MUDANÇAS DE POLÍTICAS NA CHINA PODE DAR FIM À ERA DE PREÇOS BAIXOS DE EQUIPAMENTOS DE ENERGIA SOLAR E ARMAZENAMENTO
Desenvolvedores de projetos solares e de armazenamento terão um aumento acentuado nos custos de aquisição de equipamentos a partir do quarto trimestre de 2025, devido a mudanças na política do governo chinês e cortes na produção do lado da oferta. Essas medidas estão encerrando a era de preços baixos que marcou o mercado nos últimos 18 meses, aponta um novo relatório da Wood Mackenzie. A análise indica que três fatores convergentes — consolidação do setor de polissilício, cortes na produção e o fim do reembolso de 13% do Imposto sobre Valor Agregado (IVA) para exportações — devem elevar os preços dos módulos solares em cerca de 9% no 4º trimestre de 2025, com novas altas previstas em 2026.
“Nos últimos dezoito meses, os desenvolvedores se beneficiaram de preços mínimos de módulos solares e sistemas de armazenamento de energia, vendidos por fabricantes chineses que buscavam escoar o excesso de oferta”, disse o analista sênior e chefe da cadeia de suprimentos solar global da Wood Mackenzie, Yana Hryshko. “Mas isso está prestes a mudar. O governo chinês interveio para estabilizar o mercado, e os desenvolvedores terão de ajustar suas expectativas de aquisição”, acrescentou.
De acordo com o estudo, os preços dos módulos caíram para patamares históricos de US$ 0,07 a US$ 0,09 por watt entre 2024 e início de 2025, em meio à forte competição de preços entre fabricantes chineses, mesmo com prejuízos significativos. Esse cenário insustentável chegou a um ponto de virada após a intervenção coordenada de Pequim. O primeiro fator é a consolidação no setor de polissilício. A capacidade chinesa quadruplicou entre 2022 e 2024, levando ao excesso de oferta. Novas diretrizes governamentais limitaram a expansão e reduziram as taxas de utilização para 55-70% entre os principais produtores, provocando um aumento de 48% no preço do polissilício apenas em setembro de 2025.
Em segundo lugar, os cortes de produção afetaram toda a cadeia de valor solar. As taxas de operação de módulos caíram para 55-60% em meados de 2025, e linhas de produção antigas de células PERC foram desativadas, reduzindo ainda mais a capacidade disponível.
O terceiro fator é de natureza fiscal: a partir do 4º trimestre de 2025, a China eliminará o reembolso de 13% do IVA que os fabricantes chineses recebem quando exportam módulos solares e sistemas de armazenamento. Como o país responde por mais de 80% dos módulos solares globais e 90% das baterias de lítio-ferro-fosfato para armazenamento, a medida impactará diretamente os preços de referência mundiais. No caso dos EUA, o aumento afetará projetos que dependem de equipamentos chineses de armazenamento. Analistas esperam ainda que a retirada do reembolso se estenda aos inversores, pressionando os custos dos projetos solares norte-americanos.
“Fabricantes de módulos já alertaram clientes internacionais para esperar aumentos de cerca de 9% nos preços a partir do 4º trimestre devido ao fim do reembolso de IVA”, observou Hryshko. “Sem possibilidade de suprimento alternativo no curto prazo, os desenvolvedores terão pouca escolha além de absorver os custos adicionais”, detalhou.
A Wood Mackenzie avalia que a alta reflete uma correção estrutural, afastando o setor das guerras de preços destrutivas rumo a margens sustentáveis, e não apenas um ajuste temporário de mercado. O relatório ainda sugere que mesmo contratos de fornecimento firmados no início de 2025 poderão ser renegociados para produções previstas após novembro, em razão do novo ambiente de preços.
“Essa mudança beneficiará a saúde de longo prazo da indústria. Para fabricantes, representa a oportunidade de reinvestir e inovar; para desenvolvedores, significa rever expectativas de aquisição; e para formuladores de políticas, é um lembrete dos riscos das cadeias de suprimento concentradas”, concluiu Hryshko.

 publicada em 3 de outubro de 2025 às 5:00                            




