UM TEXTO DO JORNALISTA ALEXANDRE GARCIA TRADUZ O MOMENTO MAIS DELICADO DAS MAIORES INSTITUIÇÕES POLÍTICAS BRASILEIRAS
Desde que as notícias passaram a ser 24 horas na TV, transformaram-se em um entretenimento ruim. As redes sociais puseram em risco os grandes conglomerados da comunicação porque passaram a fazer o que nas faculdades de comunicação se chama de jornalismo comparado. A partir deste momento, muitas mentiras e manipulações receberam luz. Quantas e por quanto tempo grandes corporações ainda vão resistir repetindo diariamente essa obviedade? Quantos jornalistas já caíram em descrédito e quantos ainda cairão? Eles pararam de dizer as notícias e começaram a nos dizer o que acham das notícias e qual deveria ser as nossas opiniões sobre essas notícias. Os brasileiros deixaram de ser manipulados. O povo pode ser ingênuo e ter boa fé, mas não gosta de ser idiota. Em pouco tempo, não acreditarão nem que existe o dia e a noite, se isso for afirmado por alguns jornalistas. Mas neste lago onde muitos se banham, existe uma voz clara e firme que nos desperta através de suas colunas independentes e da rede social. Por isso, o Petronotícias quer destacar agora um texto escrito pelo brilhante jornalista Alexandre Garcia. Um texto impactante, forte e definitivo, apesar de sua sutileza. São verdades dirigidas, não de forma nua e crua, mas bem vestidinhas e bem cozidinhas.
Verdades que deveriam envergonhar aqueles que foram os escolhidos para ter o direito especial de serem os Guardiões da Constituição. Alguns pegam o texto dela, subvertem os significados das palavras, fingem que ninguém vai perceber, e as usam para atender as suas ideologias, sem se preocupar se isso implicará em prender, ferir, humilhar seus semelhantes. Sabem falar, mas não sabem praticar. Fingem ter consciência, mas cometem arbitrariedades onde não há qualquer bom sentimento. Não usam a lei para fazer justiça. Nem se recordam do Princípio que não há justiça sem amor. Talvez até por isso, Alexandre Garcia diz que a estátua que representa a Justiça, em frente ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, não tenha a balança, mas pousa em seu colo, uma longa espada. Uma espada que tem sido usada de forma indiscriminada para livrar condenados de todos os castigos e impingir a dor à quem pensa diferente.
Como estarão as consciências de alguns deles passando a noite de Natal em casa, rindo com seus familiares, entre taças e castanhas? Será que lembrarão daqueles que estão nas prisões condenados a até 17 anos por terem participado de manifestações pelos seus pensamentos? Alguns foram tratados até de, acredite, “terroristas.” Uma dessas “terroristas”, uma cabelereira, com dois filhos de 10 e 6 anos, foi presa porque escreveu uma frase agressiva dita por um dos ministros supremos, revelando a sua clara imparcialidade: “Perdeu, Mané. Não Amola.”
Por ter escrito isso, ela está condenada a passar anos na cadeia em regime fechado, longe de seus filhos. Enquanto isso, a mulher do ex-governador Sérgio Cabral, a advogada e ex-Primeira Dama do Rio, Adriana Ancelmo, foi liberada de suas condenações por desvio de dinheiro público, porque tinha dois filhos menores de 12 anos. A justiça das Leis não foi aplicada aqui. Apenas a dos Homens. Uma justiça politizada sob o olhar complacente de um senado formado por outro tipo de Homens, que também estarão entre taças e castanhas, como se não tivessem nada com isso. Peso na consciência? Só alguns poucos, claramente a minoria.
Em meio a tudo isso, o país vive uma crise econômica séria, grave, com o dólar já tendo sido vendido a um valor de R$ 6,30 porque o mercado aposta que ele valerá mais. Qual será o reflexo no preço do barril de petróleo para o Brasil? Por quanto tempo a Petrobrás engolirá essa diferença absurda e repassará para o consumo dos combustíveis? O texto de Alexandre Garcia também lembra da prisão de um General de Quatro Estrelas, considerado pela grande maioria do Exército e pelos brasileiros que conhecem a sua história, com um herói nacional. Quem determinou a prisão do General Braga Neto, claramente ilegal, quer passar uma mensagem aos seus opositores e humilhá-lo, fazendo com que passe a noite de Natal, sozinho, sem a sua família, sem seus filhos e netos. Um toque de “classe” para mostrar quem manda no país. Nas redes sociais, pode se ver claramente como o brasileiro passou a ver as nossas forças militares, que para muitos era a última instância para ver o fim do que consideram desrespeitos aos textos constitucionais. O texto do jornalista Alexandre Garcia resume tudo isso em palavras sábias e bem aplicadas. Para um bom entendedor, um pingo é letra. Deixamos a sugestão para aqueles responsáveis pelas prisões que, na Noite de Natal, recolham-se antes das taças e castanhas, mergulhem na própria consciência e se perguntem: Estou agindo dentro da lei? De qual lei? O que eu estou plantando na consciência do povo brasileiro? Vamos então às palavras de Garcia, com sua devida autorização.
Comecei a escrever este artigo meia hora depois de o ex-governador do Distrito Federal e ex-senador José Roberto Arruda ter me perguntado que rumo eu prevejo para o Brasil. Respondi que não tenho bola de cristal, porque nosso rumo é impossível de prever. E citei Pedro Malan, como havia citado, horas antes, com o ex-presidente Bolsonaro: “No Brasil, até o passado é imprevisível”. Argumentei que, com uma população indiferente a grandes questões e objetivos nacionais, cujas elites igualmente mal conseguem observar a periferia de seus umbigos, é impossível identificar qualquer rumo para um país. Sem espírito público, sem consciência social e nacional, sem ativismo cidadão, sem objetivos, com uma passividade quase masoquista, é impossível perceber um rumo para o Brasil, a não ser um marchar vagabundo (no seu stricto sensu), andando cada passo sem saber para onde vai.
Se tivéssemos fidelidade à Constituição, pelo menos teríamos uma disciplina sobre o andar para o dia de amanhã, mas até disso fomos privados. O guardião da Constituição passou por cima dela e se tornou mais importante que ela; faz as regras sem perguntar aos que representam o que seria o poder originário, o Legislativo, que recebeu a procuração do voto da origem do poder. A omissão dos que juraram defender e manter a Constituição contribui para esses desvios de rumo. Quem poderia corrigi-los, o Senado, está congelado por um presidente igualmente inerte. Aí o presente e o futuro rumam “qual pluma ao vento”, como a ária da ópera.
Aí, tudo aqui é imprevisível. Ninguém sabe o que pode ser o dia seguinte. Podemos amanhecer com um general de quatro estrelas preso por ter recebido um telefonema; podemos acordar com o dólar acima de R$ 6, ou com a picanha ainda mais longe. Pode morrer no presídio um preso por se manifestar, que só vai abalar os que vivem a cidadania, mas nunca os responsáveis pela morte. E as instituições permanentes de Estado entram em letargia, como se não fossem responsáveis pela manutenção da lei. Os representantes do povo, que juraram manter e defender a Constituição, vivem seu próprio mundo de interesses egoísticos, e lavam suas mãos sobre o futuro de seus filhos, netos e bisnetos. Parece haver uma alienação geral.
O poder faz, volta e meia, lancetadas, para saber se a cidadania ainda sobrevive a tantas amputações de direitos, e se ouvem apenas gemidos. A liberdade de expressão vai sendo sufocada; busca-se suprimir a vedação à censura, relativizar a inviolabilidade do mandato parlamentar, sepultar o devido processo legal, inverter a relação Estado-nação. Pois, como se sabe, o Estado só existe para servir a nação; só se justificam impostos se for para prestar bons serviços à nação – e não para sustentar o Estado ineficiente. E, assim, sem norte, sem rumo, sem saber para onde vamos, passamos de um dia para o outro, sem perceber que no caminho vamos afundando em areias movediças.
Tem quer ter muita falta de inteligência ou falta de noção da realidade para negar a óbvia tentativa de Golpe de Estado, com áudios, vídeos, mensagens, depoimentos, confissões e documentos já apresentados ao público. Alexandre Garcia é uma vergonha.