CANCELAMENTO DAS REFINARIAS PREMIUM QUEBRA EXPECTATIVA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA E DEVE AGRAVAR CRISE NO SETOR DE ÓLEO E GÁS | Petronotícias




faixa - nao remover

CANCELAMENTO DAS REFINARIAS PREMIUM QUEBRA EXPECTATIVA DA INDÚSTRIA BRASILEIRA E DEVE AGRAVAR CRISE NO SETOR DE ÓLEO E GÁS

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Antônio Müller, Presidente da ABEMI

Antônio Müller, Presidente da ABEMI

A maré negativa está deixando os empresários do setor de óleo e gás brasileiros sem novos horizontes. São tantas notícias ruins, que fica difícil para os executivos e para as empresas se planejarem, num momento em que não só a economia nacional passa por agruras, como o principal motor da indústria de petróleo nacional, a Petrobrás, está no meio da maior crise de sua história. Agora, com a decisão da estatal de cancelar os projetos das refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará, assim como com a suspensão do segundo trem de refino da Rnest, o mercado perde as poucas esperanças que ainda tinha em novas obras no setor, restando pouquíssimos grandes empreendimentos em desenvolvimento no Brasil, quase todos focados no segmento offshore. A novidade é quase que um complemento, no mau sentido, da decisão da Petrobrás pela contratação de empresas estrangeiras para a construção dos módulos para os FPSOs replicantes, que antes estavam sendo feitos pela IESA. A consequência direta e indireta é o que pode haver de mais agravante para o futuro do Brasil: um esvaziamento contínuo da nossa engenharia, como já aconteceu no passado e deixou marcas profundas no País.

O Petronotícias foi ouvir membros da indústria brasileira de petróleo e gás para saber como a notícia foi recebida e quais os impactos que ela deve gerar, na visão deles. Alguns executivos divergem um pouco da forma de encarar o assunto – com a lembrança de que a origem das refinarias Premium não partiu da área técnica da Petrobrás, mas sim de uma decisão política do Governo -, mas um sinal claro de como a informação foi recebida é que as palavras “péssima” e “ruim” estão entre as mais ouvidas nas respostas sobre o que acharam da decisão de cancelar os projetos. Veja a seguir as opiniões de Antônio Müller, Presidente da Abemi, Cesar Prata, Presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq, Marcelo Bonilha, Diretor Superintendente da EBSE, José Adolfo Siqueira, Diretor Executivo da Abitam, Guilherme Cruz, Presidente da EBCI, Sergio Salomão, Presidente da IMC Saste, e Márcio Cancellara, Presidente da Projectus Consultoria.

Antônio Müller – Presidente da ABEMI

“Infelizmente houve essa decisão. Acho que, no momento em que estamos, seria especialmente importante incluir os projetos básicos e conceituais delas. Isso era uma esperança na indústria, porque hoje o mercado está muito preocupado com a falta de projetos. Para o Brasil, seria interessante ser autossuficiente em derivados, e para o mercado foi mais uma decisão negativa, porque as empresas estão precisando de projetos.

O impacto direto disso é a falta de novos projetos. É uma pena, porque é um mercado futuro interessante, tanto para o Brasil, quanto para a Petrobrás e para a indústria de engenharia e construção”.

Cesar Prata, Presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq

Cesar Prata, Presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq

Cesar Prata – Presidente do Conselho de Óleo e Gás da Abimaq

“O cancelamento é muito ruim para a indústria e para o Brasil, porque eram projetos que, apesar de estarem sendo protelados nos últimos tempos, tinham sido anunciados pelo presidente da Petrobrás em 2009. O mercado levou a sério e se preparou para atender a essas demandas, mas agora uma nova gestão vem e diz: ‘era brincadeira, não é nada disso’.

O mercado tinha se preparado para atender a um volume de demandas e esse cancelamento corta uma parte das previsões que alimentariam as indústrias brasileiras fornecedoras nesse período de 2015, 2016 e 2017, pelo menos. Seria um derramamento de encomendas para a indústria, com o qual o mercado estava contando, mas que não vai mais haver. Então é uma notícia péssima.

É bom lembrar que no auge da crise, em 2009, o Brasil, para se esquivar parcialmente dela, durante uma das primeiras reuniões do conselho da Petrobrás daquele ano, incluiu o presidente da república, o Lula, no encontro. Ali ele disse: ‘companheiros, a Petrobrás vai ser a alavanca de investimentos para a gente manter as coisas rodando no país, apesar da crise’. Então naquele momento ele anunciou todas as refinarias que estão finalizando, mais as Premium, as plataformas, as sondas, os navios e tudo mais. O intuito era usar a Petrobrás e reverter uma possível crise endêmica. E funcionou.

Agora, que estamos vivendo, em 2015, uma estagnação na nossa economia e uma crise imensa na Petrobrás – com Operação Lava Jato, obras não entregues, etc – estou vendo que existe a oportunidade para outra reunião como aquela, incluindo presidente e ministros, para que se fale: ‘vamos reverter essa previsão, botar a Petrobrás para investir e tocar novos projetos, principalmente esses das Premium, usando a empresa da mesma forma que foi em 2009, para empurrar o País inteiro para frente’.

A Petrobrás representa sozinha 10% de todos os investimentos no Brasil, o que significa 1,5% do PIB. O momento para reverter a situação recessiva e a expectativa negativa do País é agora. Estão perdendo a oportunidade de, ao invés de cancelar os projetos, dar seguimento, usar o que tem na mão para reverter esse cenário nacional.

Outra coisa muito chata é a quebra de contrato. Vem o dirigente, Sérgio Gabrielli, percorrendo o País, incitando os empresários a investirem e fazerem parte, como fornecedores, dos investimentos da Petrobrás – ele fez um road show aqui e no exterior anunciando os projetos, temendo que a indústria nacional não tivesse capacidade de fazer frente às demandas da companhia –, todo mundo acredita e agora acontece isso? É uma quebra de contrato e reforça o clima de imprevisibilidade dos nossos gestores. Era um momento para eles reafirmarem o que prometeram há anos atrás”.

Marcelo Bonilha, Diretor Superintendente da EBSE.

Marcelo Bonilha, Diretor Superintendente da EBSE.

Marcelo Bonilha – Diretor Superintendente da EBSE

“É uma decisão muito ruim para o mercado, e o impacto é muito grande. No momento atual quase não há mais obras acontecendo, então cancelar refinarias desse porte é muito ruim.

Vai gerar o que já está gerando: falta de emprego e mais empresas em dificuldades financeiras.

Acho que as associações, das indústrias, das empresas, assim como as dos trabalhadores, precisam se reunir para mostrar o que está acontecendo, a realidade do País, e a consequência disso – que já está em andamento. Na minha opinião, o País começa a ter um grave problema social em função disso”.

José Adolfo Siqueira, Diretor Executivo da Abitam

José Adolfo Siqueira, Diretor Executivo da Abitam

José Adolfo Siqueira – Diretor Executivo da Abitam

“O impacto é grande, porque uma refinaria de 600 mil barris e outra de 300 mil são projetos bem grandes, obras de infraestrutura que demandariam bastante aço, então para o setor produtivo é ruim. Mas é claro que tem uma questão de logística. Quando houve a escolha do Maranhão, seria para exportação dos derivados. Mas o cenário mudou. Quando isso se inverteu, vendo que o Brasil tinha virado um importador, parou de fazer sentido, porque além de levar o petróleo do Sudeste para lá, teria que trazer os derivados de volta, ficando muito caro. Por isso que a Petrobrás está dizendo que não é viável economicamente. Então pode ser melhor realmente para eles aumentarem a Rnest e o Comperj.

Mas é claro que, para a indústria, mais refinarias geraria uma demanda muito maior, de aço, projeto, obra etc. Então o impacto é ruim, porque poderia ter um mercado muito maior para todos. Vai deixar de gerar empregos, impostos, produção e combustíveis”.

Guilherme Cruz, presidente da EBCI

Guilherme Cruz, Presidente da EBCI.

Guilherme Cruz – Presidente da EBCI

“O impacto disso para a indústria é péssimo. Na realidade, é uma redução de investimentos pesada no País. Esses eram os únicos projetos importantes que estávamos vislumbrando para acontecerem agora. O resultado disso é o que já estamos vendo, a possiblidade de PIB negativo, recessão… só coisas ruins.

Pode ser que tenha sido uma boa decisão para a área técnica Petrobrás, porque as Premium foram uma decisão política, então pode ser que tecnicamente para ela isso seja bom, mas as consequências para todo o País são péssimas.

O País parou, então existe uma falta de projetos muito grande. Todo mundo está aguardando para ver como a economia vai reagir, para poder se reposicionar. No momento, está tudo parado. Esse ano já nasceu para ser esquecido. Se pudéssemos apagar a luz e só ligar em 2016 seria a melhor coisa a fazer”.

Sergio Salomao-IMC-Saste

Sergio Salomão, Presidente da IMC Saste.

Sergio Salomão – Presidente da IMC Saste

“Como um empresário da área de engenharia, eu lamento, pois isso representa a eliminação da possiblidade de trabalhos para as empresas da área.

Porém, como brasileiro, e amante do Brasil, só tenho a elogiar a decisão. Uma decisão muito sensata, em vista das condições da Petrobrás e do mercado de óleo e gás. Porque a Petrobrás não tem capacidade de investimento nesse momento. O mercado não está demandante para construir essas refinarias no momento. Com o custo do petróleo lá embaixo, qual seria o custo disso? Seria outra Rnest, em valores? A minha opinião é que a Petrobrás tem que colocar a casa em ordem, deixar a poeira baixar, e depois começar a pensar novamente sobre os projetos. Então acho que foi a decisão mais sensata que ela poderia tomar”.

Marcio Alberto Cancellara, presidente da Projectus Consultoria

Márcio Cancellara, Presidente da Projectus Consultoria

Márcio Cancellara – Presidente da Projectus Consultoria

“A decisão da Petrobrás já era esperada, face não somente à priorização pela companhia dos investimentos em exploração e produção, mas também pela modificação do cenário internacional e a queda drástica do preço do petróleo. Ressalte-se que sempre houve certa dúvida sobre a viabilidade econômica da implantação dessas refinarias, cuja construção, como sabemos, foi uma decisão política de governo, e não técnica.

Quanto ao impacto disso, a indústria nacional, isto é, a rede de fornecedores do setor de óleo e gás, há dois anos se ressente da redução de contratos na área. Evidentemente a construção de uma refinaria oferece um leque de oportunidades e alimenta por um bom período a rede de fornecedores que se estende desde as empresas de projeto até os fabricantes de materiais e equipamentos. Então, eu diria que o cancelamento das refinarias Premium elimina expectativas que por ventura ainda poderiam estar existindo para reativar de forma consistente o setor de Óleo e Gás, tornando mais difícil a sua recuperação”.

2
Deixe seu comentário

avatar
2 Comment threads
0 Thread replies
0 Followers
 
Most reacted comment
Hottest comment thread
2 Comment authors
Bernardino Nilton do NascimentoJosé Carlos FERDINANDO Recent comment authors
  Subscribe  
newest oldest most voted
Notify of
José Carlos FERDINANDO
Visitante

Bom dia a todos,
É muito ruim para o país e para nos fabricante de tubos para essa linha de óleo & gás, que tínhamos uma luz no horizonte de um pequeno crescimento tanto nas vendas como na economia do país.
Maa, infelizmente por causa de poucos muitos vão sofrer com essa crise que já é muito real que elimina qualquer possibilidade de retomada de recuperação nessa área óleo & gás.
Mas, não podemos esquecer que nosso Brasil é GRANDE e VITORIOSO.
Precisamos acreditar.

José Carlos FERDINANDO
SANKEN TUBOS

Bernardino Nilton do Nascimento
Visitante
Bernardino Nilton do Nascimento

Eu acredito que a Petrobras deveria ficar somente com o refino e distribuição.
A Petrobras privatizava os poços existentes fazendo caixa.
A Agência Nacional Petróleo lança os leilões e fiscaliza a produção. Com o compromisso dos ganhadoras investir na construção das Plataformas no Brasil e obedecendo o Conteúdo nacional.