ESTALEIRO INACE BUSCA PROJETOS EM NOVOS MERCADOS PARA DRIBLAR O CENÁRIO DE MENOR DEMANDA
Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –
A capacidade de adaptação a novos mercados é um ponto chave para empresas do setor naval, que enfrentam hoje as dificuldades da crise. Com a grande redução na demanda por embarcações, os estaleiros buscam novos projetos que assegurem resultados lucrativos e permitam manter as portas abertas para o mercado. Há mais de 40 anos essa vem sendo a aposta da Indústria Naval do Ceará (INACE), companhia que busca atender a novos setores para manter as atividades lucrativas no momento de recessão. Ainda assim, porém, o cenário ruim traz fortes efeitos sobre as empresas do segmento. À medida que o mercado é tomado por incertezas, os bancos travam financiamentos e a inadimplência vem se tornando habitual, explica a diretora industrial do estaleiro INACE, Flávia Barros. A companhia, que já chegou a ter quase 80% de seus projetos sem pagamento, sofre com a dificuldade dos clientes em obter apoio financeiro para novos investimentos. Em meio à queda brusca na demanda por barcos de apoio, a solução tem sido buscar atuações em reparos e construção de rebocadores, conta Barros, que defende a implementação de incentivos governamentais aos estaleiros, como se faz em outros países. “Lá fora qualquer barco tem incentivos com a liberação de impostos, e eu acho que isso poderia ser feito aqui de alguma forma. São maneiras de ajudar, porque estaleiros são muito sazonais e possuem grandes custos”.
Quais os principais projetos da INACE?
Não temos projetos principais, mas diversas embarcações de várias áreas. Hoje não estamos mais construindo iates ou barcos para a Marinha, mas temos barcos de passageiros, transportadores, empurradores, rebocadores, barcos oceanográficos para universidades e outros mais. Esse talvez seja o nosso pioneirismo. Se o cliente quer um projeto novo, nunca feito antes, nós fazemos.
O estaleiro trabalha com parceiros?
Hoje não temos parceiros fixos. Passamos um tempo construindo para dois clientes grandes, mas isso atualmente está parado. Nós trabalhamos para empresas de logística, apoio portuário, e universidades como a UERJ.
Como a empresa tem sido afetada pela crise da indústria naval?
O maior problema que temos é a falta de pagamento dos clientes financiados pelos bancos oficiais. Já chegamos a ter quase 80% das embarcações sem pagamento, o que caiu para uns 60% agora que fechamos outros contratos com clientes que não têm dependência de financiamento.
Que medidas têm sido tomadas frente a esse cenário?
O que temos feito é correr atrás de novos mercados. Procuramos atuações na área de reparos, iates, indo atrás do que sempre fizemos e buscamos fazer. Nós fazemos projetos para barcos de oceanografia, e também estamos correndo atrás de clientes para a construção de rebocadores. O mercado está muito competitivo, então acaba que a lucratividade tem sido menor, mas todos têm sido afetados. A nossa flexibilidade para achar novos mercados faz com que a gente sobreviva. Somos um estaleiro que gosta do que faz, e queremos ter o lucro necessário para continuar trabalhando.
Quais têm sido os efeitos no setor de barcos de apoio?
O setor foi bastante afetado. Temos projetos no momento, mas que estão sendo finalizados e faltam apenas ser entregues. Atualmente temos cinco contratos para barcos de apoio parados por falta de pagamento.
Há expectativa de melhora?
No momento, não visualizamos nada. O que vemos hoje é muita gente correndo atrás de trabalho. Nunca houve uma época tão boa para a contratação de mão de obra especializada, porque há muita gente sem trabalho. A situação é difícil, porque quando um estaleiro fecha nós também somos prejudicados.
Que medidas o governo pode tomar para auxiliar as empresas?
No meu ponto de vista, parte do governo trabalhar na parte de incentivos, tal como foi iniciado com o Pronatec. O setor precisa de incentivos aos bancos para que achem uma maneira de não travar pagamentos aos clientes. Na maior parte dos contratos, os bancos chegam a ser sócios, mas ainda assim o processo é muito lento e acaba afetando os estaleiros. Isso já acontecia antes de a crise estourar. Os clientes às vezes têm dificuldade até para revender barcos, porque são exigidas várias garantias do novo comprador.
Como poderiam ser feitos esses incentivos?
Nos EUA, na Austrália, na Turquia e em alguns países europeus, o governo banca 20% das embarcações dos estaleiros de formas diretas e indiretas. Lá fora qualquer barco tem esse incentivo com a liberação de impostos, e eu acho que isso poderia ser feito aqui de alguma forma. São maneiras de ajudar, porque estaleiros são muito sazonais e possuem grandes custos. É interessante que se faça uma análise de quem está produzindo muito, para então incentivar essas empresas.
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