OBRA DA TIROLESA NO PÃO DE AÇÚCAR PODE FAZER COM QUE O BONDINHO PERCA O TÍTULO DE PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE DA UNESCO

A Companhia Caminho Aéreo do Pão de Açúcar sentiu bastante o golpe das densas manifestações populares contra a instalação de uma tirolesa para ser instalada no alto do morro da Urca. A reação contra um projeto que mancha um dos pontos turísticos mais emblemáticos do mundo, que tem a cara da cidade do Rio de Janeiro, conhecido e reconhecido pela UNESCO como um Patrimônio Cultural da Humanidade. A empresa está gastando uma verdadeira fortuna em contratações de pesquisas e publicações de anúncios publicados principalmente para os veículos do Grupo Globo, que dá cobertura e apoio à tirolesa. O projeto parece todo irregular e até ilegal. Como Patrimônio Mundial da Unesco, não pode ser alterado. Por ser uma área tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico (IPHAN), é surpreendente que tenha recebido uma licença para ter sua geologia desfigurada em alguns trechos. Quem autorizou? Por quê? Como? Quem autorizou a construção de um mini shopping no alto do morro da Urca? Quem da empresa estatal GEO Rio autorizou obras quebrando as pedras do Morro da Urca e o do Cara de Cão?

A Companhia do Pão de Açúcar tem conseguindo algumas reportagens nos veículos em que anuncia dando apoio ao projeto e divulgando uma pesquisa feita pelo Data Folha, que tem um resultado estranho. Ninguém sabe quais as perguntas da pesquisa foram feitas e nem onde foram feitas. Mas o Data Folha diz que a maioria dos cariocas tem a opinião positiva sobre a tirolesa. Diz também que a tirolesa vai aumentar o fluxo de turistas para o Rio de Janeiro. Será?

Em meio à toda essa confusão, existem alguns questionamentos que a empresa precisa esclarecer:

– Os manifestantes querem confirmar se a empresa está mesmo  há  24 anos de ocupando a área do Caminho Aéreo do Pão de Açúcar, com contrato de concessão vencido;
– A empresa alega ter todas as licenças de obra das tirolesas, mas no projeto aprovado jamais foi citado o corte em rocha;
– A obra das tirolesas foi iniciada sem projeto executivo; para alguns engenheiros é inacreditável.

– O CREA-RJ foi ouvido? Emitiu algum laudo? Aprovou?
– A Geo Rio, (instituição que aprovou a construção da ciclovia da Av Niemeyer, que desabou quatro vezes), emitiu um parecer apenas visual, durante o primeiro embargo, liberando a obra, sem sondagens, sem geofísica, sem ensaios na rocha;
– O Rio de Janeiro corre o sério risco de perder o título, concedido pela UNESCO, de Patrimônio Cultural da Humanidade, por conta das intervenções no Pão de Açúcar.

A verdade é que há muita coisa errada. Os chamados “puxadinhos” que foram sendo feitos através dos anos, sem licença ou conhecimento oficial. Os líderes das manifestações foram até a Prefeitura da cidade para verificarem as plantas das obras realizadas, mas não encontraram nada. Há muitas obras irregulares que, pelo rigor dos fiscais da prefeitura, teriam que ter licenças ou pagar multas. No Pão de Açúcar, nem um nem outro.

Para lembrar, O movimento PdAST reúne representantes de entidades da sociedade civil organizada, diversos profissionais como advogados, guias de turismo, arquitetos, jornalistas, sociólogos, geólogos, ambientalistas, psicanalistas, montanhistas e pessoas interessadas na Natureza, todos trabalhando de maneira voluntária e desinteressada. Todos em prol da preservação do meio ambiente e contra a exploração do patrimônio ecológico e cultural público por um grupo empresarial privado. São dezenas de ativistas organizados atuando diariamente e diretamente no movimento. Além do grupo, há  milhares de seguidores e apoiadores  nas redes sociais. O Pão de Açúcar não é do Prefeito Eduardo Paes e nem da família que o explora por concessão pública através de uma empresa. O bondinho ganhou vida própria e já é um patrimônio mundial. E deve ser respeitado por isso.

Na próxima quinta-feira (28), está marcada a ida do Ministério Público e o IPHAN ao morro para uma visita. O que seria uma inspeção. Mas os manifestantes estão achando estranho, porque a Companhia do Pão de Açúcar conseguiu um recurso que será analisado no dia anterior (27). Como temos vistos decisões da justiça de arrepiar o cabelo, o grupo que lidera as manifestações está achando muita coincidência. Mas, tudo pode acontecer. Quem viver, verá.