RESTRIÇÕES DE LOCOMOÇÃO VÃO IMPOR MAIORES DESAFIOS PARA A PRODUÇÃO OFFSHORE DE ÓLEO E GÁS | Petronotícias




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RESTRIÇÕES DE LOCOMOÇÃO VÃO IMPOR MAIORES DESAFIOS PARA A PRODUÇÃO OFFSHORE DE ÓLEO E GÁS

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

adyrEstamos em uma semana decisiva para o país. É hora de todos se unirem para vencer um adversário comum: o coronavírus. E os próximos dias serão cruciais para conter o avanço da pandemia. Falando do setor de óleo e gás, essa soma de forças para derrotar a doença é necessária também para manter o abastecimento do mercado e, principalmente, garantir a saúde de funcionários envolvidos no segmento. Mas os desafios existem. Para o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro), Adyr Tourinho, as limitações de deslocamento trazem dificuldades para manter a operação em estado de normalidade. Ele cita o exemplo dos FPSOs, que possuem um efetivo de profissionais estrangeiros. Com a recente restrição de entrada de pessoas de fora do país, isso pode gerar problemas nas escalas das plataformas. “Nesse caso, é preciso repensar o sistema de escala de trabalho. Se não houver uma flexibilização nesse momento, o impacto vai acontecer”, alertou. Felizmente, o entrevistado diz que já está ocorrendo um diálogo no sentido de equacionar essa questão. Tourinho também lembra que estamos vivendo um pandemia e que “é inevitável” que os casos apareçam até mesmo no ambiente offshore. Porém, o presidente da ABESPetro diz que o momento dispensa pânico: “O que estamos fazendo é mitigando para que isso não aconteça ou que, no caso de acontecer, possamos ter controle e evitar uma propagação maior”.

Como a ABESPetro tem se movimentado nesse momento difícil para o setor para ajudar suas associadas?

A prioridade de todas as associadas é a integridade das pessoas, garantindo a proteção de todos. Vamos tentar tomar ações para prevenir e mitigar problemas que eventualmente possamos ter com as operações. Estamos tentando antecipar problemas que podem surgir e propor ações para mitigar esses eventuais problemas.

A ABESPetro tem comitês que não estão se reunindo presencialmente, mas estão mantendo comunicações virtuais. Esses comitês possuem representantes das empresas associadas e nos trazem as preocupações, que são debatidas. Depois, algumas soluções são propostas que são encaminhadas ao nosso secretário executivo, Gilson Coelho. Ele, por sua vez, avalia se é o caso de levar a questão para a diretoria para tomarmos uma ação como associação.

Cada empresa tem seu plano de emergência e está tomando as ações referentes às suas operações e pessoas. Agora, quando existe um assunto que trata da indústria como um todo, as associadas trazem esses temas por meio dos comitês. Essa é a governança que temos. A diretoria continua em contato entre nós. Temos um canal de comunicação contínuo entre nós.

O que foi efetivamente feito até agora?

Já encaminhamos, por exemplo, uma comunicação à Petrobrás com algumas recomendações para mitigação de problemas de escala de serviços a bordo, pelas dificuldades que estão sendo impostas na locomoção. Estamos em contato com o Ministério Público do Trabalho (MPT) também. Somos consultados por várias entidades governamentais para escutar a opinião da associação. A ABESPetro se posiciona no sentido de antecipar e mitigar problemas. Estamos trabalhando de forma colaborativa.

Também fomos convidados a participar do comitê de crise do IBP [Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis]. A função da ABESPetro nesse momento é de advisor. Estamos trazendo as preocupações que temos para manter a operação, acionando os órgãos que podem tomar as ações necessárias. Não tomamos decisões em relação a decretos. Mas somos consultados ou sugerimos, proativamente, algumas coisas que podem mitigar riscos futuros.

A ABESPetro tem demonstrado preocupação em relação a informações inconsistentes que estão sendo vinculadas a respeito do coronavírus. Gostaria que o senhor comentasse sobre isso.

e63a1a9c1a31622caabe19d60e66aabeComeçamos a ver circular notícias de que teria sido constatado um caso positivo em uma plataforma ou embarcação, quando ainda não há evidências ou confirmação. O que acontece, muitas vezes, são medidas preventivas que são tomadas porque alguns funcionários da operadora ou terceirizada apresentaram sintomas. E para evitar exposição de risco, foi recomendado que essas pessoas saíssem do ambiente offshore. São serviços essenciais que precisam ser mantidos. Então, todos nós temos uma responsabilidade muito grande sobre o que comunicamos. Esse é um ponto muito importante, até para tranquilizar os familiares das pessoas. 

Na quinta (19), tive que comentar uma eventual paralisação de plataforma de produção. Não é verdade. Não houve nenhuma plataforma de produção, dentro do nosso conhecimento, que teve de ser paralisada. Houve sim casos suspeitos de pessoas que apresentaram alguns sintomas e que, por medida de segurança, foram retiradas da plataforma. Então, propagar notícias de que há caso confirmado e produção paralisada só gera pânico e não adiciona nada ao momento que estamos vivendo.

Atualmente, quais são os riscos reais para as empresas e trabalhadores durante essa pandemia?

A denominação de uma pandemia significa que você já não tem uma área restrita para a circulação do vírus. Nesse momento, o vírus é transmitido de uma pessoa para outra em diferentes locações. Então, é uma questão de tempo para que se tenha casos confirmados até mesmo no offshore. É inevitável. O que estamos fazendo é mitigando para que isso não aconteça ou que, no caso de acontecer, possamos ter controle e evitar uma propagação maior.

Cada vez que são impostas medidas restritivas maiores, começam a aparecer dificuldades para manter a operação em estado de normalidade. Um exemplo: algumas embarcações de apoio e FPSOs trabalham com um efetivo de pessoas estrangeiras. Em algumas delas, esse efetivo chega até a 20%. Hoje, já existem restrições para estrangeiros entrarem no país, além de restrições de voos internacionais e locomoção entre as cidades. Quando você começa a ter essas restrições, o pessoal que iria embarcar começa a reduzir. Então, como manter as escalas funcionando normalmente? Nesse caso, é preciso repensar o sistema de escala de trabalho. Se não houver uma flexibilização nesse momento, o impacto vai acontecer. É muito importante o diálogo entre as empresas operadoras, as empresas de serviço, o governo e os representantes dos empregados para que se chegue a uma solução, de forma a manter um serviço essencial para manter a operação.

Esse diálogo está acontecendo. A colaboração entre as partes está acontecendo. Mas o que nós prevemos é que quanto maiores as restrições, mais difícil será mitigar impactos na operação e produção.

Como será a resiliência das empresas nos próximos meses, já que eles prometem ser desafiadores?

FPSO_CID_SAQUAREMA__22-05-2016_-Foto_Steferson_Faria_2450APor ora, o impacto da pandemia ainda é pequeno nas operações. Ele vai acontecer. O que vemos é que a pandemia tem um efeito econômico e geopolítico muito grande no setor de óleo e gás. O efeito preço do barril começa a colocar em questão a viabilidade de alguns projetos.

Ainda é cedo para avaliar. Mas todas as companhias operadoras estão fazendo o exercício de avaliar o portfólio e economicidade dos projetos. Empresas de menor porte ou aquelas que estejam muito alavancadas financeiramente – e que dependam de acesso a financiamento – ou empresas que tem apenas um projeto vão sofrer mais impacto.

Nós prevemos sim algumas empresas operadoras de menor porte tendo maiores dificuldades em função do cenário econômico dessa crise. As empresas maiores vão reavaliar seus portfólios, talvez movendo um pouco para a direita a tomada de decisão de alguns projetos. Mas, como disse, ainda é cedo para avaliar. Já vemos algumas empresas revendo planejamento de negócios. Isso vai depender da duração da crise e da volatilidade do preço do barril.

Poderia nos antecipar quais serão os próximos movimentos da ABESPetro nesta semana que inicia hoje?

A diretoria está se comunicando diariamente no sistema de gestão de crise. Fomos convidados para participar do comitê de crise do IBP também, de forma colaborativa. Cada empresa associada tem seu comitê de crise e cada um dos diretores tem seu comitê de crise. Então, na verdade, essa é uma atividade dinâmica. Está acontecendo diariamente. A cada decisão do governo existem impactos que avaliamos e decidimos quais serão as ações corretivas. Com esse canal de comunicação que temos com as entidades do governo, podemos antecipar eventuais problemas. Isso é fluido e dinâmico e está acontecendo diariamente.

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