USINA DE PECÉM PODE SER MODELO PARA EXPANSÃO DE GERAÇÃO A PARTIR DAS ONDAS
Por Paulo Hora / Petronotícias –
Funcionando de forma experimental desde novembro de 2012, a Usina de Pecém (CE), a primeira da América Latina movida pela força das ondas do mar, conta com uma tecnologia brasileira inovadora. A transformação da energia das ondas em energia elétrica é feita por flutuadores na base de braços mecânicos, instalados no quebra-mar do Porto de Pecém. O movimento das ondas faz com que os braços mecânicos se mexam, de modo a injetar água nas câmaras hiperbáricas, que liberam jatos d’água com pressão e vazão necessárias para acionar uma turbina ligada a um gerador, produzindo eletricidade. Idealizador e líder do projeto, o professor Segen Estefen, Coordenador do Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, considera que esse tipo de produção de energia será muito importante para o Brasil diversificar suas fontes limpas.
Quando e como surgiram, no Brasil, os primeiros projetos para geração de energia a partir das ondas do mar?
As discussões se consolidaram em 2001, em um congresso realizado no Rio sobre formas alternativas de geração de energia. A COPPE começou, então, a focar no aproveitamento de ondas e marés para produzir eletricidade. Uma patente nos foi concedida em 2004 e, hoje, temos instalado o protótipo de Pecém (CE), feito em parceria com a empresa Tractebel e o Governo do Estado do Ceará.
Como funciona a tecnologia brasileira de geração de energia a partir das ondas?
Fazendo uma comparação com a hidrelétrica, a energia gerada pela água que se mantém pressurizada na câmara hiperbárica é equivalente a uma queda d’água de 250 m. Em um circuito fechado, a câmara fica ligada a um acumulador pneumático, que aciona jatos d’água para a turbina produzir eletricidade.
Quais são os outros tipos de tecnologia para essas usinas no mundo?
Existem vários experimentos a nível de bancada e mais de 100 registros de patentes. As tecnologias variam muito, mas existem três que são as principais: a coluna oscilante, em que a onda do mar pressuriza o ar; a dos corpos flutuantes, que se movem um em relação ao outro; e o da grande piscina, em que a onda quebra em uma piscina em cujo fundo se localizam as turbinas. Essas três se desdobram em mais de 100.
É possível/viável que essa se torne a principal fonte de energia do Brasil algum dia?
Não acho que vai ser a principal, mas pode se tornar importante, pois é necessário diversificar as formas de geração de energia limpa e renovável, como são a eólica e a solar. Mas a energia gerada a partir de ondas pode ser importante, por exemplo, para as atividades do Pré-sal, podendo contribuir no fornecimento de energia para as áreas de exploração.
Qual o potencial de geração desse tipo de energia no Brasil?
É factível que o Brasil possa chegar a uma potência nominal de geração de energia de 25 GW, o que é equivalente a duas Usinas de Itaipu.
Quanta energia produz atualmente a Usina do Ceará?
Hoje, a Usina de Ondas de Pecém opera com uma potência de 100 KW. Ainda é um laboratório. Estamos tentando entender o que acontece em pequena escala para podermos reproduzir em escala comercial.
Que características geográficas são favoráveis à geração desse tipo de energia?
Ondas de 1,5 m e com período compatível. As ondas do Brasil não são altas, mas tem constância de cerca de 40% ao ano.
Em que lugares do litoral brasileiro se encontram essas características?
As regiões com as ondas mais propícias à instalação das usinas são Sul e Sudeste. Mas o Ceará, cujas ondas são de tamanho médio, tem uma característica importante, os ventos alísios, que são constantes.
Mas onde há esse tipo de vento, como no próprio Ceará, já não é aproveitada a energia eólica? As duas formas de energia podem acabar competindo entre si?
As duas formas se complementam, pois uma não toma energia da outra. Mas vão competir por investimento, sendo que, hoje, a eólica está mais barata, pois seus estudos estão mais avançados. Daqui a 15 anos, a energia proveniente das ondas vai ter mais condições de competir.
Quais são os impactos ambientais referentes ao funcionamento desse tipo de usina?
Os impactos ambientais são baixos, mas só vamos saber com mais precisão depois. O maior impacto é durante a construção, quando se utilizam solda e aço e são emitidos gases estufa. Mas, na operação, o impacto ambiental é desprezível, pois se trata de uma energia limpa.
Já há planos para a próxima usina de ondas no Brasil?
Uma possibilidade é o município do Rio de Janeiro. Mas, ao contrário do que foi feito em Pecém, não planejamos instalar a usina no quebra-mar, para não interferir em outras atividades da costa. Pensamos em ficar mais para dentro do mar.
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