NOVO COMPLEXO DA BASF INTEGRA CADEIA PETROQUÍMICA NA BAHIA E GERA US$ 300 MILHÕES PARA A BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) / De Camaçari (BA)* –
O novo complexo acrílico da Basf, inaugurado oficialmente nesta sexta-feira (19) em Camaçari, na Bahia, já está operando a plena capacidade, e terá um papel importante na balança comercial brasileira, com a previsão de reduzir o déficit entre importações e exportações em cerca de US$ 300 milhões anualmente. O impacto representa aproximadamente 1% de todas as importações da cadeia química nacional, totalizada na ordem de US$ 30 bilhões, segundo números da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) citados pelo vice-presidente de químicos e produtos de performance da companhia alemã na América do Sul, Rui Goerck. A cerimônia oficial contou ainda com a participação da presidente Dilma Rousseff, dos ministros Joaquim Levy e Jaques Wagner, e do governador da Bahia, Rui Costa, entre outras autoridades.
Iniciada em 2012, a construção das três fábricas que compõem o complexo recebeu mais de 500 milhões de euros em investimentos nos últimos anos, com a previsão de suprir toda a demanda brasileira de ácido acrílico e acrilato de butila até 2017 ou 2018, além de atenderem à maior parte do consumo de polímeros superabsorventes (os chamados SAP) no País. Os três produtos gerados no polo servem a diversos fins, com utilização em resinas, tintas, fraldas e absorventes íntimos, além de terem aplicações nas indústrias têxtil e de construção.
O presidente da Basf no continente sul-americano, Ralph Schweens, ressaltou que este foi o maior investimento da empresa na região em toda a sua história, com 104 anos de presença local, enfatizando que o projeto está entre as maiores fábricas de ácido acrílico do mundo.
“Esse investimento vai fortalecer nossa liderança na América do Sul”, afirmou, destacando que o plano estratégico da companhia prevê um total de 1,2 bilhão de euros em investimentos no continente até 2017, incluindo os aportes já realizados na construção das fábricas.
Além de fortalecer o fornecimento de produtos químicos ao mercado interno brasileiro, que antes dependia de importações principalmente dos Estados Unidos e da Alemanha, o complexo trouxe a expectativa de um novo impulso ao Polo de Camaçari, com a vinda de empresas satélites para a instalação no entorno das unidades da Basf.
De acordo com Goerck, há uma previsão do próprio governo da Bahia de que mais de R$ 1 bilhão seja injetado na região por meio dessa influência gerada com a nova produção local. A primeira ação neste sentido foi o estabelecimento de uma fábrica da Kimberly-Clark no polo de Camaçari, para a produção de fraldas a partir do fornecimento de superabsorventes fornecidos pela Basf. Outra empresa, a SNF, também já anunciou que investirá R$ 260 milhões para a instalação de uma estrutura própria na região, com o intuito de se beneficiar da proximidade com as fábricas alemãs.
“Nossos produtos fazem parte de outras cadeias de valor, então estamos em contato com muitas outras indústrias e imaginamos que novos investimentos surgirão no futuro”, afirmou Schweens.
INTEGRAÇÃO PETROQUÍMICA
A instalação do complexo da Basf em Camaçari, além de servir de chamariz para outras indústrias relacionadas, também partiu de um movimento de integração com a indústria petroquímica quando foi confirmada, em 2011. A ideia surgiu exatamente quando perceberam o potencial de uma parceria com a Braskem, que garantiria o suprimento direto das matérias-primas necessárias ao funcionamento das três fábricas, principalmente em relação ao propeno, insumo básico utilizado na produção do ácido acrílico.
Como o foco da Braskem na região é a produção de nafta, o casamento foi interessante para as duas partes, já que o propeno é um subproduto gerado no processamento do nafta e não tinha um aproveitamento local, sendo exportado sem a criação de maior valor agregado. Agora ele será direcionado para a produção do ácido acrílico, que é depois utilizado nas outras duas plantas do complexo para a geração do acrilato de butila e dos polímeros superabsorventes.
A capacidade de produção de ácido acrílico do polo está estimada em 160 mil toneladas anuais, em atividade contínua, segundo a Basf, mas a empresa não informa as capacidades das outras duas unidades. No entanto, Goerck afirmou que cerca de 70% a 80% da produção de polímeros absorventes deve ser direcionada ao mercado brasileiro, enquanto o restante será exportado para a Argentina, principalmente, e outros países da América do Sul.
EXPANSÃO DO PORTO DE ARATU
O escoamento logístico da produção ainda sofre com alguns obstáculos, por conta da impossibilidade de transporte das cargas por meio ferroviário e por conta do alto índice de utilização do Porto de Aratu, atualmente em cerca de 97%. Ainda assim, as cargas serão levadas por navios, através de navegação de cabotagem, até São Paulo, mas a Basf já vem estudando com o governo formas de ampliar a capacidade de Aratu para atender às necessidades do novo complexo.
O governador da Bahia, Rui Costa, aproveitou a presença de Dilma e do ministro Joaquim Levy para pedir que a aprovação de novos terminais no Porto – inicialmente prevista apenas para grãos – seja estendida ainda para líquidos, gás, entre outros fins. A presidente assentiu em seu discurso e disse que estão aprimorando os projetos logísticos anunciados recentemente a partir de contribuições da indústria.
“Estamos abertos para acrescentar novas finalidades. Inclusive em relação ao Porto de Aratu. Contem conosco para isso”, afirmou Dilma.
Costa afirmou ainda que fez “uma provocação positiva” aos diretores da Basf para que a empresa traga linhas de pesquisa e desenvolvimento ao País, além da produção industrial, e contou que os executivos já estavam iniciando discussões com o corpo técnico do estado baiano para buscar formas de viabilizar isso.
O embaixador da Alemanha, Dirk Brengelmann, reiterou o compromisso do governo alemão e da indústria de seu País com o Brasil, afirmando que trata-se de um parceiro estratégico do governo de Ângela Merkel, e ressaltou que não é todo dia que um embaixador alemão pode estar presente na inauguração de um projeto tão grande como este, orçado em mais de meio bilhão de euros.
Dilma também exaltou a parceria entre os dois países em seu discurso, agradecendo os investimentos trazidos para o País, e lembrou que receberá a chanceler alemã no Brasil em agosto, durante uma visita em que buscará estreitar os laços entre as duas indústrias.
O discurso de Michael Heinz, membro do Conselho de Administração da Basf, corroborou esses dois posicionamentos e deu força a um maior protagonismo da indústria brasileira no cenário internacional.
“Com este projeto, vamos produzir para o Brasil e para outros países da América Latina, mas, por que não dizer; do mundo?”, concluiu.
*O repórter viajou a convite da Basf.
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