ABPIP VÊ ESPAÇO PARA NOVAS OPERADORAS INDEPENDENTES ENTRAREM NO MERCADO DE ÓLEO E GÁS DO BRASIL
Sob novo comando há pouco mais de um mês, a Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP) planeja seus novos planos e ações nesse novo momento do setor de óleo e gás. Com a conclusão da venda de boa parte dos ativos onshore do programa de desinvestimentos da Petrobrás, as operadoras independentes agora precisam olhar com carinho para as novas fronteiras de crescimento. É o que afirma o novo presidente da ABPIP, Marcio Felix, nosso entrevistado desta quarta-feira (12). Para ele, as pequenas e médias petroleiras poderão expandir suas operações se investirem na retomada da operação de poços que estão inoperantes no momento. Além disso, o aumento do fator de recuperação dos campos também oferece muitas oportunidades para ampliar a produção das empresas. Felix, que é CEO da Energy Platform (EnP), lembra ainda que o Brasil não bateu o martelo sobre a utilização de recursos não convencionais. Mas se o tema for equacionado, essa poderia ser uma nova fronteira para as operadoras. Por fim, o presidente da ABPIP avalia que existem oportunidades para que novas empresas independentes entrem no mercado de óleo e gás do Brasil. “Há esse espaço porque a ANP ainda está ofertando muitas áreas exploratórias a custos bem acessíveis. É preciso agora ter coragem para explorar esses ativos”, comentou.
O senhor poderia começar apontando quais serão as prioridades da nova gestão da ABPIP, de modo a contribuir com o ambiente de negócios das petroleiras independentes?
Eu costumo brincar que “em time que está ganhando também se mexe”. Até porque o cenário muda. Nos últimos anos, passamos por um ciclo que foi marcado pela abertura do mercado e venda de muitos ativos da Petrobrás. Esse ciclo agora muda de fase, com as várias empresas independentes assumindo ativos terrestres em várias regiões no Brasil e alguns polos offshore. O próximo passo agora é consolidar essa indústria, de modo que o setor de petroleiras independentes possa crescer e florescer ainda mais.
O país está, nesse momento discutindo, questões como o preço de referência de petróleo e a reforma tributária, por exemplo. Estamos em outra realidade: um novo governo e uma nova forma de gestão dos papéis dos ministérios, além das questões da transição energética e do licenciamento ambiental. As maneiras de lidar com todas essas questões vão mudando. Então, precisamos reforçar a missão da associação para trabalhar pelos interesses em comum. A ABPIP vai trabalhar em uma nova agenda com todos esses itens, levando em conta as peculiaridades e o novo momento do setor em 2023.
Os principais ativos onshore do programa de desinvestimentos da Petrobrás já foram negociados. Como será o futuro das petroleiras independentes nesse novo momento?
Existem algumas formas para a continuidade do crescimento do setor. Ainda restaram dois polos da Petrobrás, Urucu e Polo Bahia Terra, que estavam à venda mas não chegaram à fase de fechamento de negócio. Ainda não sabemos como será o comportamento da Petrobrás daqui em diante em relação a esses ativos, que são bem distintos. Mas, independente disso, as operadoras não podem contar apenas com esses polos para alimentar essa nova fase do setor.
Alguns fatores serão cruciais para a continuidade do crescimento das operadoras independentes. O primeiro deles é a retomada da operação de poços que estão fechados no momento. Além disso, outro ponto importante é o aumento do fator de recuperação dos campos, com custos cada vez mais competitivos e com segurança. Por fim, vale mencionar a realização de programas exploratórios. Alguns operadores já possuem ativos exploratórios espalhados pelo Brasil nas regiões Norte, Nordeste, norte do Espírito Santo, Paraná e Mato Grosso do Sul. Ou seja, em quase todas as regiões do país existe a perspectiva de alguma nova frente exploratória onshore. Adicionalmente, algumas empresas estão olhando para ativos fora do país. Assim sendo, o crescimento da atividade de operadoras independentes é inexorável.
E quanto à exploração de recursos não convencionais?
Essa é uma questão ainda não equacionada no Brasil, mas que poderia ser uma nova fronteira exploratória no país, já que está próxima da infraestrutura já existente. O processo de fraturamento hidráulico demanda a utilização de água e gera uma série de questionamentos ambientais. Esse debate ainda não foi concluído no país. Existem ideias de realizar projetos-pilotos para que a viabilidade de projetos do tipo possa ser comprovada, com segurança e respeito total ao meio ambiente.
Como avalia o atual movimento mundial de transição energética e o papel da indústria de óleo e gás?
A transição energética é uma grande discussão. O Brasil possui uma diversidade de fontes e isso dá uma sustentabilidade no trilema energético (fornecer energia segura, limpa e a preços acessíveis). O que precisamos fazer é analisar bem o ciclo de vida como um todo e não apenas aquilo que é melhor em termos de carbono. O Brasil é um país com contrastes e muitas desigualdades regionais. Então, é preciso levar isso em conta em nosso modelo de transição energética.
Os derivados do petróleo mais criticados são aqueles usados no transporte – diesel, gasolina, querosene de aviação etc. Mas existem muitos outros derivados, como asfalto, lubrificantes e outros que são bens de necessidade da nossa sociedade. Adicionalmente, o gás natural é apontado como o combustível da transição energética. O parque térmico brasileiro, que dá sustentação para o sistema elétrico e permite o crescimento das energias renováveis, é alimentado pelo gás natural. Para que o trilema energético seja atendido, é importante ter a oferta de gás. A estocagem de gás natural também é importante para regular esse mercado.
O país precisa olhar suas características e equilibrar seus recursos. A transição energética é um movimento geral e a resultante, ao meu ver, deve ser a que melhor equacione o trilema energético.
Por fim, quais serão as próximas ações da ABPIP no sentido de fomentar o setor?
Os associados da ABPIP mostram que a indústria está muito viva e ativa. Os eventos regionais recentes da indústria onshore estão sendo um grande sucesso. São eventos que estão mostrando um envolvimento muito grande da sociedade, dos estudantes e do mercado de bens e serviços. A ABPIP procura integrar-se cada vez mais com a sociedade nos estados onde acontecem as atividades das operadoras independentes. Eu considero que a indústria de operadoras independentes está crescendo. Mas ainda assim, eu acho que temos ainda poucas empresas independentes no Brasil. O nosso objetivo é fomentar a entrada de novas companhias no país.
Há espaço para a entrada de novas petroleiras independentes no Brasil?
Há esse espaço porque a ANP ainda está ofertando muitas áreas exploratórias a custos bem acessíveis. É preciso agora ter coragem para explorar esses ativos. A EnP é um exemplo de empresa que está fazendo esse trabalho.
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