EVOLUÇÃO DA DISPONIBILIDADE DE ENERGIA PARA POPULAÇÃO AINDA ESTÁ EM RITMO AQUÉM PARA GARANTIR ACESSO UNIVERSAL ATÉ 2030
O ritmo atual de avanço da eletrificação básica da população mundial ainda é insuficiente para garantir cobertura universal até 2030. A constatação faz parte de um recente relatório conjunto da Agência Internacional de Energia (AIE) e da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA). Apesar da melhora em relação a 2022, ainda restam 666 milhões de pessoas no mundo sem acesso básico a energia. O número daqueles que usam soluções limpas para cozimento também está avançando, mas em um ritmo inferior ao registrado na década de 2010. Os progressos seguem limitados por retrocessos ocorridos durante a pandemia de covid-19, agravados por choques nos preços de energia e crises de endividamento.
Desde 2015, cerca de 310 milhões de pessoas passaram a ter acesso. Dos 20 países com os maiores déficits de eletrificação em 2023, 18 estavam na África Subsaariana. As maiores expansões no acesso entre 2020 e 2023 ocorreram na Ásia Central e Meridional, regiões que avançaram significativamente rumo à universalização, reduzindo o número de pessoas sem eletricidade de 414 milhões em 2010 para apenas 27 milhões em 2023. O relatório destaca o papel das fontes renováveis distribuídas — como minirredes e sistemas solares off-grid — como alternativas promissoras para acelerar o acesso, especialmente em áreas remotas, de baixa renda ou frágeis.
No quesito renováveis, a participação dessas fontes no consumo final de energia (TFEC) foi de 17,9% em 2022, enquanto a capacidade instalada global atingiu 478 watts per capita em 2023 — crescimento de quase 13% em relação ao ano anterior. Apesar do avanço, o ritmo não é suficiente para cumprir metas internacionais de clima e desenvolvimento sustentável, de acordo com o relatório. Além disso, o progresso é desigual: os países menos desenvolvidos e a África Subsaariana tinham apenas 40 watts per capita em capacidade instalada, contra mais de 1.100 watts nos países desenvolvidos.
Enquanto isso, entre 2022 e 2023, houve pouca ou nenhuma mudança no acesso a combustíveis e tecnologias limpas para cozinhar. Embora a proporção da população global com acesso tenha subido de 64% em 2015 para 74% em 2023, cerca de 2,1 bilhões de pessoas ainda dependem de combustíveis e tecnologias poluentes. Mantidas as tendências atuais, apenas 78% da população mundial terão acesso a soluções limpas para cozimento até 2030.
A eficiência energética global também avançou lentamente. A intensidade energética primária — razão entre o fornecimento total de energia e o PIB — caiu 2,1% em 2022. Embora melhor do que os 0,5% de 2021, o índice ainda está abaixo da meta do ODS 7.3, que requer melhoria média anual de 4%.
Os fluxos financeiros públicos internacionais para países em desenvolvimento em apoio à energia limpa aumentaram 27% em 2023, alcançando US$ 21,6 bilhões. Ainda assim, o volume ficou abaixo do pico registrado em 2016, quando os compromissos chegaram a US$ 28,4 bilhões. Apesar de certa diversificação, os recursos continuam concentrados: apenas dois países da África Subsaariana estão entre os cinco maiores beneficiários. A alta foi impulsionada principalmente por instrumentos de dívida, que responderam por 83% dos fluxos, enquanto doações representaram apenas 9,8%.
“Apesar do progresso em algumas regiões, a expansão do acesso à eletricidade e ao cozimento limpo continua decepcionantemente lenta, especialmente na África. Isso contribui para milhões de mortes prematuras por inalação de fumaça e impede o desenvolvimento e oportunidades educacionais. São urgentes maiores investimentos em energia limpa e fornecimento de eletricidade, inclusive com apoio para reduzir o custo de capital dos projetos”, disse o diretor executivo da Agência Internacional de Energia, Fatih Birol.
Já o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), Francesco La Camera (foto acima, à direita), afirmou que as renováveis vêm batendo recordes de crescimento, lembrando ao mundo seu papel acessível, escalável e essencial para reduzir a pobreza energética. “Mas precisamos acelerar neste momento crítico. Isso inclui superar desafios como lacunas de infraestrutura. A falta de avanços nesse ponto reflete o acesso limitado a financiamento. Embora os fluxos financeiros tenham crescido para US$ 21,6 bilhões em 2023, apenas duas regiões tiveram progresso real. Para fechar essas lacunas, é necessário fortalecer a cooperação internacional e escalar financiamentos acessíveis e capitais orientados a impacto nos países em desenvolvimento e menos desenvolvidos”, completou.
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