O SUCESSO DA PRIMEIRA USINA NUCLEAR FLUTUANTE DO MUNDO OPERANDO HÁ CINCO ANOS PODE SER ALTERNATIVA PARA REGIÕES REMOTAS DO BRASIL
Em pleno uso no Oceano Ártico, a primeira usina nuclear flutuante do mundo, a Akademik Lomonosov, fabricada pela Rosatom, a estatal Russa, opera já há cinco anos com pleno sucesso. Ela é uma espécie de “navio-usina”, construída sobre uma barcaça de 144 metros de comprimento, carregando dois reatores nucleares do tipo KLT-40S, semelhantes aos utilizados em navios quebra-gelos russos. Imagine uma pequena usina nuclear que não precisa de terreno em terra firme. Em vez disso, ela fica ancorada em um porto ou próxima à costa, pronta para fornecer eletricidade e calor às comunidades isoladas. A sua potência elétrica é de cerca de 70 MW, suficiente para abastecer uma cidade de 100 mil habitantes. Produz calor e dessaliniza a água do mar, além de gerar eletricidade. Ela pode fornecer calor para aquecimento urbano em regiões frias, produzindo até 240 mil m³ de água potável por dia. Como é transportável, pode ser rebocada para diferentes locais conforme a necessidade. Desde 2019, a usina está em operação em Pevek, uma remota cidade no Ártico russo. Ali, substituiu antigas termelétricas a carvão e diesel, garantindo energia estável em um ambiente de difícil acesso.
Para lembrar, a construção da usina começou na Fábrica de Submarinos Sevmash, em Severodvinsk. A quilha foi colocada em abril de 2007 e a conclusão foi inicialmente planejada para maio de 2010. Em agosto de 2008, o governo russo aprovou a transferência de trabalho para o Baltiysky Zavod, em São Petesburgo. O primeiro reator, um projeto KLT-
40S, foi entregue em maio de 2009 e o segundo em agosto de 2009 pela AtomEnergoProekt. Os dois foram instalados em outubro de 2013. Originalmente, a Akademik Lomonosov deveria fornecer energia para o próprio estaleiro Sevmash e para a cidade de Severodvinsk, no noroeste da Rússia. Mais tarde, decidiu-se implantar a barcaça de energia em Pevek, no extremo oriente do país. Esperava-se que fosse entregue em 2019 e substituísse a Usina Nuclear de Bilibino, que estava no fim de sua vida útil. CLIQUE AQUI PARA VER AS IMAGENS DA USINA.
Em 28 de abril de 2018, deixou São Petersburgo a reboque para receber o combustível nuclear pela primeira vez. Ela foi
entregue à empresa estatal de energiaem julho de 2019. A operação de reboque de 5.000 km através do Oceano Ártico foi feita pelo quebra-gelo Dikson, que começou em 23 de agosto de 2019. Alguns dias depois, em 9 de setembro, chegou à sua localização permanente no distrito de Chukotka, no extremo Oriente, e começou a operar em 19 de dezembro de 2019. Inicialmente, os custos estimados eram de 232 milhões de dólares, mas totalizaram 700 milhões de dólares. O Petronoícias convidou o Diretor Técnico da ABDAN, Leonam Guimarães, profissional muito experiente do setor, ex-presidente da Eletronuclear e consultor tanto da nossa Amazul, quanto da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), para se saber se para o Brasil a construção de uma usina semelhante poderia ser viável.
– Uma usina como esta pode ser um bom negócio também para o Brasil?
– Embora o Brasil não tenha um Ártico gelado, a ideia de uma usina nuclear flutuante pode ser muito útil em vários cenários nacionais, como a Amazônia e regiões isoladas. Há muitas cidades que dependem de termelétricas a óleo diesel, caras e poluentes. Uma usina nuclear flutuante poderia ancorar em um grande rio e fornecer energia limpa e contínua.
– Ela poderia ser usada como apoio à exploração de petróleo offshore. Estamos quase aprovando a Margem Equatorial.
– Vou começar dizendo uma coisa que a experiência do Petronotícias sempre nos traz. As Plataformas no pré-sal exigem grande quantidade de energia. Em vez de depender de gas ou geradores a diesel, uma usina dessas poderia fornecer eletricidade diretamente no mar.
– Há possibilidade de se gerar e produzir de hidrogênio verde também?
– Com certeza. O Brasil busca se tornar um exportador de hidrogênio. Uma usina flutuante próxima a portos estratégicos poderia alimentar
plantas de eletrólise sem ocupar grandes áreas de terra.
– E pode haver uma interligação com a própria Marinha do Brasil, Segurança energética para bases navais e industriais?
– Instalações estratégicas da Marinha ou grandes complexos industriais poderiam ter uma fonte dedicada e estável de energia, reduzindo vulnerabilidades.
– Uma ideia, avançada para o Brasil, enfrentaria obstáculos. Principalmente os que não conhecem o potencial do uso nuclear. Usam, mas combatem…
– Claro, essa ideia não é isenta de obstáculos. Por exemplo a própria Regulação e Segurança nuclear. Isso exigiria adaptações nas normas brasileiras. Outra coisa é a aceitação pública. O conceito de uma usina nuclear no mar poderia gerar receios. Em relação a custos e logística, seria preciso avaliar se compensa em relação a outras soluções, como SMRs em terra.
– Diante dessa realidade, o Brasil estaria pronto para termos uma usina nuclear flutuante?
– A Akademik Lomonosov mostra que a energia nuclear pode ser pensada de forma inovadora, inclusive no mar. Para o Brasil, um país
continental com vastas regiões remotas e uma economia fortemente ligada ao oceano, esse tipo de solução poderia abrir novas possibilidades estratégicas. Trata-se de uma tecnologia que, se adaptada, poderia ajudar a integrar o território, impulsionar a produção de hidrogênio e dar suporte à soberania energética em áreas críticas, tudo isso ocupando pouco espaço e com operação contínua, independentemente do clima.

publicada em 10 de setembro de 2025 às 5:00 




