ENQUANTO O BRASIL PERDE TEMPO PARA PRIVATIZAR A PRODUÇÃO DE RADIOISÓTOPOS, A ARGENTINA ESTÁ PERTO DA AUTOSSUFICIÊNCIA

Diana Modino

Enquanto o Brasil perde tempo em autorizar a produção de radioisótopos para uso no tratamento de câncer na medicina nuclear, a nossa vizinha Argentina dá um passo importante para chegar a autossuficiência. O seu reator de pesquisa multifuncional RA-10 está agora a cerca de 80% concluído, com seu tanque refletor definido para ser instalado quando a construção entrar em suas fases finais, disse a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, em visita às instalações. Mondino, que assumiu o cargo em dezembro após a eleição de Javier Milei como presidente da Argentina, elogiou o progresso ocorrido na RA-10 e também na vizinha usina de combustível nuclear CONUAR. Ela disse que continuará a apoiar os esforços de exportação do setor nuclear, destacando “as oportunidades que se abrem para a Argentina, se forem bem administradas e se conseguirmos demonstrar qualidade”. O gerente do projeto RA-10, Herman Blaumann, atualizou o andamento da montagem: “As obras civis já estão concluídas e em termos de suprimentos e instalações o progresso é de 80%. Chegará um tanque refletor cuja instalação é mais uma etapa fundamental da obra.” O tanque refletor pesa 2.540 quilos, tem 2 metros de diâmetro e 1,4 metros de altura. Sua instalação permitirá a montagem interna do conjunto de reatores. Ele disse ainda que o objetivo é encher a piscina do reator em dezembro, e depois em Julho de 2025 terão início os testes pré-operacionais antes de entrar em operação em 2026.

A Comissão Nacional de Energia Atômica da Argentina (CNEA) afirmou que o RA-10 – um reator de pesquisa de piscina aberta de 30 MWt – será usado para a produção de radioisótopos médicos, incluindo a capacidade de cobrir 20% da demanda mundial de molibdênio: ” O tecnécio é obtido a partir do molibdênio, e amplamente utilizado na medicina nuclear. Também será possível produzir outros radioisótopos que hoje não são fabricados no país e que são amplamente utilizados no mundo, como o lutécio, que é aplicado no tratamento de câncer de próstata e outras patologias, bem como outras para uso na agricultura e na indústria”. O projeto RA-10 foi aprovado pelo governo e iniciado oficialmente pela CNEA em junho de 2010. A Autoridade Reguladora Nuclear da Argentina concedeu uma licença de construção para o RA-10 em novembro de 2014. As obras civis do reator começaram em 2016. A empresa de tecnologia nuclear INVAP está envolvido no projeto e construção da instalação do reator e instalações relacionadas, desempenhando o papel de empreiteiro principal. A montagem da piscina RA-10 – que abrigará o núcleo do reator – foi concluída em agosto de 2018.

Adriana Serquis

O RA-10 substituirá o reator RA-3 no mesmo local. Este reator tipo piscina de 10 MWt iniciou suas operações em 1967. Além de produzir radioisótopos, também proporcionará novas oportunidades de pesquisa e treinamento e terá instalações associadas, como o Laboratório Argentino de Feixes de Nêutrons (LAHN) e o Laboratório de Estudo de Materiais Irradiados. (LEMI). A CNEA revelou que mais de 80 empresas argentinas estão envolvidas nos trabalhos, sendo que o ministro também falou sobre as esperanças na produção do RA-10 de silício dopado por transmutação de nêutrons, matéria-prima de altíssima qualidade para o desenvolvimento de aplicações eletrônicas avançadas. A presidente da CNEA, Adriana Serquis, disse que é um momento importante “tanto pelo que significa e um novo marco para o desenvolvimento nuclear do nosso país, como também porque nos proporcionará novas capacidades que são altamente exigidas internacionalmente, seja na área de medicina, com a produção de radioisótopos, e as instalações para a produção de silício, os testes de materiais e o enorme avanço para a área de ciência e tecnologia no uso de nêutrons”.