FALTA DE DIÁLOGO COM O GOVERNO PREJUDICA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS NAVAIS E OFFSHORE | Petronotícias




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FALTA DE DIÁLOGO COM O GOVERNO PREJUDICA INDÚSTRIA DE EQUIPAMENTOS NAVAIS E OFFSHORE

Por Paulo Hora (paulo.hora@petronoticias.com.br) –

marcelo-camposA falta de diálogo entre governo, estaleiros, indústria e EPCistas é uma das causas para os problemas da desindustrialização brasileira e da falta de competitividade. Na opinião do presidente da Câmara Setorial de Equipamentos Navais e de Offshore (CSEN) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Marcelo Campos, as regras do conteúdo local perdem seu fundamento sem estarem associadas a uma política industrial, já que é possível cumprir as exigências sem diminuir as importações de equipamentos, cujo volume representa pouco no todo.

Como você avalia, em um contexto geral, a atual situação da indústria de equipamentos navais?

A indústria de fornecimento, como um todo, sofre com a concorrência das importações. Grande parte dos equipamentos para barcos de apoio vem de fora e o empresariado local se ressente de previsão de demanda. Os principais motivos para esse quadro são impostos em cascata e falta de incentivos. É um modelo fracassado. O Brasil é um dos únicos países que tributam investimento. Além disso, o nosso câmbio só é flutuante na teoria, mas é artificialmente controlado para minimizar a inflação, já que o Banco Central inunda o mercado com dólares em leilões de swap cambial com valor futuro (compra de dólares com taxa fixa de câmbio para controlar a alta da moeda). A mão de obra também é escassa.

O setor não consegue aproveitar a política de conteúdo local para aumentar sua participação?

Na concepção, a regra do conteúdo local é boa. Mas não dá para fazer isso sem uma política industrial. Exigir conteúdo local não é para criar reserva de mercado. Isso não ajuda. Na prática, também, a exigência entre 65% e 70% é facilmente cumprida pelos estaleiros sem afetar a importação de equipamentos, que representam um volume pequeno.

Pode-se dizer que há uma carência de tecnologia no Brasil?

Acho que não. O que falta é incentivo à inovação. A Finep poderia ser mais efetiva, mas acaba funcionando mais como um banco. De vez em quando sai alguma novidade, mas 80% dos financiamentos são destinados a grandes empresas. Necessitamos de investimentos muito mais amplos, que durem anos. O desenvolvimento de novas tecnologias deve acontecer na academia e o Brasil tem capacidade para isso.

Que medidas estão sendo feitas para superar esse problema?

É necessário que governo, estaleiros, indústria naval e EPCistas formulem uma agenda comum. Mas a liderança dessa política de país, para retomar o diálogo, deve vir do governo. Atualmente, cada um puxa a sardinha para si. Até 1999, todos estavam juntos. Depois, começaram a surgir isenções para alguns e houve esse rompimento. Hoje, há uma clara evidência de desindustrialização do país, com grandes empresas em dificuldade.

Como tem sido a relação da Petrobrás com os fornecedores?

Como fomentadora de negócios, a Petrobrás poderia incentivar seus EPCistas a negociar com a indústria. Quanto a investimentos, a política da companhia está correta e, de acordo com os planos divulgados, os desembolsos serão ainda maiores. O problema foi a política errônea do governo, que estrangulou o caixa da Petrobrás. Mas isso será superado em, no máximo, um ano, já que a produção de petróleo vai aumentar.

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