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CEO DA BRASKEM DETALHA NOVA FASE DE INVESTIMENTOS DA EMPRESA E APOSTA NO GÁS NATURAL PARA ACELERAR CRESCIMENTO

Roberto Ramos - 1O Petronotícias abre o noticiário desta sexta-feira (27) com uma entrevista especial e exclusiva com o CEO da Braskem, Roberto Ramos. O executivo detalha os próximos passos do projeto Transforma, Rio!, que prevê a ampliação da central petroquímica no estado. O investimento inicial na iniciativa será de R$ 233 milhões com estudos de engenharia conceitual e básica. Segundo Ramos, o movimento é tratado como um passo estratégico para aumentar a competitividade da indústria nacional com menor custo e menor pegada de carbono. De acordo com o executivo, o projeto pode gerar até 22 mil empregos diretos e indiretos no estado. Além disso, o investimento faz parte da estratégia de transformação da companhia por meio do aumento da utilização de gás em sua matriz de matéria-prima. “O projeto no Rio de Janeiro representa um investimento estratégico da indústria petroquímica brasileira. Em um cenário global adverso, marcado por um ciclo de baixa prolongado, o uso do gás nacional permitirá ampliar a produção com maior segurança de abastecimento”, declara. Ainda falando sobre o gás natural, o CEO da Braskem considera que ainda é necessário avançar em infraestrutura, harmonização regulatória e competição no suprimento para destravar todo o potencial do mercado livre. O executivo também defende a importância de programas como o Reiq e o futuro Presiq para evitar a perda de competitividade e viabilizar novos investimentos no setor químico. Sobre a atuação da petroquímica no exterior, Ramos celebra a recente inauguração do terminal de etano no México, que garante estabilidade operacional e reforça a presença global da Braskem.

Gostaria de começar nossa entrevista falando um pouco sobre a expansão da unidade da empresa no Rio de Janeiro. Qual a estratégia por trás desse movimento?

braskem-riodejaneiro-02A companhia anunciou recentemente o Projeto Transforma Rio (ou Transforma, Rio!), onde divulgou o aumento da capacidade da sua central petroquímica do Rio de Janeiro em 220 mil toneladas de eteno por ano e de volumes equivalentes de polietileno, com a autorização da contratação de estudos de engenharia conceitual e básica no montante de aproximadamente R$ 233 milhões.

Importante ressaltar que o projeto está na fase de estudos de engenharia e a Braskem ainda depende de contratos adicionais, incluindo o fornecimento de etano pela Petrobras e a obtenção de incentivos fiscais, como os previstos no REIQ Investimentos. Além disso, a expansão se trata da busca da Braskem pelo reforço da competitividade da indústria química nacional, diante da concorrência externa e da necessidade de aumentar a produção com menor custo. Ao disponibilizar resinas de alta qualidade e menor pegada de carbono do Rio de Janeiro, a Braskem confere aos transformadores estabelecidos no estado mais matéria-prima, com baixo custo logístico, para as diversas empresas de Duque de Caxias e Três Rios, trazendo um notável aumento de competitividade.

Outro ponto é que o projeto carioca faz parte do movimento Braskem Transforma, que representa a transformação da companhia e tem foco em impulsionar a evolução do negócio ao priorizar a otimização de investimentos que fortaleçam a performance financeira, a ampliação do uso de gás como matéria-prima e o reforço da liderança global da Braskem na produção de bioprodutos.

Qual a expectativa de crescimento no mercado brasileiro com esse novo investimento no Rio de Janeiro?

O projeto no Rio de Janeiro representa um investimento estratégico da indústria petroquímica brasileira. Em um cenário global adverso, marcado por um ciclo de baixa prolongado, o uso do gás nacional permitirá ampliar a produção com maior segurança de abastecimento. Será um verdadeiro estímulo para a competitividade nacional e ainda iremos trazer crescimento para o estado do Rio, já que haverá a geração de cerca de 22 mil empregos de forma direta e indireta.

O senhor mencionou anteriormente o Reiq Investimentos, que chegará ao fim em 2027. Enquanto isso, o Congresso está discutindo o projeto de lei do Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química. Poderia avaliar a importância desses dois programas para a indústria?

braskemO REIQ manteve a indústria ativa e trouxe importantes resultados para o Brasil, sendo um exemplo o anúncio recente feito pela indústria em investimentos no aumento da capacidade produtiva. Entendemos que a iniciativa seja fundamental para reduzir os custos de produção, estimular investimentos e impulsionar a competitividade internacional da indústria brasileira, que foi fortemente impactada pelo ciclo de baixa.

Com o fim do programa previsto para 2027, o setor tem se movimentado pela criação de um novo pacote de medidas estruturantes que devolva competitividade à produção nacional de químicos e petroquímicos. Tal evolução será o Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química (Presiq), idealizado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e semelhante ao Programa Mover, criado pelo governo federal para amparar a indústria automobilística.

O Presiq oferecerá, ao invés de incentivos fiscais, créditos financeiros com contrapartidas sociais e tecnológicas para as empresas. E seu efeito líquido será muito positivo, já que haverá o efeito multiplicador da indústria química, dado que é um setor de base que estimula a atividade econômica em cadeia no Brasil. Importante ressaltar também que fortalecer essa indústria significará também fortalecer toda a cadeia industrial do país. E é isso que países como Estados Unidos, Coreia do Sul, Alemanha, Índia e China já têm feito.

Sem o Presiq, muitas plantas industriais poderão se tornar inviáveis pela falta de competitividade do setor. E o setor poderá ainda perder o timing da transição fiscal, ficando sem um regime de incentivo, o que impactará em empregos, produção e investimentos.

Mudando um pouco de assunto, quais são os desafios e as oportunidades para ampliar fornecimento de gás natural para a indústria petroquímica no Brasil?

GASA Braskem concluiu recentemente a migração do seu parque industrial de São Paulo para o mercado livre de gás natural, dentro de uma estratégia maior de aumentar a sua competitividade e reduzir emissões. O mercado livre de gás natural nos permite contratar diretamente com fornecedores, obter melhores condições comerciais e ter mais flexibilidade para moldar nosso portfólio energético conforme a realidade operacional de cada planta.

Como oportunidades, vimos que o modelo já demonstrou valor em estados como São Paulo, onde regulação e infraestrutura estão mais maduras. Mas é preciso que haja maior harmonização regulatória entre os estados, além de clareza contratual e segurança jurídica para que mais empresas se sintam confortáveis nesta migração.

Além disso, é necessário avançar em três frentes: ampliar a capacidade e capilaridade da infraestrutura de transporte; harmonizar e simplificar as regras estaduais; e fomentar a competição no suprimento. Isso trará mais liquidez ao mercado, mais opções aos consumidores e um ambiente mais dinâmico e eficiente.

Gostaria que o senhor falasse também sobre a parceria com a Petrobrás dentro da estratégia de descarbonização da Braskem.

braskemA Petrobrás e a Braskem assinaram em março desse ano um Memorando de Entendimento para aprofundar os estudos de oportunidades de projetos de captura e armazenamento de carbono (CCS – Carbon Capture and Storage) na Bahia. O documento oficializa que as companhias irão estudar, em conjunto, potenciais modelos de negócio mutuamente benéficos na economia de baixo carbono, em processos para reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2).

Serão avaliados aspectos técnicos relacionados à captura, ao transporte e ao armazenamento do CO2, como também potenciais modelos de negócio que possam realizar em conjunto, incluindo um possível desenvolvimento inicial de um hub na região.

Também em conjunto com a Petrobras, concluímos com sucesso uma sequência de testes em escala industrial para produzir uma corrente de Hidrocarbonetos Leves de Refinaria (HLR), rica em eteno, com conteúdo renovável, uma potencial matéria-prima renovável para a indústria química.

A matéria-prima usada nos testes foi o etanol, obtido a partir de cana-de-açúcar, coprocessado na Unidade de Craqueamento Catalítico Fluido de Resíduo (URFCC) da Recap, gerando HLR com conteúdo renovável, o que irá contribuir para a redução das emissões de CO2, em comparação ao produto de origem 100% mineral.

A parceria com a Petrobrás é mais um avanço no compromisso da Braskem de implementar uma economia circular de carbono neutro. Entendemos que a busca por matérias-primas de fontes renováveis desempenha um papel fundamental na construção de um futuro mais sustentável e tem sido um importante objetivo da Braskem. Hoje, a companhia tem a meta de reduzir em 15% as emissões de GEE de escopos 1 e 2 até 2030.

Qual o balanço da atuação da Braskem no exterior, especialmente após a inauguração do terminal no México?

capaA Braskem Idesa e a Advario anunciaram a inauguração do Terminal Química Puerto México (TQPM), o que garantirá à petroquímica a autossuficiência de etano na produção do polietileno. Localizado em Coatzacoalcos, em Veracruz, o novo terminal recebeu o investimento de US$ 450 milhões e será fundamental para o crescimento da indústria petroquímica no México.

O TQPM consegue armazenar 100 mil m³ de gás etano e tem capacidade de importação de 80.000 barris diários de etano equivalentes. A nova disponibilidade de matéria-prima permitirá que a Braskem Idesa produza 1 milhão e 50 mil toneladas anuais de polietileno, por meio de três unidades de polimerização: 750.000 toneladas anuais de polietileno de alta densidade (PEAD) e 300.000 toneladas anuais de polietileno de baixa densidade (PEBD).

A sua criação responde à necessidade de resolver o déficit estrutural de gás etano no México, um insumo chave para a produção de polietileno de alta e baixa densidade (PEAD/PEBD), que atualmente depende em 80% de importações. Além disso, haverá o fortalecimento do polo industrial chave para o México, bem como o fomento da contratação de fornecedores e mão de obra local, o que contribuirá para o crescimento econômico de Veracruz. Com o terminal, Braskem Idesa garantirá estabilidade operacional para as suas operações e poderá operar a
plena capacidade.

Embora o TQPM esteja situado no México, é possível entendermos os desdobramentos para o Brasil. E isso porque, ao garantir um fornecimento estável de etano para a operação mexicana, a Braskem fortalece sua posição no mercado norte-americano de polietileno. Tal ação implica em maior competitividade e participação de mercado, o que beneficia a companhia como um todo.

Por fim, se possível, o senhor poderia fazer um comentário sobre o processo de negociação do controle da companhia?

A venda da Braskem é um fato conhecido e aberto no mercado, que é o compromisso assumido pelo acionista de ter dado em garantia as suas ações para o equacionamento e a tomada de dívida ao longo do seu processo de reestruturação. O processo é conduzido pela Novonor, acionista controlador e, portanto, a Braskem não se posiciona sobre o assunto.

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