ANGRA 2 INICIA O PROCESSO NECESSÁRIO DE REABASTECIMENTO NO INÍCIO DE UMA CRISE HÍDRICA NO SUL DO PAÍS
A necessidade de se reduzir a potência da usina nuclear Angra 2 chegou em uma hora complicada. Uma coincidência ruim. A usina terá sua potência de 1.350 megawatts reduzida a partir de hoje (2) para dar início ao processo de reabastecimento de combustível no próximo domingo (6). A parada necessária foi acordada com o Operador Nacional do Sistema (ONS). Angra 2 deverá ser religada a pleno a partir do dia 6 de julho. A Eletronuclear aproveita esses momentos para fazer todas as inspeções de rotina. A usina Angra 1, com capacidade instalada de 650 MW, já passou por reabastecimento este ano e foi reconectada ao sistema no dia 18 de maio. A saída da térmica nuclear acontece em um momento de crise hídrica no País, com a redução da geração das hidrelétricas. A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) publicou uma Declaração de Situação Crítica de Escassez dos Recursos Hídricos da região hidrográfica do Paraná até 30 de novembro de 2021. A medida foi tomada pela primeira vez para assegurar os usos múltiplos da água nesse período. Esta região é composta pelas bacias dos rios Paraná, Paranaíba, Grande, Tietê, Paranapanema, entre outras.
A Declaração da ANA, em caráter preventivo, teve o objetivo de adotar medidas temporárias para assegurar os usos múltiplos da água e buscar a segurança hídrica. Após a análise de cada situação, poderão ser adotadas medidas, como regras de operação temporárias para os reservatórios para a preservação dos seus volumes. Num primeiro momento, a necessidade de restrições para irrigação e o abastecimento da população não está sendo considerada. O Sistema Nacional de Meteorologia (SNM), emitiu Alerta de Emergência Hídrica associado à escassez de precipitação para a Região Hidrográfica do Paraná de junho a setembro deste ano.
O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) assinaram o Alerta de Emergência Hídrica pela primeira vez em função das previsões de chuvas próximo ou abaixo da média entre maio e setembro deste ano. Além disso, a Região Hidrográfica do Paraná passa por um déficit de precipitações severo desde outubro de 2019. Quanto aos volumes armazenados nos reservatórios, em 1º de maio, sete dos 14 principais reservatórios de hidrelétricas da região estavam com seu pior nível desde 1999. E os demais estavam com níveis entre os cinco piores desse período. Mesmo com as baixas vazões que estão ocorrendo, não se espera, num primeiro momento, que ocorram problemas de falta de água para o abastecimento e para irrigação. Isso porque as vazões, ainda que mais baixas, serão suficientes para atender a esses usos em termos de quantidade de água. No entanto, poderão ser necessárias adaptações nas estruturas de captação de água para se adaptarem ao nível, que poderá ficar mais baixo, especialmente nos principais reservatórios da região, evitando a interrupção do seu funcionamento.
Com relação à geração hidrelétrica, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) já reconheceu em sua 248ª Reunião Extraordinária, em 27 de maio, o risco de comprometimento da geração elétrica para atendimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Quanto à navegação, também deverá haver impacto devido à redução dos níveis dos reservatórios de hidrelétricas, especialmente sobre a hidrovia Tietê-Paraná, que depende da manutenção de um nível mínimo nos reservatórios de Ilha Solteira (MS/SP) e Três Irmãos (SP). Há uma tendência de redução desse nível com possibilidade de interrupção da hidrovia.
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