ANTONIO MULLER SE DESPEDE DO CONSELHO DA ABDAN E DEIXA LEGADO PARA O SETOR NUCLEAR
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A história de Antonio Muller (foto) anda pari passu com a trajetória do setor nuclear brasileiro. Sua caminhada nesta indústria começou ainda nos anos 1960, quando ajudou o segmento a dar seus primeiros e decisivos passos. Muller participou do desenvolvimento de Angra 1, trabalhando na especificação e edital para escolha do fornecedor da usina. Também esteve presente na implantação de Angra 2 e 3 durante o período em que atuava como executivo de Furnas. Já possuía um currículo impecável a essa altura, quando em março de 2007, aceitou um novo desafio: assumir a presidência da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan). A missão não era simples. Estava em suas mãos a responsabilidade de dar uma nova dimensão à entidade, que na época ainda possuía uma estrutura muito pequena. Ele liderou a Abdan durante uma década, até 2017, deixando um legado extremamente positivo para a associação e, claro, para o setor. Um trabalho que recebe reconhecimento até os dias de hoje. “O sentimento nesse momento é de agradecimento. A gestão de Antonio Muller trouxe um novo patamar e todos nós, membros da Abdan, somos muitos gratos por todo o seu trabalho e esforço em prol do fortalecimento da nossa associação. Em nome da Abdan, queremos deixar nosso reconhecimento pelo seu empenho”, declarou o atual presidente da entidade, Celso Cunha. No início deste ano, Muller decidiu sair do conselho da associação. Nesta entrevista especial ao Petronotícias, ele relembra como foi sua chegada à Abdan, conta um pouco do desenvolvimento da energia nuclear no Brasil e diz também que continua disposto a contribuir com a indústria: “Hoje, a Abdan tem um reconhecimento mundial e é muito respeitada no setor. Eu me orgulho muito de ter contribuído com isso. E estarei à disposição para contribuir sempre que for necessário”, declarou.
Gostaria que o senhor começasse nossa entrevista relembrando um pouco de como foi sua chegada à presidência da associação.
Em 2007, quando fui eleito para ser presidente, juntamente com o Ronaldo Fabrício como vice-presidente, a Abdan ainda era muito pequena. Ocupava uma sala na Rua da Ajuda [no Centro do Rio de Janeiro]. A associação não tinha presença no Brasil e também no exterior. Então, o nosso objetivo era fazer da Abdan mais conhecida. E o primeiro passo foi a mudança de nossa sede. Depois, começamos um trabalho com os poucos sócios que tínhamos naquela altura. Logo que a associação ficou um pouco mais conhecida e ganhou mais força, começamos a trabalhar para dar presença internacional à Abdan, já que a energia nuclear é internacional.
Então, começamos a fazer palestras no Brasil e também no exterior. Durante os 10 anos em que estive na presidência da associação, fizemos sete palestras por ano, em média. Esses eventos foram realizados em diversos estados do Brasil e também em países como França, Inglaterra, Rússia e Argentina. Assim, a Abdan se tornou conhecida. O próximo passo dado foi o estabelecimento de uma parceria forte com a World Nuclear Association (WNA). Tivemos várias reuniões e conseguimos uma abertura para fazer da Abdan uma sócia da WNA, que é uma organização mundial muito importante.
Nesse mesmo movimento, começamos a parceria com o World Nuclear University (WNU). A partir desse acordo, treinamos mais de 800 pessoas no Brasil. A Abdan passou a ser convidada para fazer mais palestras no exterior. Fomos também convidados para participar de dois grupos da WNA. Um deles era o Nuclear Power Plant Supply Chain e o outro era o Lessons Learned in Nuclear Construction Project.
O senhor poderia detalhar um pouco mais sobre o trabalho feito para aumentar o reconhecimento da Abdan dentro do Brasil?
Como eu lhe disse, a Abdan tinha uma participação muito tímida dentro do país. Então, começamos a participar de eventos no setor elétrico. Nesses eventos, começamos a mostrar o que era a associação e a energia nuclear. Fizemos, no mínimo, apresentações em 10 estados brasileiros. Com isso, começamos a trazer mais sócios. Depois disso, passamos a ter mais visibilidade e força. Ao mesmo tempo, essa importante parceria com a WNU também trouxe muita visibilidade para a Abdan. Assim, fomos crescendo. Quando se decidiu que o Brasil faria novas usinas nucleares no Nordeste, fizemos várias apresentações naquela região. Isso trouxe ainda mais visibilidade para a associação, fora o relacionamento que temos com entidades nos Estados Unidos, França, Inglaterra, Espanha. Por causa disso, a Abdan começou a ser convidada a fazer mais palestras no Brasil e no exterior.
Como surgiu a decisão de deixar o conselho da Abdan?
Essa decisão que tomei, de a partir de março não participar do próximo conselho, é porque existem vários jovens brilhantes que podem participar tanto da diretoria quanto do conselho da Abdan. Uma função nossa é abrir espaço e apoiar esses jovens no que for necessário. E capacitação existe nesse país. Estou à disposição de todos da comunidade nuclear para contribuir no que for necessário.
Qual o sentimento que o senhor tem ao relembrar do período como presidente da associação?
Hoje, a Abdan tem um reconhecimento mundial e é muito respeitada no setor. Eu me orgulho muito de ter contribuído com isso. E estarei sempre à disposição para contribuir sempre que for necessário.
Tenho muita satisfação de ter participado, nesses dez anos, como presidente da Abdan, com o apoio das empresas e de profissionais de alta competência. Tenho orgulho de ter participado disso. E estou sempre à disposição para ajudar no que for necessário para a Abdan e para a comunidade nuclear.
Quais foram os principais avanços que o senhor presenciou no setor nuclear enquanto esteve à frente da Abdan?
Quando foi feito o acordo nuclear Brasil-Alemanhã [assinado em 1975], houve um avanço muito grande. Mas, depois de alguns anos, o setor vivenciou uma parada. Nesse sentido, a Abdan contribuiu muito para mostrar a necessidade que temos de energia nuclear. O papel da Abdan nesse período em que não se tocava muito no assunto nuclear era manter a chama acesa. Foi um trabalho muito forte de todos que estavam na Abdan. O mérito é de todos que participaram desse período. Como essa chama não se apagou, hoje a fonte nuclear se colocou como tema importante no país. Vamos passar para um período de grandes projetos de médio e grande porte no Brasil.
Aproveitando que o senhor mencionou sobre os próximos passos da energia nuclear no Brasil, gostaria que o senhor comentasse como enxerga o futuro do segmento no país.
Para o setor avançar, é preciso resolver a questão de Angra 3. Com o recomeço das obras da usina, teremos uma sequência de outras plantas. Hoje, o Brasil é o sétimo país em urânio. Se o Brasil passar a ter mais prospecção, ele pode ter mais urânio, produzir yellow cake e exporta-lo para financiar o que for necessário para enriquecimento. O Brasil domina o ciclo de fabricação do combustível – e isso é muito importante. O país também tem capacidade de fazer usinas nucleares, ainda que com a participação de fornecedores de fora. Temos conhecimento em reatores de pequeno porte. Com isso tudo, o Brasil tem um leque pronto para o desenvolvimento de energia nuclear e geração de energia elétrica. O que precisamos é de uma decisão de terminar Angra 3 e começar os próximos passos para construir novas usinas.
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