FIM DAS SANÇÕES INTERNACIONAIS ABRE OPORTUNIDADES PARA EMPRESAS BRASILEIRAS NO IRÃ
Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –
Onde há risco, há também oportunidade. A retomada da produção de petróleo no Irã vem alarmando o mercado internacional, que prevê uma queda ainda maior no preço do barril pelos próximos meses, mas o cenário de crescimento produtivo pode abrir espaço para novos investimentos brasileiros no país. É o que afirma o consultor estratégico de negócios entre Brasil e Oriente Médio da Mercator Business Intelligentsia, Jorge Mortean, para quem o alto potencial de exploração na indústria iraniana de óleo e gás representa uma oportunidade para empresas de base tecnológica. Afetado por sanções econômicas nos últimos anos, o mercado do Irã conta hoje com um potencial reprimido, tanto de produção quanto de comercialização, e demanda tecnologias de ponta para superar estruturas defasadas em sua cadeia industrial. Segundo Mortean, a perspectiva de desenvolvimento no país, que detém a segunda maior reserva de gás natural do mundo, sinaliza diretamente para a Petrobrás, que pode caminhar para uma retomada de laços comerciais junto ao Irã. A estatal fechou sua unidade de Teerã em 2009, após pressões internacionais, e conta agora com aval para reingressar no mercado iraniano de petróleo e gás, que já está sob o foco de grandes petroleiras europeias, como Total e ENI. “As sanções fizeram com que o Brasil saísse, mas essa porta se abriu novamente e pode levar outras empresas privadas do ramo. Se eu fosse da Petrobrás, apesar da convulsão estrutural, estaria entrando agora em um avião para Teerã.”
Como a retomada da produção no Irã pode afetar o mercado brasileiro?
Com a suspensão das sanções ao Irã, a Petrobrás passa a ter carta verde para investir no país. O Irã tem a segunda maior reserva de gás natural do mundo, e é tão estratégico que a Petrobrás mantinha seu escritório geral para o Oriente Médio lá. Em 2009, fecharam por pressão de acionistas americanos, o que na época foi uma perda política e econômica para o país. Essa retomada abre novos horizontes, e não só para a Petrobrás.
Quais investimentos devem atrair empresas para a região?
Há espaço para investimento por causa da falta de tecnologia adequada; ainda existe uma dependência. Isso faz com que as empresas que dominam tecnologias de ponta, tanto de prospecção quanto de exploração, possam voltar ao país sem o risco de 2009. O Irã tem hoje um potencial reprimido de produção e comercialização, e os campos de gás no norte do país ainda devem ser estudados. Este era um projeto que a Petrobrás estava desenvolvendo com a estatal iraniana e foi interrompido.
A suspensão das sanções abre um precedente para os brasileiros, porque temos um grande know-how de tecnologia petrolífera, e eu acredito que essas negociações devem ser retomadas. A exportação do petróleo iraniano só será impulsionada se empresas estrangeiras com tecnologia de ponta se instalarem no país.
Esse investimento por parte da Petrobrás seria viável no atual cenário?
Sim, devido ao potencial geopolítico da situação. O que pode ser uma desvantagem, ainda muito oscilante, é o preço do petróleo, que está em baixa. As empresas que querem investir precisam avaliar se vale a pena, mas o potencial é enorme. Só o campo de South Pars, dividido com o Qatar, é a maior reserva de gás comprovada no mundo. As sanções fizeram com que o Brasil saísse, mas essa porta se abriu novamente e pode levar outras empresas privadas do ramo. Se eu fosse da Petrobrás, apesar da convulsão estrutural, estaria entrando agora em um avião para Teerã.
Qual é hoje a maior presença estrangeira no mercado iraniano de petróleo?
A China, sem dúvidas. A estatal CNOOC está presente em contratos de cooperação, desenvolvimento de técnicos e até reforma de refinarias. Os chineses fizeram investimentos na última década porque têm uma demanda muito grande por energia, e estão nos principais pontos de exploração no Irã, desde a fronteira com o Iraque até o Golfo Pérsico.
Que países negociam hoje investimentos no Irã?
As negociações europeias estão mais avançadas que as norte-americanas, porque Irã e Estados Unidos não mantêm relações diplomáticas. A francesa Total e a italiana ENI vêm conversando diretamente com o Ministério de Energia iraniano, e acredito que, se os brasileiros não se moverem rápido, os europeus tomarão nosso lugar.
As potências europeias estão próximas de fechar projetos?
A Europa vai voltar em cheio. Ainda não vi nada sobre a Shell ou a BP, porque os ingleses têm um passado muito negativo com o Irã. O governo iraniano tem mudado sua retórica, mas por muito tempo mantiveram esse rancor com ingleses e americanos, que exploravam petróleo no país por um preço irrisório no início do século XX. A nacionalização do petróleo no Irã só aconteceu em 1951. Esse desafeto ainda não foi resolvido, mas tudo se encaminha para uma retomada diplomática entre os países.
O Irã tem conseguido cumprir suas metas de produção?
Eles têm um plano produtivo a cada cinco anos, e até o último, que foi há dois anos, conseguiram cumprir essas metas com ajuda dos chineses. A China ajudou a dar esse sobrepasso técnico, que ainda falta um pouco ao Irã.
O crescimento da produção iraniana ameaça a indústria brasileira?
Qualquer movimento favorável à indústria deles afeta o nosso mercado, porque somos concorrentes. Isso pode piorar ainda mais nosso cenário doméstico, porque dependemos de investimento estrangeiro, e os problemas na Petrobrás afugentaram o investidor de fora. O cenário está muito pessimista. A retomada do petróleo no Irã vai mexer em todo o jogo geopolítico, por isso a Arábia Saudita e outros produtores estão ariscos com esse crescimento.
No momento, temos dois pesos: um nos afunda e outro nos eleva. O que nos afunda é a chegada de um novo concorrente no mercado internacional de petróleo. Praticamente toda a produção da Petrobrás atende ao mercado interno, mas tentarão minar a nossa pequena fatia de mercado fora do país. O que nos eleva, por outro lado, é a oportunidade para os brasileiros que estão no mercado doméstico. Eles podem se alertar, mudar o curso de projetos e reinvestir no Irã porque é uma grande aposta.
Qual é hoje o principal mercado para o Irã?
Ainda é o asiático, com China e Índia. Até recentemente, quase um terço da dependência energética chinesa vinha do Irã. Na Índia, isso está em torno de 20%, e na Coréia do Sul está em cerca de 33%. O Irã procura manter boas relações com esses países, o que corresponderia à metade de sua produção. A outra metade é da Europa, o que foi complicado quando os Estados Unidos reforçaram as sanções sobre a indústria petrolífera.
O investimento brasileiro no Irã pode ser feito em médio prazo?
Eu acredito que até em curto prazo. Se for do interesse da Petrobrás e abrirmos nosso escritório regional, isso seria feito com os pés nas costas. Há dois viés. No atual momento, em que está se segurando para não naufragar, a companhia precisa pensar se será vantajoso retomar esses laços com o Irã. Mas é uma boa oportunidade, desde que não comprometa a saúde financeira da nossa empresa.
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