INDÚSTRIA NACIONAL REPERCUTE A POSSE DE DONALD TRUMP, ENXERGANDO OPORTUNIDADES PARA O BRASIL NO SETOR DE ENERGIA
O Petronotícias inicia o noticiário desta quarta-feira (22) com uma reportagem especial que ainda repercute a posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Estamos no terceiro dia da nova administração da Casa Branca, e muitas perguntas sobre o futuro do planeta permanecem sem respostas. No entanto, os primeiros anúncios e decretos assinados pelo presidente recém-empossado já oferecem subsídios para as primeiras análises. Já é possível identificar desafios e oportunidades para o Brasil diante da mudança na política estratégica dos Estados Unidos, que abandona o foco na transição energética para retomar investimentos em combustíveis fósseis. O Petronotícias entrevistou representantes de diferentes setores — incluindo energia solar, biocombustíveis, indústria e petróleo & gás. De forma geral, os executivos brasileiros apontam que as políticas de Trump podem trazer desafios, como impactos na produção de biocombustíveis à base de sebo bovino. Por outro lado, destacam que o Brasil pode se beneficiar de novas oportunidades e atrair investidores, especialmente no segmento de energia solar.
Vamos começar com a avaliação do Presidente executivo da ABSOLAR, Rodrigo Sauaia:
Com muita naturalidade, encaramos a vitória do Trump, do Partido Republicano, porque essa não é a primeira vez que ele assume a presidência dos Estados Unidos. O setor solar já passou por isso sem sobressaltos. Durante o primeiro mandato do presidente Trump, a fonte solar fotovoltaica cresceu 128% no país, um avanço significativo. Hoje, é a fonte de geração de energia elétrica que mais cresce nos Estados Unidos, liderando a expansão de capacidade de geração de energia nova. Além disso, a energia solar tem contribuído para a independência e a segurança energética do país. Muitos estados onde a energia solar mais cresce são liderados por governadores republicanos.
Por outro lado, observamos nos primeiros decretos presidenciais assinados pelo presidente Trump um claro distanciamento da agenda de meio ambiente, sustentabilidade e transição energética. Há sinais de retirada de incentivos para tecnologias limpas e, ao mesmo tempo, esforços para ampliar a extração e o uso de combustíveis fósseis, que emitem poluentes e contribuem para o aquecimento global.
Com isso, é provável que muitas empresas e investidores que possuem compromissos com a sustentabilidade busquem diversificar seus mercados e investimentos fora dos Estados Unidos, alinhando-se às suas diretrizes internas e metas ambientais. Para o Brasil, isso representa uma grande oportunidade. Nosso país possui um dos melhores recursos renováveis do mundo, além de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável de tecnologias limpas. Isso pode atrair investidores internacionais. O Brasil tem condições de se posicionar como um destino atraente para investimentos internacionais, vindos tanto de empresas norte-americanas quanto de instituições financeiras dessa região. Além disso, há oportunidades no fornecimento internacional envolvendo outros países.
Em resumo, estamos vivendo um momento de grandes mudanças. O governo federal norte-americano está se distanciando da agenda de sustentabilidade e transição energética, o que é prejudicial para o mundo de forma geral. No entanto, isso não significa que os Estados Unidos estejam fora do jogo ou das mesas de negociação. Os Estados Unidos também são representados por seus estados, municípios, entidades civis organizadas, a sociedade civil, a academia e o setor privado. Esses agentes devem se articular para ocupar o espaço deixado por esse movimento do governo federal.
Agora, vamos conhecer o posicionamento institucional enviado pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan):
Os EUA são um parceiro estratégico da indústria fluminense, o segundo maior parceiro comercial do estado do Rio, com uma corrente de comércio de US$ 16 bilhões em 2024, e um mercado de grande relevância para as exportações de setores como metalúrgico, aeronáutico, gás natural, petróleo e derivados. O país também é a principal origem de investimentos estrangeiros diretos no Brasil somando mais de US$ 358 bilhões em 2023.
A Firjan acompanha as movimentações e implementações das medidas que poderão ser adotadas pelo novo governo já que os EUA desempenham um papel fundamental na integração das cadeias globais de valor e nos fluxos de investimentos. Dessa forma, é fundamental observarmos como estes possíveis movimentos irão modificar as relações comerciais das empresas americanas com os demais países e, consequentemente, os possíveis impactos e oportunidades que podem se apresentar para as empresas fluminenses.
Nós ouvimos também o especialista em combustíveis da consultoria Argus, Amance Boutin, que traz sua projeção do impacto de Trump no mercado de biocombustíveis:
Será muito difícil tentar qualquer tipo de previsibilidade diante dessa mudança de governo nos EUA. Já vivíamos um momento de incerteza com o último documento emitido pela administração Biden sobre biocombustíveis nos Estados Unidos. Ele já tinha impacto sobre o Brasil e traçava grandes diretrizes, mas sem garantia de que seriam implementadas. Ainda não havia certeza se haveria algum tipo de restrição ao produto brasileiro.
A questão mais relevante para o Brasil é em relação ao etanol de cana-de-açúcar. Inclusive, já tem uma planta da LanzaJet nos Estados Unidos utilizando esse insumo de origem brasileira. Outra questão é o óleo de cozinha usado. Embora ainda seja um mercado incipiente, havia movimentação para obter especificações que permitissem exportação.
Portanto, nesse cenário, o sebo bovino e o etanol de cana de açúcar tinham sinais positivos, mas agora com a chegada de Trump ao poder, o cenário foi modificado. Ele anunciou que pretende cancelar políticas e usar decretos presidenciais para desfazer o que foi implementado pelo Biden, mencionando a retirada de subsídios para carros elétricos e transição energética, além de facilitar a regulação para produtores de petróleo.
Hoje, não sabemos como será o futuro. Duas semanas atrás tínhamos uma realidade, mas agora tudo mudou. O desafio é entender o que permanecerá e o que será revogado. Contudo, desfazer tudo talvez não seja tão simples. Isso porque a política de energia renovável do Biden, dentro do Inflation Reduction Act (IRA), acabou consolidando-se ao direcionar muitos recursos para estados agrícolas, que em grande parte apoiaram Trump e congressistas republicanos. Esses estados também têm interesse no setor. Precisamos esperar para ver o que vai e o que fica.
Mas, imaginando que o Trump consiga implementar sua agenda de redução de investimentos em renováveis e favorecer combustíveis fósseis, o impacto para o Brasil seria pequeno. O Brasil, em termos de biocombustíveis, quase não exporta para os Estados Unidos. No entanto, o sebo bovino pode sofrer um revés, já que vinha em uma tendência ascendente de exportação nos últimos dois anos. Hoje, grande parte do sebo bovino exportado vai para os Estados Unidos, onde é utilizado na produção de combustíveis renováveis, como diesel renovável e combustível de aviação sustentável.
Por fim, o presidente da ABPIP, Marcio Félix, mostrou-se otimista com o futuro:
A prioridade dada à atividade de exploração e produção de petróleo e gás nos Estados Unidos, notadamente onshore, vai aquecer o mercado de bens e serviços especializados e estender a posição de principal produtor e mercado para hidrocarbonetos.
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