SINDIGÁS PROPÕE GLP COMO OPÇÃO ENERGÉTICA PARA O BRASIL
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), popularmente chamado de “gás de cozinha”, é largamente utilizado pela população brasileira. Segundo o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sérgio Bandeira de Mello, o GLP chega a 98% dos municípios do Brasil, onde são vendidos entre 33 e 35 milhões de botijões de gás por mês. Entretanto, existem algumas limitações legislativas que impedem o aproveitamento dessa fonte de energia para outras finalidades. O presidente do Sindigás aponta que o GLP deve ser entendido muito além do “gás de cozinha”, e sim como mais uma opção de geração de energia para o país.
Como é a composição atual do Sindigás?
Nossa entidade congrega as principais distribuidoras de GLP no Brasil. São elas a Ultragaz, Liquigás, Supergasbras, Nacional Gás Butano, Fogás, Amazongás, SHV Gás Brasil e a Repsol Gás. Estas empresas representam 90% do mercado no país e cobrem todos os locais em que há GLP no território nacional.
Como é a atuação da entidade?
O Sindigás desenvolve um ambiente no qual o mercado de GLP pode ser percebido em parte como uma das soluções para a matriz energética brasileira. Nós trabalhamos em conjunto para desenvolver produtos, conceitos, discursos e apelos junto ao governo, em busca de um convencimento de que o GLP opera muito além da cozinha.
O Brasil é autossuficiente em GLP?
Ainda não. Nós temos uma demanda de 7,1 milhões de toneladas e produzimos cerca de 5,8 milhões de toneladas. Nós temos ainda uma importação que é fruto de alguns atrasos dos projetos da Petrobrás. Segundo a Empresa Pesquisa Energética (EPE), a autossuficiência pode ser atingida entre 2017 e 2019.
E qual sua visão sobre as restrições ao uso do GLP?
As restrições são uma herança do período da Primeira Guerra do Golfo, em 1991, quando os EUA invadiram o Iraque. O Brasil tinha muita dependência de importação de produto. Nessa época, foi criada uma restrição para poupar o uso do gás. Foi proibido o seu uso em caldeiras, em piscinas, saunas e motores à explosão. Porém, a guerra acabou e a situação de dependência do mercado externo também. O subsídio que existia acabou em 2001, mas as restrições perduram até hoje esquizofrenicamente. Essas restrições não fazem mais sentido.
E existe alguma perspectiva de derrubada dessas restrições?
A ANP tem uma predisposição em acabar as restrições. Ela só tem alguma resistência ao uso de GLP para veículos. Mas isso não seria um problema para nós, já que existem soluções como o gás natural veicular e etanol para carros. O Sindigás não procura uma proteção especial ao GLP. A gente quer que ele seja entendido muito além da cozinha. Ele não é a única solução, mas sim uma das soluções energéticas.
Quais são as perspectivas para o GLP nos próximos anos?
Em 2030, a produção nacional vai estar perto de 11 milhões de toneladas/ano. Neste mesmo ano, a demanda pelo GLP será 60% maior. Porém, esse setor não vai mudar estruturalmente da noite para o dia. Você precisa preparar o espaço para o setor crescer. O Estado precisa dar o indicativo de que ele está atento às oportunidades e de que está provocativo aos investidores para que apliquem seus recursos.
E que oportunidades são essas?
Nós temos duas janelas de oportunidades. A primeira é utilizar o gás LP no aquecimento de água doméstica. Nós somos uma pátria de chuveiros domésticos. Segundo o Procel, 78% dos chuveiros usam a eletricidade para aquecer a água, enquanto que em países como a França esse índice é de 45%. Precisamos trocar essa matriz e existem vantagens econômicas para ambos os lados. É melhor você usar gás para aquecer em casa do que utilizar uma usina térmica para gerar eletricidade. A segunda janela de oportunidade seria a substituição da lenha na matriz energética residencial. Hoje, 27% da matriz residencial é composta por lenha. Substituir os 27% seria impossível, já que existem até fatores culturais que não vão permitir essa substituição, mas estimamos que é possível substituir cerca de um quarto da lenha por GLP.
E como o senhor propõe essa substituição?
Poderíamos criar um fundo específico para usá-lo na compra de gás. Seria o mesmo funcionamento de um vale-transporte, por exemplo. Mas isso depende muito da disposição do Estado em entender essa lenha como uma coisa incômoda. Nós apresentamos uma proposta inicial mais simples, mas a Petrobrás apresentou outra mais completa. Por enquanto, não há previsão de que esse projeto seja levado em frente, mas existe a esperança de que isso seja retomado.
O senhor considera que o uso do gás não convencional deve afetar o mercado de GLP?
Vai afetar o mercado como um todo, mas nós temos uma vantagem: não precisamos chegar com gasodutos. O gás LP chega nos mercados dispersos. Mas ao invés de competição, o GLP pode ser “ponta de lança” do gás natural e do não convencional. O mercado de GLP não tem medo da competição. Mas ao invés do gás natural ser utilizado em apartamentos ou padarias, seria melhor que ele tornasse as indústrias mais competitivas e deixasse as demais áreas para serem atendidas pelo gás LP.
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