DESCOMPASSO DENTRO DO PRÓPRIO GOVERNO PELA MARGEM EQUATORIAL IMPEDE O PAÍS DE TER MAIS PESO NO SETOR DE PETRÓLEO
Reservamos para a edição desta quinta-feira (12) do Projeto Perspectivas 2025 uma entrevista com um profissional de muita experiência no setor de óleo, gás e energia, velho conhecido do mercado que enxerga grandes oportunidades para o Brasil. Armando Cavanha empresta toda sua experiência para ser um consultor atento e requisitado, além de partilhar seus conhecimentos com os alunos da PUC-Rio, onde é professor. Ele vê uma demanda crescente em pesquisas sobre energia através das universidades e das empresas. Mas não demonstra tanto otimismo em relação a meta Net Zero para 2050. Para ele, difícil de ser alcançada. No campo do petróleo, vê tranquilidade no mercado, sem sustos, mesmo com o Oriente Médio começando a borbulhar com a água no fogo quase chegando aos 100 graus. O que lhe dá esta garantia é uma produção firme na casa dos 100 milhões de barris por dia, com o mundo abastecido e o Brasil com a tranquilidade de quem tem um excedente de produção de petróleo. Mesmo assim, Cavanha aponta que o Brasil pode se tornar um player mais significativo em energia de uma forma geral, com a imediata liberação da exploração da Margem Equatorial. Vamos, então, à participação do Professor Cavanha:
– Como foi o ano de 2024 para em seu segmento de atuação?
– O ramo de Estudos e Pesquisa sobre Energia tem tido uma demanda crescente, inclusive em 2024. Universidades, Fundações, Empresas, todos enxergando a diversificação energética como uma demanda da sociedade e oportunidades de desenvolvimento.
O segmento da Energia não contemplou todos os seus objetivos iniciais. A meta Net Zero, para 2050, está distante de ser alcançada. A contribuição das fontes solar e eólica, apesar de seu crescimento numérico, tem trazido dúvidas sobre a sua intermitência e demanda por energia despachável de backup. A emissão de CO2 encontra-se em volumes praticamente sem queda.
Alguns fatores neste segmento foram positivos. Um deles, o volume suficiente de produção de petróleo no mundo, na casa dos 100 milhões de barris por dia, mantendo o mundo abastecido e os preços sem sustos. Para o Brasil, o excedente de produção de petróleo líquido é uma tranquilidade. Os preços internos no Brasil estão acomodados, mesmo com um dólar crescente. A retomada da fonte nuclear para geração elétrica parece tomar corpo.
A China continua dominando por completo os materiais e equipamentos das energias renováveis, como placas solares e baterias de carros elétricos. O mundo acabou por aceitar este domínio e parece que resolveu conviver com esta dependência estratégica.
No Brasil, permanece a indecisão sobre a liberação ambiental da Margem Equatorial. Continua o desalinhamento entre Governo Federal e as Agências Reguladoras. Ressurgem as ameaças de influências partidárias nas estatais novamente.
– Se fosse consultado, quais sugestões daria para melhorar o ambiente de negócios no seu setor?
– Há várias recomendações que poderiam fazer o Brasil se tornar um player mais significativo em Energia de uma forma geral.
Começando com a imediata liberação, para exploração, da Margem Equatorial. Outro tema é um foco especial para ajustar a logística excessivamente rodoviária e dependente do Diesel, trazendo participação de outros modais mais baratos para o escoamento da produção. Novos estudos dos riscos da energia hidrelétrica, com as mudanças de clima, e escolhas de contingências baratas e abundantes. Rever a insana proibição do Fracking no país, em comparação com o que fazem há anos Argentina e EUA.
– A seu ver, de que forma os recentes acontecimentos nos cenários político e internacional nos EUA, Europa e Oriente Médio podem influenciar os negócios no Brasil?
– O governo americano, que se inicia em 2025, aparentemente aposta mais forte nas energias convencionais do que nas renováveis, sinalizando retirar subsídios das renováveis e veículos elétricos, o que trará consequências para o mundo todo. Inclusive para o Brasil.
A dubiedade do Brasil em relação aos BRICS, Rússia, Irã, e outros por um lado e, em contrapartida, alguma aproximação inclusive militar com os EUA, requer clarificação. Os EUA voltam a enxergar o Brasil no mapa estratégico mundial, percebem que perdem apoio e influência no hemisfério sul sem o Brasil, e isto traz consequências e oportunidades de toda natureza: política, parcerias, apoio, energia.
O mundo está tornando-se “mais elétrico”, com a chamada eletrificação, com a proibição de fornos a gás já em alguns estados americanos, o que certamente irá influenciar o Brasil, mesmo que em tempo defasado.
Também, a demanda enorme para processamento de Inteligência Artificial, a mineração de Criptomoedas, os alimentadores para carros elétricos, tudo isso exigindo um avanço volumétrico da geração de eletricidade, dos grids, das linhas de transmissão e especialmente das contingências, pode trazer aumento de custos de infraestrutura, impactando o Brasil.
No Brasil, as hidrelétricas começam a mostrar mais vulnerabilidades, por conta de mudanças climáticas, redução de florestas, o que impulsiona outras energias a crescerem mais proporcionalmente. Decisões estratégicas que devem ser claras agora para atrair investimentos seguros.
O Gás Natural, no Brasil, que ainda contém as incertezas da produção x reinjeção e a complicada legislação federal x estadual produz quedas de braço constantes e ineficazes para o país. A recomendação é, de forma firme e republicana, chegar a uma simplificação e clareamento das regras em 2025.
O Brasil ainda não tem uma regulação aprovada para os mercados de carbono. Em andamento, mas sem data para começar. Compra e venda de créditos, tema que os europeus tanto desejam, para “pagar” pelas emissões não compensadas localmente. Há uma expectativa que, em 2025, o Brasil aprove esta legislação. A recomendação é terminar esta tarefa.
– Por fim, quais são as perspectivas de sua empresa para o ano de 2025?
– Os estudos sobre Energia aparentam um crescimento ininterrupto em 2025 e nos anos seguintes. As transformações, incertezas, impactos de preços, regulação, tudo isto irá requerer suporte e demandar técnicas e tecnologias para solução. Sem dúvida estaremos sendo requisitados para novas avaliações, reavaliações, discussões e debates. O que se espera é termos objetividade e substituirmos os discursos longos e políticos por dever de casa para fazer. Um ano de 2025 de muita atividade é o que se espera neste segmento.
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