CRISE POLÍTICA DO PAÍS E A CORRUPÇÃO FORAM DESTAQUES NEGATIVOS DE 2015, SEGUNDO EMPRESÁRIOS
A cada dia, com a sequência das notícias, as operações policiais chegando à origem de todo desvio de dinheiro, que acabou arrastando quase compulsoriamente as grandes empresas morro abaixo, o ambiente de negócios sofre cada vez mais. Nesses últimos dias de 2015, a sensação não é de fim de um ciclo de más notícias, mas o reinício de um novo ciclo, com as revelações dos nomes de políticos envolvidos em operações fraudulentas envolvendo o dinheiro da Petrobrás. Por tudo isso, as opiniões dos empresários ouvidos nesta quinta-feira (17) no Projeto Perspectivas 2016 são bastante contundentes. Nós ouvimos o Presidente da Planave, Rodrigo Sigaud, o Presidente da Fechometal, José Amorim, e a Presidente da Corcovado Tintas, Ivanira Araújo.
Veja primeiramente as posições do presidente da Planave, Rodrigo Sigaud:
– Como analisa os acontecimentos em seu setor neste ano ?
“A Engenharia Consultiva é uma das primeiras áreas a sentir os efeitos de uma crise econômica. Neste sentido, desde meados de 2014 já vínhamos convivendo com uma forte desaceleração na contratação de estudos e projetos, tanto que já temíamos ainda antes das eleições por um agravamento da situação, o que de fato ocorreu. A surpresa ficou por conta da intensidade e da velocidade do desaquecimento a partir do início de 2015.
Assim como em outros setores, fomos forçados a realizar uma forte desmobilização de nossos recursos humanos desde então. Só no setor de Óleo&Gás, por exemplo, esta desmobilização foi certamente superior a 60% em relação ao mesmo período do ano passado. No nosso caso, a situação se mostra ainda mais dramática pelo fato destas pessoas representarem o real ativo das empresas de engenharia consultiva. São necessários anos de investimentos e treinamentos para formações adequadas destes profissionais.”
– Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa?
“Esta é uma crise diferente de todas as outras que já vivenciamos. Não só pela rapidez com que ela se implantou, mas também por conta de sua abrangência. Poucos setores podem se dar ao luxo de afirmar que não foram afetados por ela. Para o segmento de engenharia que tem sua razão de ser nos investimentos a serem realizados, o que mais chama atenção nesta crise é a falta de confiança no futuro a curto ou médio prazos. A solução passa obviamente pelo equacionamento dos problemas fiscal e político, mas não só. Deveríamos estar investindo em planejamento e projetos para permitir uma retomada mais célere do nível de investimento para quando a situação melhorar, mas não é isto que estamos observando no momento.”
– Quais as perspectivas para 2016? Pessimistas ou otimistas?
“O setor da Engenharia Consultiva está bastante apreensivo com as perspectivas para o ano de 2016. Se somos os primeiros a entrar em uma crise, somos também os primeiros a sair. Ocorre que até o momento os sinais de uma possível recuperação ainda não se apresentaram. As commodities minerais, incluindo o petróleo, que respondem por grande parte do investimento no país, continuam em baixa afetando outros setores e os orçamentos de estados e municípios.
Por outro lado, o Brasil em termos de infraestrutura é um país onde muito ainda está por fazer. Quando da crise de 2008 na Europa, países como Portugal e Espanha viram sua engenharia ser profundamente afetada e até os dias de hoje não conseguiram se recuperar plenamente, já que sua infraestrutura se encontra consolidada. Nós ainda temos um longo caminho a percorrer e temos de ser otimistas de que este futuro melhor não tardará a chegar.”
O Presidente da Fechometal, José Amorim, conhecido por sua sinceridade, um empresário moderno que busca constantemente a ampliação dos negócios de sua empresa, inclusive na sua internacionalização, faz praticamente um desabafo ao analisar a situação da economia brasileira neste momento:
“Infelizmente foi mais um ano perdido para o nosso país, salvo as denúncias e acontecimentos políticos, lamentáveis, que estão se sucedendo nos noticiários. O que temos visto é que os planos mirabolantes deste governo para a área de óleo e gás, no passado, na verdade eram somente para desviar dinheiro da Petrobrás, para enriquecimento de pessoas e partido político, e não para fomentar o crescimento do país nesta área. Quando as denúncias vieram à tona, junto com elas veio a realidade da situação econômica da Petrobrás e do próprio país. Infelizmente arrastou toda uma cadeia de fornecedores, que se prepararam para atender a demanda do plano de investimento da Petrobrás. Hoje o que se vê é uma paralisia total do governo e dos políticos em função da falta de credibilidade e competência do atual governo em não saber o que fazer para reverter esse quadro, como também em governar.
Enquanto durar esta indefinição quanto à continuidade do atual governo, creio que continuaremos a aprofundar a crise política e econômica. Por exemplo, qual o valor do dólar? R$ 3,80 – R$ 4,00 – R$ 4,20 – R$ 5,00. Ninguém sabe ao certo, portanto, qual empresa séria vai fazer novos investimentos com essa indefinição?
Para mim, o primeiro passo é acabar com esse indefinição, e que a equipe econômica que ficar ou assumir consiga implementar os ajustes econômicos possíveis de serem feitos, infelizmente com aumento de impostos temporários, corte de despesas supérfluas, corte de cargos comissionados, diminuição da máquina governamental, e infelizmente corte de investimentos sociais, acabando com o assistencialismo. Ao invés de distribuir dinheiro, é melhor gerar emprego, para que essa pessoa viva com mais dignidade e não dependa de ajuda de ninguém. Esse país é enorme e é tão carente de estradas, portos, hidrovias, etc.
Obras imprescindíveis para o crescimento sustentável desta nação tão rica em produtos naturais, mas tão pobre em produtividade e tecnologia. Quanto a perspectivas, infelizmente estou bastante pessimista a respeito dos próximos anos, pois vamos passar por mais uns dois ou três anos de recessão, isso se começarem os ajuste necessários rapidamente, com um aumento da inflação, aumento do desemprego, aumento do dólar, ou seja, um quadro bem feio.
No momento estamos apostando no mercado externo, para conseguir sobreviver e talvez crescer. Desculpem-me por ser tão pessimista, mas esse é meu pensamento sobre a atual situação do Brasil.”
A empresária Ivanira Araújo, presidente da Corcovado Tintas, não é tão contundente, mas faz a sua análise ao responder às perguntas.
– Como analisa os acontecimentos em seu setor neste ano?
“A crise econômica é séria, porém a moral ainda é mais grave porque nos deixa com pouca esperança. Os políticos não têm a quem dar nenhuma satisfação, estão envolvidos e fazem o que querem, negociam com dinheiro do país benefícios que só eles usufruem.”
– Quais seriam as soluções para os problemas que o país atravessa ?
“Acho que só a manifestação do povo unido e com uma só voz para eles temerem não serem eleitos na próxima eleição ou terem a punição implacável sem chance do jeitinho brasileiro.”
– Quais as perspectivas para 2016? Pessimistas ou otimistas?
“Acho que mesmo com pouca esperança temos que continuar lutando. O Brasil ainda tem jeito. Precisamos nos organizar mais e lutar contra esta situação insustentável.”
Deixe seu comentário