem estava desde 2 de setembro atuando era o Ibama, identificando o problema, sem ter o que fazer. O Ibama não tem recursos para dar combate a este tipo de emergência.
O plano de contingência nacional foi escrito na década passada e nunca foi colocado em prática. Se o Brasil tivesse um plano de contingência operacional, com certeza já estaríamos desde o começo atuando nessa resposta à emergência. O governo pegou a situação sem um plano de contingência, que era para ter sido feito pelo governo anterior. O governo atual não tem culpa, neste momento, de não ter recursos [para conter o vazamento].
Entidades como ONGs podem contribuir de alguma forma nos trabalhos de limpeza?
As ONGs conseguem auxiliar no resgate da fauna. Não existem ONGs no Brasil com recursos para dar respostas para vazamentos de óleo. Só existem empresas que fazem isso. Agora, resgate de fauna e tentativa de reabilitação de fauna seria o papel delas neste momento. Além disso, podem auxiliar as comunidades pesqueiras.
NOVOS RISCOS CERTO?
Foi corrigido.
Grato pela mensagem.
A Redação.
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Estes óleos poderiam ter como destino as fábricas de cerâmica vermelha para serem colocadas na mistura de argila substituindo a água utilizada em até 20 por cento. Como as argilas para tijolos e telhas serão queimadas em uma temperatura de 900 graus celsius as emissões seriam mínimas. E haveria a economia do consumo de água !