AGÊNCIA INTERNACIONAL DE ENERGIA DIZ QUE BRASIL TEM POTENCIAL PARA AUMENTAR PRODUÇÃO E AMPLIAR EM SEIS VEZES A EXPORTAÇÃO DE PÁS EÓLICAS
O rápido crescimento das tecnologias de energia limpa oferece grandes oportunidades para países interessados em fabricar e comercializar essas tecnologias, mas também impõe decisões desafiadoras para governos, que enfrentam tensões e dilemas com base nas políticas industriais e comerciais que decidem adotar. É o que aponta um novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), chamado Energy Technology Perspectives 2024 (ETP-2024). O documento destaca que há oportunidades para economias emergentes avançarem na cadeia de valor, beneficiando-se de vantagens competitivas. Por exemplo, o Sudeste Asiático poderia se tornar uma das regiões mais econômicas para produzir silício policristalino e wafers para painéis solares; a América Latina, especialmente o Brasil, tem o potencial de escalar a produção de turbinas eólicas; o Norte da África poderia se tornar um polo de fabricação de veículos elétricos na próxima década, enquanto alguns países da África Subsaariana poderiam produzir ferro com hidrogênio de baixo carbono.
A AIE diz que o Brasil produz mais de 5% das pás para turbinas eólicas mundialmente. Se o país souber aproveitar suas condições favoráveis, num cenário compatível com emissões líquidas zero até 2050, as exportações desses componentes podem aumentar seis vezes até 2035, em comparação com os níveis atuais, desde que os investimentos de longo prazo em infraestrutura portuária sejam bem-sucedidos.
“Além disso, o Brasil — assim como outros países da América Latina — possui abundantes recursos de energia renovável, que representam uma base promissora para exportações de amônia, ferro e aço de emissões quase nulas para mercados onde a produção desses bens é mais onerosa, como a Europa e o Japão”, aponta o relatório.
O relatório, que é uma das principais publicações de tecnologia da IEA, foca na perspectiva das seis principais tecnologias de energia limpa de fabricação em massa: painéis solares fotovoltaicos, turbinas eólicas, carros elétricos, baterias, eletrolisadores e bombas de calor. Com base nas políticas atuais, o mercado global dessas tecnologias deverá crescer de US$ 700 bilhões em 2023 para mais de US$ 2 trilhões até 2035, alcançando o valor do mercado de petróleo bruto mundial dos últimos anos. Espera-se também que o comércio dessas tecnologias aumente acentuadamente, triplicando em uma década e ultrapassando o valor atual do comércio global de gás natural.
Segundo o diretor executivo da IEA, Fatih Birol, “as transições para a energia limpa representam uma grande oportunidade econômica. No entanto, os governos devem desenvolver medidas que promovam a concorrência, inovação e redução de custos, ao mesmo tempo em que avançam em seus objetivos de energia e clima.”
A expansão do mercado de tecnologias limpas está sendo impulsionada por investimentos recordes na fabricação dessas tecnologias, com a maior parte dos gastos concentrada em países que já possuem uma posição estabelecida no setor, como China, União Europeia e Estados Unidos, além da Índia, que ganha espaço. Apesar de fortes incentivos em algumas regiões, a China deve continuar a dominar a produção global de tecnologias limpas. Com as políticas atuais, as exportações de tecnologias limpas da China devem ultrapassar US$ 340 bilhões em 2035, um valor similar à receita projetada de exportação de petróleo de Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos somados.
O relatório também aborda as implicações do crescimento do comércio de tecnologias de energia limpa para a segurança energética global. A mudança da importação de combustíveis fósseis para tecnologias limpas pode tornar o suprimento energético mais resiliente, já que os equipamentos de energia limpa duram mais e exigem menos reabastecimento em comparação com os combustíveis fósseis. No entanto, a segurança energética enfrenta novos desafios: hoje, cerca de metade do comércio marítimo de tecnologias de energia limpa passa pelo Estreito de Malaca, um volume significativamente maior que os cerca de 20% de combustíveis fósseis que passam pelo Estreito de Ormuz.
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