GANHA FORÇA A MOBILIZAÇÃO PARA INCLUIR ANGRA 3 NO PAC, DE OLHO NOS BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS DA FONTE NUCLEAR | Petronotícias




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GANHA FORÇA A MOBILIZAÇÃO PARA INCLUIR ANGRA 3 NO PAC, DE OLHO NOS BENEFÍCIOS ECONÔMICOS E AMBIENTAIS DA FONTE NUCLEAR

O presidente da ABDAN, Celso Cunha, e o deputado Júlio Lopes

O presidente da ABDAN, Celso Cunha, e o deputado Júlio Lopes

A semana começa com uma intensa mobilização do setor nuclear brasileiro em torno do seu principal projeto – a conclusão das obras de Angra 3. Na última semana, circularam nos corredores de Brasília alguns rumores de que o empreendimento seria deixado de fora do novo Programa de Aceleração Econômica (PAC). Segundo apuração do Petronotícias no mercado, parte do governo estaria cedendo ao lobby do setor de gás natural para excluir Angra 3 do PAC – que deve ser relançado nesta semana. Isso gerou uma grande articulação na indústria nuclear e também na esfera política, de modo a demonstrar ao Planalto a importância estratégica de garantir a usina no programa. “Não incluir no PAC significa, na prática, ainda que não formalmente, acabar com o projeto”, alerta o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha.

O dirigente lembra que o custo para concluir Angra 3 gira em torno de R$ 20 bilhões, sem a necessidade de aporte financeiro direto da Eletrobrás ou do governo. Por outro lado, a despesa para abandonar o projeto ficaria na casa dos R$ 15 bilhões – ou seja, quase o mesmo valor necessário para terminar o empreendimento. “É sempre importante mencionar que uma usina nuclear oferece alta confiabilidade ao sistema devido à firmeza de sua injeção de potência. Fora que a produção de energia nuclear em si tem emissão nula de gases do efeito estufa”, acrescentou Cunha. Enquanto o mercado levanta os dados que ressaltam a importância de concluir a usina, a Frente Parlamentar Nuclear, liderada pelo deputado Júlio Lopes (PP-RJ), deve ter uma reunião nesta semana com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, para tratar do tema. “Não podemos, de forma nenhuma, permitir parar essa que é a maior obra do Brasil. Angra 3 é absolutamente estratégica para o setor nuclear brasileiro e para o programa energético como um todo”, avaliou Lopes.

Para começar nossa entrevista, seria importante explicar aos nossos leitores o que representaria, na prática, a exclusão de Angra 3 do novo PAC?

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Angra 3 vai gerar quase 1,5 GW de energia quando estiver concluída

CelsoTememos a paralisação da obra. Existem obras muito menos relevantes sendo incluídas no PAC e, Angra 3, que é a maior obra do país, não está. Não incluir no PAC significa, na prática, ainda que não formalmente, acabar com o projeto. Esse é um momento decisivo para o setor unir esforços para reverter isso. 

A possível descontinuidade da obra da usina, que está 70% concluída, seria uma mancha na imagem do Brasil perante a investidores privados. Mas quais seriam as outras consequências diante de um possível abandono da obra?

Celso – Segundo o Ministério de Minas e Energia, já foram aportados mais de R$ 7,8 bilhões no projeto e seriam necessários mais R$ 20 bilhões para a conclusão da obra até 2029. O término da usina requer apenas a obtenção de um financiamento, sem a necessidade de aporte financeiro direto da Eletrobrás ou do governo. De acordo com uma modelagem feita pelo BNDES, esses R$ 20 bilhões restantes viriam de um financiamento que seria pago por uma tarifa mais alta nos primeiros 15 anos. Essa tarifa permitiria servir a dívida e remunerar o capital com uma Taxa Interna de Retorno (TIR) de 8% a 9%.

Por outro lado, caso haja a decisão de interromper a construção, seria preciso desembolar cerca R$ 15 bilhões. E o pior é que seria preciso utilizar recursos próprios. Optar por essa alternativa não parece ser uma escolha sensata. 

Quais foram as articulações políticas feitas até aqui para garantir que Angra 3 esteja dentro do PAC e seja concluída?

Rui Costa deve receber Júlio Lopes nesta semana para debater sobre Angra 3

Rui Costa deve receber Júlio Lopes nesta semana para debater sobre Angra 3

JúlioNão acredito que esse governo tome uma decisão tão economicamente equivocada de não terminar Angra 3. A usina será absolutamente fundamental no sistema energético brasileiro. Eu acredito ser impensável essa possibilidade e tenho certeza de que o governo Lula tomará as providências necessárias para que Angra 3 seja terminada. Estamos muito otimistas na Frente Parlamentar de que a obra será concluída. Na semana passada, já tive conversas nesse sentido no governo e nesta semana espero ter uma reunião com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, para que possamos continuar com essa articulação. 

Como a Frente Parlamentar Nuclear avalia a importância estratégica e econômica de Angra 3?

Júlio – A Frente Parlamentar de Defesa da Indústria Nuclear está mobilizada no sentido de que Angra 3 seja concluída. Não podemos, de forma nenhuma, permitir parar essa que é a maior obra do Brasil. Angra 3 é absolutamente estratégica para o setor nuclear brasileiro e para o programa energético como um todo. 

É preciso salientar a questão do preço que se projeta para a usina de Angra 3. O valor que está sendo estimado carrega toda a ineficiência da paralisação das obras, que gerou custos bilionários que agora certamente precisam ser tratados. Mas esses custos podem ser amortizados pelo governo.

Alguns dos principais críticos de Angra 3 sustentam que não valeria a pena concluir a obra por conta do valor da tarifa de energia do empreendimento. Como responde essa crítica?

Ilustração mostra como será Angra 3 após concluída

Ilustração mostra como será Angra 3 após concluída

Júlio – A Empresa de Pesquisa Energética (EPE), através de sua diretoria, já nos emitiu um parecer sobre isso. Se não fossem adicionados os custos da ineficiência, ou seja, o custo da paralisação dessa obra por tantos anos, a energia gerada por Angra 3 ficaria num patamar pelo menos 55% inferior àquele que se projeta hoje. 

Celso – Segundo o Ministério de Minas e Energia, a projeção é que o preço da tarifa fique em R$ 726 por MWh entre 2029 até 2044. Após 2044, esse valor cairia para R$ 224 por MWh. Ou seja, podemos dizer que essa diferença de R$ 500 por MWh, que será cobrada entre 2029 e 2044, refere-se ao financiamento da obra e o Custo Brasil. Isto é, esses R$ 500 por MWh não pertencem à fonte nuclear, eles são resultado da ineficiência brasileira, do atraso da obra e do custo financeiro do recurso tomado no mercado.

Existiria alguma alternativa para reduzir essa tarifa?

Celso – Uma ideia possível seria utilizar o dinheiro das outorgas de várias usinas que serão renovadas e injetá-lo como aumento de capital na Eletronuclear. Assim, seria necessário tomar um financiamento menor para a conclusão da usina e, consequentemente, haveria uma redução no preço da tarifa. 

Para além das questões levantadas até aqui, existem outros fatores econômicos, ambientais e tecnológicos relacionados à importância de finalizar a obra. Poderiam citar alguns deles?

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Por estar perto do centro de carga, custos de transmissão da energia nuclear são menores

Celso – A título de exemplo, a construção de uma usina de 1.000 MW gera aproximadamente 1.200 empregos diretos, além de empregos indiretos e induzidos que somam mais de duas vezes o número de empregos diretos. Um site com três usinas, como é o caso de Angra, pode gerar 7.200 empregos diretos e mais de 17.000 empregos indiretos e induzidos. Além disso, os investimentos realizados na construção das usinas têm efeitos multiplicadores na economia, reverberando no PIB nacional.

É sempre importante mencionar que uma usina nuclear oferece alta confiabilidade ao sistema devido à firmeza de sua injeção de potência. Fora que a produção de energia nuclear em si tem emissão nula de gases do efeito estufa. E, por fim, as usinas nucleares têm baixo custo de infraestrutura de transmissão, pois são frequentemente localizadas próximas ao centro de carga.

Júlio – Como disse antes, não faz sentido não terminar a obra. Ainda temos a expectativa que o governo Lula desenvolva novos convênios internacionais, além de ações para garantir a construção do Reator Multipropósito Brasileiro e o desenvolvimento do programa de pequenos reatores modulares (SMR, na sigla em inglês). Portanto, estamos ainda muito animados e confiantes de que essas decisões serão implementadas pelo governo e pela sociedade para que nós tenhamos um sistema energético mais seguro e mais eficiente ao país.

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