EM MEIO À CRISE NA ELETRONUCLEAR, CNEN DIZ QUE FATOR HUMANO É ESSENCIAL PARA SEGURANÇA DAS USINAS NUCLEARES DE ANGRA
Mesmo diante do clima tenso e da preocupação entre funcionários da Eletronuclear, por conta do plano de austeridade anunciado nos últimos dias, as usinas Angra 1 e Angra 2 seguem operando normalmente e com segurança. Mas, assim como em qualquer setor estratégico, a indústria nuclear leva muito a sério qualquer fator que possa representar um comprometimento da sua segurança. Por isso, a reportagem do Petronotícias entrou em contato com a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) para saber como o órgão está acompanhando a situação dos trabalhadores das usinas nucleares de Angra dos Reis. A entidade afirmou que tem realizado “avaliações e auditorias abrangentes” e que “o fator humano é um elemento essencial” na operação nuclear. Disse ainda que qualquer fato que comprometa a segurança das plantas poderia levar até mesmo a “restrições operacionais”.
Para lembrar, a CNEN é responsável pelo licenciamento, fiscalização e controle das usinas nucleares no Brasil, garantindo que sua operação siga rigorosos padrões de segurança. A comissão mantém inspetores residentes na usina, que monitoram a operação diariamente e realizam inspeções regulares, além das inspeções extraordinárias realizadas sempre que necessário.
Em nota encaminhada ao Petronotícias, a CNEN destacou que a operação de uma usina nuclear está sujeita a um conjunto normativo detalhado, que estabelece requisitos técnicos e operacionais para a segurança da instalação. A entidade ressaltou ainda que “qualquer desvio que possa comprometer essa segurança” leva a ações imediatas da autoridade regulatória, “que pode impor desde recomendações corretivas até restrições operacionais, conforme previsto nas normas vigentes”.
Como noticiamos, um relatório de funcionários da Eletronuclear apontou que a apreensão com o corte de custos está causando “uma preocupação crescente quanto ao aumento de acidentes, tanto pessoais quanto materiais, devido à falta de foco e motivação”.
O órgão regulador nuclear lembrou também que questões administrativas e trabalhistas são de competência da empresa operadora. “Mas a CNEN tem realizado avaliações e auditorias abrangentes, sempre à luz do seu marco regulatório, analisando inclusive aspectos organizacionais que possam ter impacto na segurança da instalação. O fator humano é um elemento essencial na operação nuclear, e cabe à empresa garantir que as equipes estejam treinadas e organizadas para assegurar a confiabilidade das atividades”, afirmou.
Por fim, a comissão declarou que a fiscalização das usinas é permanente e segue um modelo consolidado, alinhado a padrões internacionais de segurança nuclear. “Dentro de suas atribuições legais e normativas, a CNEN segue exercendo seu papel de forma técnica e independente, garantindo que as instalações operem dentro dos requisitos estabelecidos”, concluiu.
Enquanto isso, dentro da Eletronuclear, cresce um movimento para a criação de uma comissão independente para avaliar a segurança das usinas. O plano de austeridade da Eletronuclear tem como meta alcançar uma economia de R$ 500 milhões. Entre as ações previstas, está a cobrança de uma taxa para custear serviços de manutenção das vilas residenciais destinadas aos funcionários em Angra dos Reis. A medida, segundo a companhia, não se trata de um aluguel, mas visa cobrir despesas como limpeza, água, luz, telefone e IPTU. Haverá ainda a adoção de um plano de demissão voluntária (PDV/PDI).
Usinas nucleares têm sólidas barreiras em profundidade para promover e preservar a segurança nuclear. Entretanto, o ser humano e suas organizações também têm papel fundamental na segurança, como TMI, Chernobyl e Fukushima demonstraram indubitavelmente. O ser humano tanto pode reforçar enormemente essas barreiras, como destruir a todas, simultaneamente. O relato dos supervisores de primeira linha das usinas de Angra é dramático, escrito por profissionais conscientes e preparados, como o próprio texto demonstra. Melhor ouvi-los. Desligar as usinas, eliminar as ameaças e os ameaçadores, voltar à normalidade e seguir operando como nos últimos 23+ anos. Reduzir custo é possível e necessário,… Read more »
Como entrar no Envoltório de Contenção às 3 da madrugada, a 42C, paramentado com grossas roupas dos pés à cabeça, usando uma máscara, diante de ruidos e radiação gama passando pelo corpo, para fazer uma calibração num instrumento que pode desligar, se mal feita, a energia para 3+ milhões de consumidores, ao mesmo tempo odiando os gestores, devendo uma boa parcela do salário no cheque especial, com a família esperando tudo deles, e sabendo que tudo pode piorar? Não é uma boa base para a segurança nuclear. Pois hoje a noite este cenário dantesco pode acontecer, assim como amanhã, depois… Read more »
Um pouco pior é ter a condição mencionada acima aliada a falta ou a vacância de funcionários técnicos atuando na Proteção Radiológica, já cometendo falhas de monitoramentos e restringindo o volume de atividades de manutenção, ou de prevenção ou de rotina por não ter mão de obra técnica para acompanhar e monitorar. Há mais de uma década o quadro de funcionários vem reduzindo sem reposição. Consequentemente gerando stress e alta carga de trabalho com múltiplas e simultâneas frentes ou postos de monitoramentos aos poucos funcionários que restam nesta área. Situação esta mais agravada pelo número de convocações e admissões a… Read more »