COMPAGAS APOSTA EM CORREDORES SUSTENTÁVEIS PARA DESCARBONIZAR TRANSPORTE NO PARANÁ E PREPARA NOVA CHAMADA PÚBLICA DE BIOMETANO
A Companhia Paranaense de Gás (Compagas) inaugurou recentemente a primeira rota de um corredor sustentável que liga os municípios de Curitiba e Londrina. Ao longo do trajeto, estão dez postos de abastecimento de veículos pesados movidos a gás, especialmente caminhões, ajudando a reduzir as emissões desses veículos. O presidente da Compagas, Rafael Lamastra Jr., nosso entrevistado nesta segunda-feira (28), contou um pouco da origem do projeto e falou também dos próximos passos e planos de expansão. “A primeira rota permite o deslocamento de caminhões de Londrina até o Porto de Paranaguá – que escoa boa parte da produção de soja do Mato Grosso do Sul”, disse. “Nossa ideia é que ainda este ano devemos implantar uma segunda rota, conectando Maringá”, completou. Lamastra lembrou também que o novo contrato de concessão da Compagas começará em julho, com a obrigatoriedade de expandir a rede de gás canalizado do Paraná. “O modelo desenhado pelo poder concedente é praticamente todo off-grid, com redes isoladas nas principais regiões do estado. O conceito é trabalhar com biometano. Isto é, usar produção local de biometano para abastecer essas redes locais”, detalhou o entrevistado. “Vamos começar até o final do ano a extensão de uma rede que vai de Londrina a Maringá, com aproximadamente 110 km, e que não estará conectada ao grid. Nossa intenção é pressurizar essa rede com biometano de fornecedores locais, que estão dentro de um raio de 50 km”, acrescentou. Por fim, o presidente da Compagas afirmou que a distribuidora já realizou duas chamadas públicas para aquisição de biometano e um terceiro edital está previsto até o final de 2024.
Como começou a ideia de criar o corredor sustentável?
O projeto Corredor Sustentável começou no Paraná em 2020, com a identificação das principais vias de transporte do estado e dos locais estratégicos para a introdução do gás e do biometano na matriz energética. A estratégia da Compagas é ampliar a oferta de gás natural e biometano para veículos pesados, especialmente caminhões e ônibus, facilitando o transporte da produção agroindustrial, inicialmente das regiões Norte e Noroeste do estado, para o Porto de Paranaguá.
Poderia falar um pouco da estratégia com essa primeira rota?
A primeira rota permite o deslocamento de caminhões de Londrina até o Porto de Paranaguá – que escoa boa parte da produção de soja do Mato Grosso do Sul. Adicionalmente, estamos em obras em mais um posto de abastecimento para dar mais segurança ainda aos caminhões que passam pelo Paraná em direção ao sul. Essa nova unidade fica cerca de 50 km antes de Curitiba, para que os caminhões que vêm de São Paulo tenham mais segurança em relação a autonomia. Nossa ideia é que ainda este ano devemos implantar uma segunda rota, conectando Maringá.
O que está sendo feito para consolidar esse projeto?
O que estamos fazendo agora para consolidar essa rota é o convencimento e a garantia do suprimento de gás para postos de abastecimento que vão se dispor a instalar equipamentos de compressão de alta performance e separar áreas para veículos pesados. Estamos também trabalhando no convencimento dos frotistas, principalmente na região norte do Paraná, especialmente em Maringá, onde há sede de grandes empresas transportadoras. As companhias com grande volume de veículos fazem uma substituição constante de sua frota. Nosso trabalho de convencimento agora é fazer com que essa renovação inclua, pelo menos em parte, a substituição de veículos a diesel por veículos a gás, visando ganhos econômicos e ambientais.
Como pretendem ampliar o uso de biometano nesses corredores sustentáveis?
A partir do dia 6 de julho, começa a valer nosso novo contrato de concessão, que irá vigorar até 2054. O contrato prevê a obrigatoriedade de expandir a nossa rede em todo o estado, abrangendo todas as 10 mesorregiões ao longo desses 30 anos. O modelo desenhado pelo poder concedente é praticamente todo off-grid, com redes isoladas nas principais regiões do estado. O conceito é trabalhar com biometano. Isto é, usar produção local de biometano para abastecer essas redes locais. O modelo é muito interessante e disruptivo do ponto de vista de distribuição.
Vamos começar até o final do ano a extensão de uma rede que vai de Londrina a Maringá, com aproximadamente 110 km, que não estará conectada ao grid. Nossa intenção é pressurizar essa rede com biometano de fornecedores locais, que estão dentro de um raio de 50 km. Isso também facilitará que esses corredores sustentáveis sejam abastecidos com biometano. Isso é importante, principalmente para exportadores do agronegócio que têm exigências dos seus clientes internacionais em relação à descarbonização.
Ao seu ver, qual o tamanho do papel do GNV e do biometano para ajudar na descarbonização da matriz de transportes do Brasil?
O gás natural representa uma redução de 25% nas emissões em relação aos veículos a diesel. Quando consideramos o biometano, essa redução supera os 90%. Além do transporte pesado de cargas, estamos focando também no transporte coletivo.
A Compagas tem uma parceria com a Scania, que é uma grande fabricante de ônibus a gás no Brasil. No ano passado, utilizamos um ônibus da Scania movido 100% a gás natural por alguns meses no estado do Paraná, sendo testado em Curitiba, na Região Metropolitana e em Ponta Grossa. Em Londrina, rodamos com um ônibus movido a biometano. Os resultados em termos de redução de emissão foram fantásticos. Nossa aposta para o Paraná é trabalhar na redução do grande volume de emissões do setor de transporte, focando tanto no transporte de cargas quanto no transporte coletivo. A expectativa é alcançar bons resultados nos próximos anos.
E qual será a estratégia da Compagás na distribuição de biometano nos próximos anos?
O Paraná tem um grande potencial de produção de biometano por conta dos resíduos do setor agropecuário. Nesse sentido, nós entendemos que era preciso dar sinalizações ao mercado para ajudar a tirar do papel esse potencial. Por isso, no final de 2022, lançamos a primeira chamada pública para aquisição de biometano. Ao todo, 12 supridores participaram do processo e apresentaram propostas que, somadas, podem ultrapassar o potencial diário de 380 mil metros cúbicos por dia. Recentemente, em março de 2024, a companhia encerrou sua segunda chamada pública, recebendo mais 14 propostas de 10 empresas para aquisição de biometano. As novas propostas somadas podem ultrapassar o potencial diário de 320 mil metros cúbicos de gás natural renovável.
É importante lembrar que isso não significa, necessariamente, que todos esses projetos de biometano serão viáveis. De preferência, eles precisam estar próximos do nosso grid ou dentro das futuras redes previstas na nossa estratégia de expansão. Ainda existem desafios, como o próprio custo do biometano, que ainda é mais caro. Aos poucos, os produtores estão entendendo que precisam se adequar ao mercado. Raramente uma empresa ou outra vai se dispor a pagar mais pelo biometano. No final das contas, os consumidores vão querer pagar o mesmo valor que pagam pelo gás natural. Essa é uma dificuldade na qual estamos trabalhando com delicadeza e convencimento.
Estamos atuando nessas questões, com o objetivo de até 2026 ter pelo menos 15% de biometano no nosso volume total distribuído. Essa é uma meta desafiadora, mas consideramos que ela é viável. Por fim, até o final do ano, devemos lançar a terceira chamada focada na aquisição de biometano.
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