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POLÍTICOS E MEMBROS DA INDÚSTRIA FAZEM APELO FINAL AO GOVERNO EM DEFESA DA RETOMADA DE ANGRA 3, QUE SERÁ DISCUTIDA HOJE NO CNPE

angra3-foto001Chegou o grande dia D da indústria nuclear brasileira. Nesta terça-feira, o governo Lula deve decidir se retomará ou não as obras de Angra 3, durante uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), em Brasília. Há muita expectativa em toda a indústria, pois uma decisão que não seja a continuidade da construção pode representar um golpe duríssimo – e, talvez, fatal – nesse setor. O Petronotícias acompanha desde as primeiras horas da manhã todas as movimentações nos corredores da capital federal e trará os desdobramentos e repercussões da decisão tomada pelo governo. Para iniciar o noticiário deste dia decisivo, ouvimos algumas personalidades da política e do setor produtivo para saber o impacto de Angra 3 no futuro da economia e da matriz energética brasileira.

cunha copiarPara o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, a reunião do CNPE de hoje é fundamental para o destino do setor como um todo. De acordo com o dirigente, a decisão sobre a conclusão de Angra 3 vai muito além de simplesmente finalizar uma obra. “Estamos falando do futuro do setor nuclear. Se essa usina não for concluída, as empresas envolvidas terão que buscar outros segmentos, e isso pode levar à perda de mão de obra qualificada. Alguns profissionais podem até ser realocados para fora do país, mas, no geral, haverá uma desestruturação completa do setor”, alertou.

Cunha destacou ainda que caso o governo cometa o equívoco de abandonar o projeto, precisará pagar um preço alto. “E não estamos falando apenas dos R$ 21 bilhões já investidos. Haverá também um enorme custo jurídico, com disputas e contenciosos que só aumentarão o ambiente tumultuado”. O presidente da ABDAN frisa que a paralisação de Angra 3 desestabilizaria toda a cadeia produtiva e comprometeria diversos projetos em andamento. “Não há nada pior do que isso. E, tecnicamente, a questão já está resolvida: a EPE, o BNDES e outros órgãos já se posicionaram a favor da continuidade da obra. Não existe justificativa técnica para interrompê-la”, concluiu.

julio-lopesNa esfera política, há também uma intensa mobilização para convencer o governo. O presidente da Frente Parlamentar Nuclear, deputado Julio Lopes, falou ao Petronotícias que Angra 3 significa sair da “bandeira vermelha”, não só no setor elétrico, mas também no campo tecnológico, acadêmico e científico.

O parlamentar comparou a situação da usina brasileira com um projeto similar na Europa. “Essa obra está parada há mais de 20 anos, e precisamos seguir o exemplo da Finlândia. Eles têm uma usina idêntica à nossa, construída com a mesma tecnologia e pelos mesmos contratantes. Ficou paralisada pelo mesmo período e, hoje, não apenas é a maior térmica da Finlândia, responsável por mais de 5% da energia do país, mas também uma das mais avançadas da Europa e do mundo”.

Lopes refutou também a ideia de que Angra 3 será uma usina antiga, já que opositores ao projeto dizem que equipamentos foram comprados há muitos anos. “Isso é um equívoco. Os equipamentos adquiridos são eletromecânicos convencionais, que não sofreram mudanças tecnológicas significativas nas últimas décadas. Já os sistemas digitais de controle da usina ainda serão licitados e serão modernos. Portanto, a população precisa saber que nossa usina tem total capacidade de se tornar uma das mais modernas do mundo, assim como ocorreu na Finlândia”, pontuou.

Eduardo_Paes,_October_2024Prefeitos do estado do Rio de Janeiro também se mobilizaram em favor de Angra 3 e enviaram mensagens ao presidente Lula para sensibilizá-lo em favor da usina. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, disse que é importante demais para o Brasil e para o Rio de Janeiro continuar com as usinas de Angra. “O governo já investiu muito. Desmobilizar vai custar uma fortuna e não vale a pena. Vamos lá, o Rio de Janeiro conta com você [referindo-se ao presidente Lula]”, declarou.

Já o prefeito de Mangaratiba, Luis Claudio Ribeiro, realçou que no momento em que o mundo todo discute IA, a energia nuclear é importantíssima para sustentar essa pauta. “Com avanço de Angra 3, Mangaratiba vai poder qualificar sua mão de obra e formar pessoas para grandes empregos na região”, acrescentou. O prefeito de Angra dos Reis, Claudio Ferreti, também declarou que é favorável à continuidade da usina.

Carlos Henrique Silva SeixasEnquanto isso, o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), Carlos Seixas, lembra que já existem mais de 11 mil equipamentos prontos para a usina e uma dívida de cerca de R$ 21 bilhões a serem pagos. “Se Angra 3 não for construída, teremos um prejuízo enorme: R$ 21 bilhões gastos, equipamentos já prontos sem utilização e nenhuma produção de energia. Angra 3 é fundamental não apenas para a geração elétrica, mas também para o avanço da energia nuclear no Brasil”, ponderou.

Como noticiamos ontem (17), Seixas entregou ao presidente Lula uma carta assinada por representantes de todo o setor nuclear, defendendo a retomada das obras. “Esse projeto traz um impacto tecnológico importante, impulsionando o desenvolvimento dos reatores modulares pequenos (SMRs) e do Reator Multipropósito Brasileiro. Ou seja, não se trata apenas da construção da usina, mas de todo um setor que será fortalecido.

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Dráusio Lima AtallaLuciano Seixas Chagas Recent comment authors
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Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

Os problemas com Angra 3 são vários. O que está em jogo é a capacidade da usina ser construída observando prazos e orçamentos, além de não apresentar modificações do projeto Konvoi em magnitude que dificulte ou atrase o licenciamento. A reportagem diz que a usina finlandesa é igual a Angra 3, um Konvoi alemão. Veja, se não conseguimos nem precisão nisto, imagina o resto. A usina finlandesa é um EPR, o primeiro a funcionar. O EPR foi desenvolvido pela França e a Alemanha, portanto mesmo a Alemanha tendo saído da indústria, o EPR finlandes tem DNA francês, ainda no mercado.… Read more »

Luciano Seixas Chagas
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Luciano Seixas Chagas

Posso estar enganado mas a questão de abandono do projeto tem interesses umbilicais dos poucos que adoram as finanças pelas finanças, pouco se importando com o desenvolvimento pátrIo. Tudo começou com a privatização fake da Eletrobrás onde o minoritário (10% das ações) é o gestor da empresa que detém grande parte das ações de Angra 3, razão pela qual não quer botar mais grana no projeto, pois isso impactaria nos resultados da Eletrobrás e nas expectativas de lucro para o grupo administrador, aliás o mesmo das Americanas. Lembram! E assim funciona o capital no Brasil. Ainda mais eles querem transferir… Read more »

Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

Will, vontade é a questão. Arrecadamos quase 40% do nosso PIB em impostos. Uns 800+ bilhões de dólares por ano. Uma usina nova custa 5 bilhões overnight, com juros durante a construção, chega a 7 bilhões quando ligada. Em 17 ou 20 anos se paga, dedicando 60% da tarifa para o capital e seu custo, e 40% para operação e manutenção. 7 bilhões representa 0,3% do PIB. Uma central com seis unidades custaria 1,8% do PIB, apropriados entre cinco e dez anos. A central produziria por até cem anos, com efeitos diretos, indiretos e o induzidos na criação de valor… Read more »