O ministro Alexandre Silveira anunciou que o CNPE discutirá Angra 3 na reunião agendada para 4 de dezembro, com a intenção de encerrar essa discussão ainda este ano. Nossas expectativas são positivas quanto à continuidade das obras. Em alguns ministérios que compõem o CNPE, sabemos que ainda há uma ou duas dúvidas, e existe um ministério que se opõe de forma mais radical ao projeto, devido a questões ideológicas e a uma compreensão limitada da matriz energética brasileira. No entanto, acredito que o entendimento sobre a continuidade das obras prevalecerá.
Quais seriam as consequências de não concluir a obra?
Muitas pessoas acham que o custo para desmobilizar a usina seria equivalente ao valor necessário para concluir a construção. Não é bem assim. É preciso levar em conta também o risco jurídico, que é monstruoso. No final, quem acabaria pagando essa conta é o povo brasileiro, que teria de arcar com os custos da desmobilização da obra. Toda essa postura contra Angra 3, sem um respaldo técnico significativo, terá um impacto direto no bolso das pessoas.
Esse processo de reavaliação sobre Angra 3, que já dura cerca de dois anos, está prejudicando várias empresas — e algumas podem, inclusive, sair do setor. Não podemos ficar eternamente aguardando uma decisão; é preciso agir. Além disso, estamos falando de 5 a 7 mil empregos imediatos gerados na região, o que tem um impacto importante para a economia local. Caso a obra seja descontinuada, essa conta será do governo Lula. Teremos, então, um monumento à incompetência. Isso é fato.
Como o senhor avalia o atual momento do setor elétrico brasileiro?
Nosso sistema elétrico enfrenta um problema sério. O país incentiva o crescimento de fontes solares e eólicas a uma taxa insustentável, que nosso sistema não consegue suportar. Agora, temos várias usinas solares e eólicas que não conseguem se conectar ao sistema de forma estável, sofrendo quedas ou até comprometendo a estabilidade do sistema. Não se trata de afirmar que uma fonte é melhor ou pior. A questão não é essa. Nesse momento de transição energética, todas as fontes são importantes. Não é viável realizar essa transição contando apenas com um pequeno grupo de fontes. A discussão precisa ser técnica, e não política, para conseguirmos dar suporte adequado ao sistema.
Essa é uma questão em que precisamos avançar. O Brasil ainda depende das hidrelétricas para compensar as variações provocadas pela energia solar e eólica no sistema. No entanto, enfrentamos um risco hídrico crescente, com secas cada vez mais intensas. Uma boa parte das hidrelétricas brasileiras tem mais de 40 anos e, originalmente, não foram concebidas para esse papel de estabilizar o sistema, compensando variações tão grandes. Além disso, elas não recebem compensação financeira por essa função.
Sem contar que precisamos ‘negociar com São Pedro’, já que lidamos com a incerteza de chuva ou seca. Considerando esses fatores, restam as usinas termelétricas para desempenhar o papel de fonte de base, já que as hidrelétricas não conseguem mais assumir esse papel sozinhas.
Qual o papel da energia nuclear para ajudar a mudar esse cenário?
Um exemplo claro disso é Angra 3. Se já estivesse operando, provavelmente não precisaríamos adotar a bandeira vermelha tão cedo, o que nos permitiria ter uma tarifa mais controlada. Hoje, estima-se que Angra 3 terá uma tarifa de aproximadamente R$ 600,00 por megawatt-hora. Em contraste, algumas térmicas foram contratadas por valores superiores a R$ 700,00, chegando até R$ 1.200,00 por megawatt-hora. Precisamos reavaliar o uso das térmicas, especialmente das movidas a óleo, que estão localizadas na Amazônia, um símbolo mundial de conservação ambiental.
Os microreatores nucleares podem ser uma alternativa viável para substituir essas fontes. Temos a capacidade de implementá-los, e o problema não é financiamento. Recentemente, em Nova Iorque, vários bancos anunciaram planos de investir nessa área. Portanto, é uma questão de vontade e ação. Esse é o momento.
Quais são as principais ações da ABDAN neste momento?
A ABDAN está avançando com uma proposta de agenda parlamentar, que já está pronta e será anunciada em 4 de dezembro, em Brasília. Ela inclui quase 80 projetos de interesse da associação e do setor nuclear, todos mapeados e detalhados no âmbito legislativo. A ABDAN também conta com um ‘escritório virtual’ em Brasília, que nos fornece suporte e realizou o planejamento dessas propostas que estamos desenvolvendo. No próximo ano, colocaremos tudo isso em prática, com um plano de ação para o setor. Dessa forma, a ABDAN abriu esse eixo legislativo, que está sendo estruturado para fomentar o crescimento do segmento nuclear.
Também estamos avançando com propostas técnicas. Concluímos uma análise de impacto e de priorização sobre como realizar a transição das térmicas a carvão, cuja desativação está prevista por lei para 2040. Essa proposta será anunciada nos próximos dias. Assim, temos diversas ações em andamento.
E quais são as outras novidades a caminho?
Durante o nosso evento Nuclear Legacy, que ocorrerá nos dias 5 e 6 de novembro, algumas das nossas empresas vão assinar novos contratos, e a própria ABDAN também formalizará acordos com outras entidades. É importante destacar esses avanços para mostrar que o setor não está parado.
A questão dos SMRs (Pequenos Reatores Modulares) está avançando e se tornando uma realidade. A ABDAN vem se preparando há muitos anos para essa discussão e continuará a fazê-lo. A partir da década de 2030, esses reatores estarão disponíveis em escala industrial, o que torna essa discussão essencial para o cenário decenal. O Brasil, por exemplo, está neste momento discutindo o PDE 2034, que já engloba esse período.
Também estaremos lançando as bases iniciais da NT2E, que será realizada em maio do próximo ano. Essa nova edição será o dobro do tamanho da feira anterior, com muitos parceiros de todo o mundo convidados a participar e colaborar conosco.
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