faixa - nao remover

AGENDA DA ABIHV FOCA EM REDE ELÉTRICA E REGULAÇÃO PARA DESTRAVAR PROJETOS DE HIDROGÊNIO VERDE NO BRASIL

FERNANDADELGADO-70

Em um momento decisivo para o futuro do hidrogênio verde no Brasil, a Associação Brasileira da Indústria de Hidrogênio Verde (ABIHV)  intensifica sua atuação em três frentes estratégicas: a regulamentação do marco legal do setor, a ampliação da rede de transmissão de energia elétrica e a construção de um mercado de carbono robusto no país. É o que afirma a diretora executiva da associação, Fernanda Delgado, nossa entrevistada desta terça-feira (22). Com a expectativa de que dois decretos para regulamentar o marco legal do hidrogênio sejam publicados ainda em 2025, a ABIHV articula a realização de um novo leilão de expansão da infraestrutura de conexão elétrica, considerado fundamental para destravar os projetos já em desenvolvimento. Paralelamente, vê no mercado de carbono uma ferramenta essencial para corrigir distorções e gerar um sinal de preço que valorize as fontes renováveis frente aos combustíveis fósseis. “O que posso afirmar com segurança é que não falta dinheiro — nem no Brasil, nem no mercado internacional”, disse Fernanda. “ É preciso haver um alinhamento mais firme entre os setores público e privado para oferecer as garantias necessárias aos financiadores”, acrescentou.

Para começar, seria importante se pudesse compartilhar conosco alguns dos principais destaques dos dois primeiros anos de atuação da ABIHV.

lactec_hidrogenio_blog_capa-scaledPodemos destacar o trabalho realizado junto aos poderes Legislativo e Executivo, no ano passado, em torno das duas leis do hidrogênio. Ambas — tanto a do Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (Rehidro – lei 14.948/2024) quanto a do Programa de Desenvolvimento do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono (PHBC – lei 14.990/2024) — foram aprovadas, instituindo o marco legal para a operação das futuras plantas de hidrogênio verde, amônia, metanol, SAF e fertilizantes que teremos no Brasil nos próximos anos.

Também merece destaque a atuação da associação nas discussões sobre a regulamentação dessas duas leis, em diálogo com o Ministério de Minas e Energia, o Ministério da Fazenda e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Além disso, a ABIHV tem participado ativamente dos debates sobre o acesso à energia elétrica, especialmente no Nordeste, onde todos sabem que há desafios relacionados à expansão da rede de conexão. A associação tem estado presente nessas conversas com a EPE, com a ANEEL e com o próprio Ministério de Minas e Energia.

Aproveitando esse gancho, você pode nos contar quais são as principais sugestões da ABIHV para a regulamentação do marco legal do hidrogênio?

hidrogenioverde-gettyNo caso da Lei 14.948/2024, que trata do marco legal do hidrogênio de baixa emissão de carbono, a ABIHV tem atuado nas discussões sobre taxonomia, certificação e regulação. Para nós, é fundamental que a Política Nacional do Hidrogênio crie condições concretas para o desenvolvimento dessa indústria nascente — que ela de fato incentive o surgimento de uma cadeia produtiva que, hoje, ainda não existe. Embora já haja alguma produção de hidrogênio no Brasil, não há escala compatível com o nosso real potencial em hidrogênio verde.

Por isso, questões como conteúdo local e investimentos em pesquisa e desenvolvimento precisam ser tratadas com muita atenção nesse estágio inicial. Percentuais mínimos, por exemplo, devem ser definidos de forma estratégica, garantindo um crescimento saudável da indústria nos próximos anos. Nosso olhar está voltado para uma integração com as grandes cadeias globais de valor, especialmente no que diz respeito à certificação, em alinhamento com as melhores práticas internacionais.

E no caso da regulamentação do PHBC? Quais são as prioridades da ABIHV nesse processo?

o-que-e-engenharia-do-proprietario-em-linhas-de-transmissao-1Quando falamos do PHBC, instituído pela Lei 14.990/2024 – estamos tratando daqueles R$ 18 bilhões de créditos fiscais previstos entre 2028 e 2032. As empresas precisarão estar habilitadas no Rehidro para terem acesso aos benefícios do PHBC. Por isso, o desenho desse processo concorrencial precisa ser estruturado de forma a privilegiar rotas com menor emissão de carbono — ou seja, promover efetivamente o hidrogênio verde e de baixa emissão. Esse é, inclusive, o objetivo central da Agenda Verde do governo: descarbonizar a indústria e estimular processos produtivos com menor pegada de carbono. 

O ganho de escala é fundamental para isso. O preço do hidrogênio verde só vai cair se houver escala, escopo e velocidade no desenvolvimento dessa indústria. E os incentivos do PHBC podem justamente ajudar a reduzir o gap de custo entre o hidrogênio cinza e o verde. Por isso, quanto mais concentrado esse incentivo estiver em empresas com capacidade de escalar a produção, melhor.

Em relação ao acesso à rede elétrica, que você mencionou anteriormente como um desafio, quais são as principais sugestões da ABIHV para enfrentar essa questão?

3f9bbf1cd45c4a2f80fa2f7d3ed9dbdc-555x309Para nós, os desafios relacionados à transmissão de energia elétrica não dizem respeito apenas à indústria do hidrogênio. É importante deixar claro que a forma de fazer negócios mudou. Hoje, temos frotas eletrificadas e indústrias cada vez mais eletrointensivas — e a indústria do hidrogênio verde é extremamente eletrointensiva. Por isso, entendemos que é fundamental repensar o modelo de funcionamento do setor elétrico.

Defendemos a realização de novos leilões para viabilizar gigawatts adicionais de transmissão, garantindo a entrada de projetos de hidrogênio verde e outros empreendimentos igualmente eletrointensivos. Essa é, afinal, a nova revolução industrial. A transição para uma economia verde, que já está em curso no mundo todo, exigirá uma matriz energética cada vez mais intensiva em eletricidade.

Estamos plenamente comprometidos com o desenvolvimento do setor, mas é preciso que haja, do outro lado, um entendimento claro por parte do Estado sobre a importância de reforçar a infraestrutura de conexão elétrica. Sabemos que há oferta de energia disponível e demanda significativa para consumo. O que falta é justamente esse elo intermediário — o acesso à rede —, que é fundamental para que a indústria do hidrogênio possa se viabilizar.

Saindo um pouco da questão regulatória, e olhando de forma mais ampla para o mercado: como você avalia o andamento dos projetos de hidrogênio no Brasil hoje?

Porto do Pecém

Porto do Pecém desponta como um dos principais polos de projetos de hidrogênio verde

Há projetos importantes se aproximando da decisão final de investimento já no próximo ano. Uma das prerrogativas mais relevantes da ABIHV é mostrar ao Brasil e ao mundo que existem projetos muito sólidos, concretos e com investimentos expressivos em curso. 

Atualmente, temos pelo menos seis projetos de grande porte com previsão de tomada de decisão final de investimento até 2026. Alguns deles já projetam o início de operação para 2029, o que colocaria o Brasil na rota como fornecedor de produtos para o mercado internacional. É uma potencialidade muito concreta para o nosso país.

Aproveitando a nossa conversa, queria te ouvir também sobre a questão do financiamento. Quais são os principais desafios e como está o nível de maturidade dessa pauta no Brasil, quando falamos de projetos de hidrogênio verde?

Porto de Suape

Porto de Suape também deve receber projetos de hidrogênio limpo

Hoje, os nossos principais desafios são: o acesso à rede de conexão, a definição dos off-takers – ou seja, quem vai comprar o produto – e a questão do financiamento em si. Sobre os off-takers, já temos sinais bastante positivos. Vários projetos já contam com compradores definidos ou negociações bastante avançadas.

No entanto, o financiamento ainda enfrenta entraves. Para fechar uma conta com o banco, é preciso garantir a origem da energia elétrica do projeto. Recentemente, o Ministério de Minas e Energia solicitou novos cálculos e análises técnicas para avaliar a possibilidade de liberar mais 4 GW de capacidade na rede. Enquanto essa definição não acontecer, os bancos permanecem em um cenário de incerteza, sem clareza suficiente para aprovar os financiamentos.

O que posso afirmar com segurança é que não falta dinheiro — nem no Brasil, nem no mercado internacional. O que falta é um pouco mais de informação e segurança, tanto do lado dos investidores quanto do setor público brasileiro. É preciso haver um alinhamento mais firme entre os setores público e privado para oferecer as garantias necessárias aos financiadores. 

Para encerrar, gostaria que você comentasse um pouco sobre os próximos passos da ABIHV. O que pode destacar de novidades para o nosso leitor?

linha-transmissaoA ABIHV tem muito trabalho pela frente, especialmente com os dois decretos regulamentadores que ainda precisam ser publicados neste ano. Em paralelo, há questões que surgem a todo momento, como as Medidas Provisórias 1300 e 1304, bem como o corte de orçamento das agências reguladoras. Por isso, não podemos tirar os olhos do cenário regulatório em nenhum momento.

Estamos atuando de forma bastante dedicada na articulação para viabilizar algum tipo de leilão de ampliação da capacidade de conexão ainda em 2025. Também queremos avançar na agenda do mercado de carbono. A ABIHV entende que esse mercado pode trazer um sinal de preço importante sobre as externalidades negativas dos combustíveis fósseis, e isso será essencial — um verdadeiro divisor de águas para o setor de energias renováveis.

Temos, ainda, uma atenção especial voltada à COP30. Acreditamos que este será um momento chave para o Brasil mostrar ao mundo a força dos seus projetos e o potencial que temos como potência em energia renovável. A COP30 será uma vitrine importante, e queremos aproveitar essa oportunidade ao máximo.

Deixe seu comentário

avatar
  Subscribe  
Notify of