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BRASILEIRA COMANDA WORLD NUCLEAR UNIVERSITY COM A MISSÃO DE FORMAR FUTUROS LÍDERES DO SETOR

Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) – 

Patricia WielandO Brasil vem conquistando cada vez mais espaço na indústria nuclear mundial, mas ainda carece de definições importantes, como a partida no planejamento das novas usinas que serão adicionadas à matriz nacional nos próximos anos. Enquanto esse processo não anda no ritmo que deveria, muitos brasileiros vêm se destacando no cenário internacional e conquistando olhares por onde passam. Um dos exemplos é a diretora da World Nuclear University (WNU), Patrícia Wieland, que assumiu o comando da instituição em janeiro de 2014, depois de 32 anos trabalhando na Comissão Nacional de Energia Nuclear. Nos últimos dias, o País ganhou mais dois motivos para comemorar: a brasileira Alice Cunha ter vencido a Olímpiada Mundial de Engenharia Nuclear e o brasileiro Laercio Vinhas ter assumido a presidência da junta de governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês). Ou seja, em diversas gerações há grandes talentos nacionais despontando na indústria nuclear global. Nesse contexto, a posição de Patrícia tem tudo a ver com a WNU, fundada em 2003, já que, segundo ela, o papel da instituição é exatamente ajudar o setor a formar futuros líderes. A executiva conta que já realizaram muitos eventos no Brasil em conjunto com a ABDAN e vê o país numa posição privilegiada em termos de conhecimento no segmento nuclear, mas reconhece que ainda há muitos desafios a serem vencidos por aqui: “A área tecnológica precisa de estabilidade para crescer e se desenvolver. Não se pode ter pesquisadores mais preocupados com a política e o salário do que com seu próprio trabalho”.

Como é a estrutura da WNU?

A WNU foi criada em 2003 e tem quatro parceiros fundadores muito importantes. Duas são organizações intergovernamentais – IAEA e OECD/Nuclear Energy Agency – e duas associações – World Nuclear Association, que dá suporte administrativo, e World Association of Nuclear Operators. Além disso, várias outras organizações também fazem parte da nossa rede, que  cresce continuamente. A estrutura organizacional da WNU é bastante enxuta e eficiente.

E como ela funciona?

A WNU oferece uma gama de programas de educação e formação com uma metodologia única. Organizados pelo Centro de Coordenação da WNU em Londres, em colaboração conjunta com os membros da rede WNU, esses programas são desenvolvidos para atender as necessidades de formação de profissionais do setor nuclear, e particularmente ajudar na formação de futuros líderes.

Qual a participação do Brasil na instituição?

A CNEN é uma das organizações que apoiaram a criação da WNU em 2003. Eu sou brasileira e alemã, e comecei a trabalhar aqui como senior project officer em janeiro de 2014, após uma seleção internacional. Poucos meses depois, passei a ser Head do WNU, fazendo a restruturação da Universidade e centralizando a coordenação de todos os programas.  Antes de vir para cá, me aposentei pela CNEN, sendo que meu ultimo cargo foi como Diretora Adjunta do Instituto de Engenharia Nuclear.

Como os brasileiros podem participar de cursos e projetos da WNU?

Sempre temos brasileiros alunos e este ano eu convidei um brasileiro perito sênior para ser mentor no WNU Summer Institute na Suécia. Quem estiver buscando informações sobre os nossos programas, basta curtir nossa página no Facebook e visitar o website da WNU.

Para o próximo Summer Institute, que será em Ottawa, no Canadá, o prazo de inscrições para quem solicita apoio do AIEA é 20 de Novembro deste ano.  O site vai abrir as inscrições em outubro.

A WNU tem parcerias com empresas?

As empresas são convidadas a participar com patrocínio e na organização de visitas técnicas. Vários professores são CEOs ou presidentes de empresas, que têm o maior prazer em dar aulas na WNU. No último Summer Institute, tivemos 20 diretores ou presidentes de várias partes do mundo.

Quais eventos a WNU promove regularmente?

Promovemos uma série de programas, como Summer Institute (anual), Radiation Technology School (bianual), Nuclear Olympiad (a cada quatro anos), cursos de curta duração (sob a demanda dos países), Nuclear English Courses (sob demanda e in company), dentre outros, além da venda de livros. Todos podem ser vistos no site da WNU.

Já realizamos vários no Brasil em conjunto com ABDAN. Este ano fizemos cursos de curta duração na África do Sul, na Jordânia, na Malásia, na China e na Coreia do Sul. Também fizemos em 2014 um curso de inglês para o setor nuclear na Eletronuclear, em Angra dos Reis (RJ).

Qual a importância da Olimpíada de Engenharia Nuclear para a indústria mundial?

A Olimpíada Nuclear atrai alunos do mundo todo para um desafio. Exige muita coragem de um jovem participar de um evento internacional com tantas luzes voltadas a ele, postando o trabalho dele no Youtube e sendo analisado por júri internacional. Não basta só pesquisar e ganhar conhecimento. Também tem que ter a responsabilidade de saber se comunicar com o público e demonstrar transparência.  Na apresentação final dessa Olimpíada, todos foram excelentes, e cada um usou uma estratégia de comunicação própria.

Eu atuei no acidente radiológico em Goiânia, em 1987, e senti, na época com 27 anos, como é importante para os cientistas saberem explicar claramente, dentro da sua área de competência, tudo o que afeta o público; desmistificar e colocar os riscos em perspectiva.

Como vê a vitória de uma brasileira, a Alice Cunha, no evento?

O Brasil é bastante desenvolvido na área nuclear, e participa dos eventos principais. Na semana passada, um brasileiro, o Laercio Vinhas, assumiu a presidência da junta de governadores da IAEA. E não é surpresa um brasileiro chegar às finais de competições técnicas internacionais. Temos vários exemplos em física, química e biologia. Isso traz muito orgulho para os brasileiros. E muita esperança também.

Nessa Olimpíada Nuclear, o tema era simples, mas a comunicação oral foi um fator preponderante. A brasileira fala perfeitamente inglês e soube cativar a plateia e os jurados.

Como o Brasil se posiciona atualmente no cenário global de engenharia nuclear?

A energia nuclear é responsável por 3% do abastecimento elétrico do país, mais de 30% do abastecimento do estado de Rio de Janeiro, e com Angra 3 vai chegar a 60%. As usinas nucleares em Angra têm atuação espetacular e são elogiadas no cenário internacional como exemplo de capacidade de geração. Vários artigos de colegas da área nuclear são os mais acessados e referenciados por pesquisadores de outros países. Temos muito a ensinar, mas temos que saber divulgar as conquistas também. 

Quais são os principais desafios do país nesta área e o que pode ser feito para superá-los?

Na minha opinião, são muitos os desafios no país atualmente. A área tecnológica precisa de estabilidade para crescer e se desenvolver. Não se pode ter pesquisadores mais preocupados com a política e o salário do que com seu próprio trabalho. Na área nuclear, são muitas as oportunidades de colaboração internacional. Mas a colaboração é só um meio e não o final. Há que se ter metas claras, com prazo determinado, que levem ao desenvolvimento do país. 

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