PRESIDENTE DA ATGÁS VÊ ABERTURA DO MERCADO COM OTIMISMO E TRANSPORTADORAS PRONTAS PARA INVESTIR
O presidente da Associação de Empresas de Transporte de Gás Natural por Gasoduto (ATGás), Rogério Manso, avalia que a abertura do mercado de gás natural, consolidada com a Nova Lei do Gás, está com um ritmo de aceleração acima do esperado pelo setor. Segundo ele, as transportadoras vivem um momento de otimismo e demonstram apetite para investir, desde que o ambiente regulatório ofereça estabilidade e segurança jurídica. Manso destacou ainda que o Plano Coordenado de Desenvolvimento do Sistema de Transporte de Gás Natural, atualmente em consulta pública da Agência Nacional do Petróleo (ANP) representa um avanço em transparência e planejamento de longo prazo para os investimentos. O planejamento foi proposto pelas empresas transportadoras, em conjunto com a ATGás, e contempla as providências para reforço, ampliação e construção de novas instalações do sistema brasileiro de transporte de gás natural. Por fim, o presidente da associação também destaca as novas ofertas de gás natural para o Brasil e vê perspectivas para a queda do preço do insumo.
Para começar, como o senhor avalia o processo de abertura do mercado de gás natural?
Do ponto de vista do setor de gás natural e, obviamente, do transporte, vemos o momento com muito otimismo. Foi um processo consolidado ao longo de um período longo, com vários decretos e resoluções que trataram do processo de abertura. Mas, sem dúvida, o marco importante foi a Lei do Gás. Muita coisa está acontecendo com uma velocidade maior do que se previa.
Todos conheciam os modelos internacionais e sabiam que seria um processo de longo prazo, afinal estamos mudando um modelo de décadas para algo novo. Isso exige ações regulatórias e interesse de diferentes agentes. Era para ser progressivo, mas em certos momentos está andando rápido.
Sobre o Plano Coordenado de Desenvolvimento do Sistema de Transporte de Gás Natural, atualmente em consulta pública, poderia relembrar os pontos centrais e a sua expectativa para os próximos passos?
Esse plano é uma obrigação legal prevista na Lei do Gás. É um plano de dez anos, que deveria ser submetido pelo gestor do mercado, mas como essa figura ainda não está definida, a ATGás trabalhou junto com as três maiores transportadoras para apresentá-lo.
Ele nasce como um plano ainda indicativo, mas que deve se tornar cada vez mais firme à medida que for aprimorado coletivamente – pela forma como os agentes o utilizam, pela aprovação do regulador e pelo envolvimento da EPE.
Nunca tivemos tanta transparência no transporte de gás como agora. O plano traz detalhes de cada projeto: objetivos, características, cronograma, orçamento e estágio atual. Parte desses projetos está em fase conceitual ou até pré-conceitual, com margens de orçamentação muito amplas, entre -50% e +100%. Isso mostra que o plano é ainda é uma semente, que ainda vai passar por vários aprimoramentos.
E como funcionará essa evolução dos projetos?
O plano dá uma direção clara, com valores específicos e localização definida. Mas cada projeto ainda passará por várias etapas: testes de demanda, aprovações internas das transportadoras, elaboração de projetos básicos e detalhados, além de análises de mercado.
De modo geral, o plano pode ser visto em dois blocos. O primeiro, até 2030, é focado em estações de compressão, que ampliam a capacidade dos gasodutos existentes sem necessidade de novas rotas. Depois disso, aparecem projetos de dutos mais extensos, muitos desses previstos apenas para depois de 2030.
E como está o sentimento das transportadoras em relação ao mercado?
É um sentimento muito positivo. O propósito da abertura do mercado de gás natural foi criar um ambiente de negócios que promovesse novos investimentos. Por sua vez, o investimento aumenta a oferta de gás, reduz preços e estimula o consumo e a substituição de combustíveis, além de contribuir para a transição energética. As transportadoras têm apetite para investir, desde que haja estabilidade regulatória, previsibilidade e segurança jurídica.
Como o senhor vê a perspectiva de novas ofertas de gás natural para o Brasil?
Depois da aprovação da Lei do Gás, tivemos notícias como o projeto Raia, com cerca de 17 milhões de m³ por dia, além do Rota 3 e do projeto Sergipe Águas Profundas. Somados, eles representam aproximadamente 50 milhões de m³ por dia de gás natural, volume semelhante ao consumo atual do país. É claro que também há perdas, na Bolívia e no Rota 1, mas, de forma líquida, devemos ter cerca de 30 milhões de m³ por dia adicionais. Isso movimentará o mercado.
Eu costumo dizer que a oferta gera sua própria demanda. Quando um investidor toma a decisão final em um projeto que adiciona gás ao mercado, esse volume precisa ser comercializado e tende a pressionar os preços para baixo, o que acaba estimulando o consumo.
Há interesse crescente da Argentina em exportar gás para o Brasil, considerando que suas reservas são múltiplas vezes maiores que as nossas. Também existe a expectativa de um ambiente mais favorável a novos investimentos na Bolívia. Claro que esses processos levam tempo, são projetos de década, mas o cenário geral é positivo.
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