TENSÃO PROVOCADA POR CORTES DE CUSTOS DA ELETRONUCLEAR CAUSA PREOCUPAÇÃO EM FUNCIONÁRIOS E JÁ AFETA A OPERAÇÃO DA EMPRESA
O Petronotícias inicia o noticiário desta quarta-feira (19) trazendo novos desdobramentos sobre a situação da Eletronuclear, que está vivendo um momento conturbado diante das ameaças de reduções de custos com pessoal. Funcionários de diferentes níveis hierárquicos estão vivendo sob a tensão desde o anúncio dos planos de austeridade revelados recentemente pela direção da companhia. Além da preocupação pessoal com suas obrigações financeiras diante dos cortes, os servidores da Eletronuclear convivem ainda com os temores sobre a segurança das usinas Angra 1 e Angra 2. Para trazer um relato detalhado e contundente do sentimento atual nos bastidores da companhia, o Petronotícias publica a seguir a íntegra de um alerta feito por um grupo de funcionários da Eletronuclear, evidenciando que já há “uma preocupação crescente quanto ao aumento de acidentes, tanto pessoais quanto materiais, devido à falta de foco e motivação”.
No texto, os servidores narram que já há um aumento em falhas decorrentes de erro humano, como trabalho em equipamentos inadequadamente isolados e intervenções com erros de montagem, o que eleva consideravelmente o risco de acidentes graves. “Quando um funcionário está distraído, estressado ou emocionalmente abalado por questões pessoais, sua capacidade de seguir procedimentos e identificar riscos pode ser comprometida. Fatores como redução da atenção e do foco, aumento do estresse psicológico, prejuízo na comunicação e trabalho em equipe, desmotivação generalizada, aumento de riscos de acidente já estão presentes no nosso dia a dia”, diz o alerta.
Veja a seguir o texto na íntegra:
Na qualidade de supervisores de primeira linha, com atuação direta no dia a dia das tarefas no chão de fábrica e com a missão de liderar nossas equipes de forma a propiciar o mais alto rendimento do trabalho dessas equipes, sentimos a urgente necessidade de alertá-los para as possíveis consequências das recentes decisões administrativas da Eletronuclear, as quais têm gerado um impacto negativo significativo em nosso ambiente de trabalho.
Temos o duplo desafio de, ao mesmo tempo que somos também atingidos pelas medidas tomadas, não externarmos nossas preocupações e tentarmos manter a equipe com foco no que é mais caro à nossa empresa: a garantia de uma geração intrinsecamente segura ao meio ambiente e ao indivíduo público.
Dentre essas decisões, destacam-se, principalmente:
Realocação dos empregados que moram de forma permanente na região das usinas, da Hospedagem 1 para a Hospedagem 3. A Hospedagem 3 sabidamente possui condições de habitabilidade inferiores à Hospedagem 1. Determinar que funcionários que residem permanentemente na região e trabalham nas usinas habitem em local de qualidade inferior para priorizar a moradia de qualidade digna para funcionários que se encontram em viagem e necessitam de estadia esporádica e de curta duração é inadmissível;
Judicialização constante de Acordos Coletivos de Trabalho, sempre com o objetivo de postergar ou eliminar direitos e benefícios conquistados ao longo do tempo em negociações já concretizadas e acertadas entre empresa e funcionários. Não se consegue entender o motivo de com o passar do tempo as exigências de melhoria na eficiência do trabalho dos funcionários sempre ocorrerem, mas a contrapartida meta, por parte da administração das empresas, de redução dos direitos e benefícios desses mesmos funcionários;
Incertezas quanto ao pagamento da Periculosidade. Sucessivas reavaliações de pagamento da periculosidade vêm ocorrendo nos últimos anos, não sendo isso razoável em função de todos os funcionários que atuam diária ou rotineiramente dentro das usinas não fazerem usufruto de nenhum outro status de trabalho e muito menos dos riscos aos quais estão expostos (radiação, choque elétrico, físico ou ambiental);
Divulgação pública de listas de salários dos funcionários. Especialmente na região das usinas, a população tem profundo conhecimento pessoal dos funcionários, inclusive do onde cada um mora e quem são seus familiares. O conhecimento público do salário de cada funcionário expõe os empregados aos riscos de pessoas de má fé realizarem ações contra eles ou seus familiares;
Ausência de acordo de trabalho específico para as Paradas das Usinas. A inexistência da escala proporcionou uma enorme dificuldade para nós, supervisores, conseguirmos escalar os melhores profissionais para atuarem nas tarefas mais importantes, gerando atrasos e redução da qualidade da supervisão das atividades;
Cobrança de taxa de utilização das residências funcionais. A cobrança foi divulgada sem a existência de critérios claros e transparentes que expliquem o que está sendo cobrado, uma vez que a conservação, limpeza, manutenção e segurança das moradias já são custeadas pelos funcionários há muitos anos. Os contratos existentes relativos a esses serviços são prestados nas demais áreas de propriedade da empresa e não nas moradias ocupadas;
Perda ou redução de benefícios. Todos os benefícios existentes, chamados indevidamente de regalias, foram conquistados ao longo do tempo mediante troca por impossibilidade de reajustes salariais e compensações por condições deficientes de infraestrutura e recursos existente até os dias de hoje na região das usinas;
Indicativo de demissão de todos os funcionários aposentados ou “aposentáveis” pelo INSS. Essa demissão em massa ameaça atualmente o bem-estar e sanidade dos funcionários afetados e, caso seja realizada, ameaça a continuidade da operação confiável e segura das usinas em função da perda repentina de significativo quantitativo de pessoal com alta qualificação técnica sem a devida reposição;
Não pagamento do adicional de substituição durante ausências dos superiores hierárquicos. Todos que atuam dentro das usinas sabem que na ausência dos superiores hierárquicos as suas tarefas e atribuições são desempenhadas pelos seus subordinados chamados “substitutos imediatos”. A designação de superiores hierárquicos para substituições é meramente teórica, não se concretiza na prática para os departamentos com atuação dentro das usinas, gerando um passivo financeiro judicial para a empresa.
Essas decisões têm causado sérios impactos na folha salarial dos colaboradores, resultando em um desfalque significativo no orçamento familiar e gerando perturbação e desmotivação generalizada entre os funcionários.
Compreendemos a situação financeira da empresa e estamos plenamente dispostos a colaborar para a sua recuperação, com medidas discutidas entre as áreas técnica e administrativa e avaliando-se sempre os impactos das medidas na garantia da confiabilidade, disponibilidade e segurança das usinas.
Como efeito das medidas já estabelecidas temos observado, no dia a dia de trabalho, um crescente sentimento de insegurança entre as equipes, que se sentem desorientadas e preocupadas diante das mudanças que estão sendo implementadas. Apesar de nossos esforços para enfatizar a importância da segurança pessoal e dos equipamentos nas reuniões diárias, é visível que muitos colaboradores não estão totalmente concentrados em suas tarefas, pois não sabem se terão recursos para cumprir com suas obrigações financeiras ao fim do mês — uma situação inédita na Eletronuclear.
Esse cenário tem nos gerado uma preocupação crescente quanto ao aumento de acidentes, tanto pessoais quanto materiais, devido à falta de foco e motivação. A preocupação e o esgotamento psicológico estão diretamente ligados ao aumento da probabilidade de erro humano nas atividades. Já observamos um incremento em falhas decorrentes de erro humano, como trabalho em equipamentos inadequadamente isolados e intervenções com erros de montagem, o que eleva consideravelmente o risco de acidentes graves. Além disso, as ações de treinamento — que incluem o treinamento para os operadores licenciados — têm sido depreciadas por falta de concentração e motivação por parte dos treinandos e instrutores. Por mais que todos possuam treinamentos e tenham performance humana, participem de diálogos diários de segurança e possuam as ferramentas necessárias para o trabalho, não há empresa ou consultoria no mundo que consiga fazer frente a uma força de trabalho inteira completamente desmotivada e com o foco de atenção desviado do trabalho para a sua situação financeira e pessoal.
Estamos convencidos de que, devido ao clima organizacional negativo, nossas equipes estão tendo dificuldades para atingir os dois principais objetivos da empresa — “Segurança Nuclear” e “Melhoria Contínua da Segurança e Desempenho Operacional de Angra 1 e Angra 2”. Esse cenário não é resultado de falta de competência ou profissionalismo, mas sim do estado psicológico dos funcionários causado pelas constantes incertezas e decisões impactantes que afetam diretamente o bem-estar de nossos colaboradores e suas famílias.
É amplamente conhecida a importância do fator humano na cultura de segurança de uma organização. Quando um funcionário está distraído, estressado ou emocionalmente abalado por questões pessoais, sua capacidade de seguir procedimentos e identificar riscos pode ser comprometida. Fatores como redução da atenção e do foco, aumento do estresse psicológico, prejuízo na comunicação e trabalho em equipe, desmotivação generalizada, aumento de riscos de acidente já estão presentes no nosso dia a dia.
O objetivo desta carta é levar ao vosso conhecimento a crescente preocupação dos supervisores com o estado psicológico e das condições de trabalho atuais das equipes. Embora ainda nos sintamos capazes de garantir a disponibilidade e a segurança das unidades através da realização das atividades com o nível de excelência que sempre ocorreu, já observamos sinais claros de desmotivação e falta de concentração, o que nos leva a crer que existe um risco iminente de erro humano, que pode gerar eventos indesejáveis no futuro próximo. Ressaltamos também que todas as nossas equipes sempre trabalharam desempenhando suas funções e buscando atingir resultados muito além das suas obrigações. Essa motivação para atingimento de resultados além das suas obrigações atualmente já está perdida.
Diante desse cenário, reforçamos a importância de a alta administração da empresa avaliar com atenção os efeitos dessas decisões sobre os colaboradores e buscar alternativas que minimizem os impactos negativos criados.
Dessa forma, pedimos a intervenção dos senhores junto à administração da empresa com o intuito de reverter as medidas administrativas tomadas e restabelecer o ambiente de trabalho dentro das usinas, eliminando o risco de experimentarmos em breve um evento indesejado de acidente pessoal, comprometimento da disponibilidade operacional, perda de garantia das condições de radioproteção e segurança dos indivíduos ocupacionalmente expostos e do público, ou degradação da segurança nuclear.
Agora há pouco (20) a Eletronuclear enviou a seguinte nota de Esclarecimento, reproduziremos na íntegra:
“A Eletronuclear reafirma que a segurança operacional permanece como prioridade máxima da empresa. A Eletronuclear segue rigorosamente todas as normas estabelecidas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que mantém uma equipe permanente na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA) e realiza inspeções diárias.
O trabalho da CNEN é totalmente independente e seus inspetores possuem autonomia plena para adotar qualquer medida necessária ao cumprimento das normas regulatórias, inclusive, caso necessário, solicitar o desligamento das usinas.
Paralelamente, a Eletronuclear vem a público esclarecer que as recentes medidas de austeridade financeira adotadas pela empresa foram solicitadas pelos órgãos controladores e acionistas como uma condição essencial para a continuidade de suas operações e se tornam imprescindíveis para possibilitar a retomada da construção de Angra 3.
A atual gestão da Eletronuclear tomou posse em dezembro de 2023 e identificou um grave desequilíbrio financeiro, que pôde ser observado ao encontrar apenas 16 milhões de reais em caixa e uma dívida de cerca de R$ 240 milhões da compra de combustível nuclear das usinas Angra 1 e Angra 2, que deveria ter sido paga em 2023 e foi postergada para o ano seguinte.
Em 2022, o PMSO regulatório definido pela ANEEL era de R$ 1,1 bilhão, enquanto a Eletronuclear executou R$ 1,6 bilhão, resultando em um déficit de R$ 500 milhões sem cobertura tarifária. Em 2023, esse déficit foi de R$ 700 milhões, tornando urgentes os ajustes financeiros. Para equilibrar os gastos ao PMSO em 2024, a gestão atual conseguiu reduzir 500 milhões no orçamento previsto, invertendo a tendência de subida. Para 2025 e 2026, está previsto o corte de mais R$ 500 milhões em gastos.
Durante o ano de 2024, a atual gestão enfrentou, em diferentes oportunidades, desafios que apontavam indisponibilidade de caixa, mas que foram superados, momentaneamente, devido às ações realizadas:
Reembolso de impostos pagos desde 2010, de maneira equivocada, pelos rendimentos do Fundo de Descomissionamento; revisão dos investimentos em Angra 3 ao mínimo, considerando basicamente a manutenção dos equipamentos, representando redução de R$ 250 milhões; financiamento de curto prazo de R$ 450 milhões com os bancos BTG e ABC; revisão tributária com obtenção de créditos fiscais históricos em aproximadamente R$ 200 milhões; viabilização de R$ 400 milhões de financiamento mútuo junto ao controlador ENBPar.
Sobre o Fundo de Descomissionamento, o Tribunal de Contas da União avaliou procedente o pedido de reembolso da Eletronuclear, que identificou pagamentos indevidos realizados pela companhia, desde 2010, sobre os impostos de rendimentos do Fundo. Desta maneira, o TCU autorizou um primeiro saque de R$ 374 milhões e, posteriormente, outro de R$ 400 milhões. Importante pontuar que os valores não geram impacto na saúde do Fundo de Descomissionamento.
Apesar dos avanços significativos, o panorama desafiador continua e novas medidas se tornam necessárias para viabilizar a continuidade financeira da Eletronuclear. Sem essas ações, a companhia não terá condições de manter as suas atividades com recursos próprios e levará a Eletronuclear a se tornar uma empresa estatal, dependente do Orçamento-Geral da União.
Essa situação iria limitar ainda mais o orçamento, com possíveis impactos nas realizações das paradas para reabastecimento e compra de combustível das usinas, tarefas que exigem um uso mais intensivo de capital em momentos específicos.
Além disso, a empresa passaria a drenar importantes recursos do Governo Federal que poderiam estar direcionados para políticas públicas voltadas para saúde e educação, por exemplo. Em um outro cenário, o reflexo dessa ineficiência econômica poderia ser visto na conta de luz dos consumidores brasileiros.
A busca pelo reequilíbrio financeiro passa também por medidas estratégicas para aprimorar a gestão da companhia. Em janeiro de 2025 foi aprovado o novo organograma da empresa, que reduziu de 116 cargos de chefia para 73 posições, melhorando a distribuição de processos e pessoal. Essa reestruturação foi baseada em estudos comparativos com usinas nucleares na América Latina, Estados Unidos e Europa, garantindo otimização operacional e uma economia estimada entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões ao ano.
Ademais, essa redução, não representou uma perda para a segurança. Recentemente, todos os superintendentes ligados à operação assinaram um documento declarando que as usinas se encontram em plenas condições de segurança. A empresa acompanha com atenção o clima organizacional entre os colaboradores para assegurar a confiabilidade da operação.
Além disso, não houve aumento no número de acidentes de trabalho na Eletronuclear ocasionados pelas medidas da atual gestão. Contando prestadores de serviço e funcionários da Eletronuclear, a empresa registrou 45 acidentes de trabalho no ano de 2023. Em 2024, o número registrado foi de 34 acidentes. As taxas de ocorrências da empresa seguem dentro dos parâmetros considerados muito bons pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
A Eletronuclear reafirma seu compromisso com a transparência, a segurança operacional e a eficiência na gestão dos recursos, assegurando que as medidas adotadas visam a perenidade da empresa e a conclusão do projeto de Angra 3, fundamentais para a matriz energética e o desenvolvimento do país.”
A usina nuclear de Zaporizhzhia na Ucrânia, ocupada por tropas russas e alvo de bombardeios, mas operada e mantida por ucranianos cativos, assim como os restos de Chernobyl na mesma situação, se tornaram uma questão mundial pela natureza da atividade. A ONU foi obrigada a intervir em nome da humanidade, mantendo um rodízio de técnicos de alto nível na busca de preservar as condições mínimas que evitem outra catástrofe. Pelo relato dos supervisores de primeira linha, a coluna vertebral que liga e mantém conectada o cérebro da organização com aqueles que reproduzem nos equipamentos, sistemas e estruturas a expectativa da… Read more »
A usina de zapo…. não entra nessa comparação porque ali está ocorrendo uma guerra, o Brasil está em paz e quem está fazendo essas barbaridades são tecnocratas defensores do estado mínimo que só usam planilha de Excel para sua tomada de decisão, o que é preciso é uma greve geral para forçar o governo a demitir toda essa diretoria.
Se não conseguimos manter as condições mínimas de segurança para a operação das usinas nucleares de Angra, as desliguemos. Desliguem as usinas imediatamente de modo controlado, as resfriem e depois solucionemos as condições que nós mesmo criamos. Não foi uma força invasora, fomos nos.
os grandes problemas do Brasil é que o país está infestado de traidores e de tolos, sob a justificativa de se proteger o meio ambiente os mais poluidores e corruptos ( vide o que a lava jato fez com Almirante Othon)trabalham contra o nosso programa nuclear e os tolos caem no conto dos serviçais do imperialismo americano de que se tem que reduzir o peso do estado, fazer corte de gastos e todos aceitam sem reclamar, inclusive os trabalhadores, que mesmo numa situação de risco de desastre foi contaminados de tal forma pelo pensamento do capital que sequer cogitam uma… Read more »
Sou morador de Angra,atuo na área da elétrica.
Sempre foi um sonho trabalhar na usina, fiz o concurso em 2022,fiquei na sexta colocação.
Após dois anos aguardando uma convocação, fui eliminado do processo seletivo pois estão pedindo um certificado que até o momento ninguém apresentou, pois nem no catálogo nacional de cursos técnicos do MEC não consta o curso.
Fico triste em saber que coisas assim tem acontecido na Eletronuclear, pois sempre foi um referencial como empresa.
Os funcionários deveriam fazer uma manifestação. Chamar prefeito e vereadores para se unirem ao a vcs nessa questão atual
A atual classe trabalhadora, mesmo a que possui mais estudos deixa muito a desejar, o máximo de coragem que tem é afirmar que o presidente Lula deu sinal de fraqueza ao não conseguir demitir a Marina Silva, com o terrorismo econômico visando cortar custos e redução do estado feito por grande imprensa, mercado financeiro e parlamentares da direita/neofascistas com suas garras na jugular do governo não conseguirão o seu intento com carta de alerta, as pessoas não se sensibilizam com isso, só depois da tragédia acontecer que aparece um monte de arrombados fingindo surpresa e preocupação, para poder enfrentar essa… Read more »
A corda sempre rebenta pro lado dos mais fracos. A classe trabalhora é sempre humilhada. Porquê?