FNE DEFENDE PARTICIPAÇÃO DO GOVERNO EM NOVOS INVESTIMENTOS PARA RETOMAR MERCADO NACIONAL DE ENGENHARIA
Por Luigi Mazza (luigi@petronoticias.com.br) –
Imersa em um cenário de paralisações e projetos cancelados, a indústria nacional começa a traçar seu caminho em direção ao futuro e o momento é de novas perspectivas para retomar o crescimento. A cadeia brasileira de engenharia busca hoje virar as páginas da Operação Lava-Jato e adentrar um novo ciclo de investimentos, o que pode permitir avanços significativos em diversos setores do país. É esse o foco que vem guiando a nova gestão da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), que foi empossada no início desta semana e já vem movimentando esforços para ampliar o alcance de projetos desenvolvidos nos últimos anos, como o Cresce Brasil, destinado agora a elaborar soluções que acelerem o fim da crise. Reeleito para comandar a entidade no triênio 2016-2019, Murilo Pinheiro avalia que as medidas de compliance adotadas por grande parte das empresas já apontam para uma maior confiança no mercado, que depende agora de novas iniciativas do governo para retomar projetos junto à iniciativa privada. Com o objetivo de aumentar a participação do setor de engenharia no planejamento da economia, a FNE busca hoje ações conjuntas nos segmentos de energia elétrica, meio ambiente e transporte. Segundo Pinheiro, o desenvolvimento das diversas áreas da indústria deve partir hoje de medidas do Estado, que precisa retomar a confiança do investidor privado com fluxo de novos aportes. “Isso é preciso para iniciar obras, pensar em tecnologia e em desenvolvimento. A recessão aumenta quando seguramos o dinheiro, e também aumenta a dívida, o desemprego; é um processo muito grande.”
Como a FNE se posiciona hoje para combater a crise?
Nós trabalhamos para o desenvolvimento e crescimento do país, e temos propostas factíveis para esse crescimento. A engenharia tem projetos que podem contribuir para a saída da atual crise.
Quais são as propostas da federação para os próximos anos?
Nós temos diversas, entre elas o projeto Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento. Nós discutimos todas as questões da sociedade, como transporte, habitação, meio ambiente e recursos hídricos. Apresentamos propostas que possam contribuir com a saída da crise, como devem ser feitas e quais são factíveis. Este ano, como teremos eleições municipais, estamos fazendo um projeto falando de cidades. Então vamos abordar mobilidade, transporte público e energia, avaliando o Brasil e fazendo seminários com especialistas de cada área.
Que mudanças a FNE avalia necessárias para que o país retome o ritmo de investimentos?
Nós entendemos que o Brasil precisa colocar o dinheiro para correr. Não podemos ter o mesmo pensamento que temos quando se trata da nossa casa, segurando o dinheiro e achando que vai ficar tudo bem. A recessão aumenta quando seguramos o dinheiro, e também aumenta a dívida, o desemprego; é um processo muito grande. É necessário que o governo invista, para que então a iniciativa privada faça o mesmo. Isso é preciso para iniciar obras, pensar em tecnologia e em desenvolvimento.
O senhor avalia que já existe sinal de retomada nesse sentido?
Não, mas é o que estamos propondo, estamos debatendo isso. Temos como foco não discutir recessão, mas crescimento; não desemprego, mas apresentação de novas empresas. É uma forma de tentar sair da crise com propostas factíveis. Quando se consegue injetar dinheiro, amplia-se a quantidade de empregos e também se estimula a iniciativa privada.
Como a FNE se posiciona hoje diante do descrédito de grandes empresas de engenharia em decorrência da Operação Lava-Jato?
Sem dúvidas isso tudo foi muito difícil. Acho que precisamos preservas as empresas. Obviamente, aqueles que erraram devem ser punidos, mas as empresas que construíram e contribuíram muito para o Brasil devem ser preservadas. Ainda estamos devagar na retomada, mas tenho certeza que as coisas começam a clarear. Mas essa recuperação tem uma inércia. Com essa crise tivemos dificuldades para todos os lados; toda a cadeia de empresas que trabalham com grandes companhias foi afetada.
Já se percebe uma melhora nesses problemas de confiança?
Sim, acho que estão caminhando e que vão ser corrigidos. A questão de compliance das empresas e a forma como vinham atuando, por exemplo, está andando de forma interessante.
Quais são hoje os principais projetos da FNE?
A federação vem trabalhando através desse projeto do Cresce Brasil e também da Engenharia Unida, em que tentamos discutir questões da engenharia nacional. Queremos que o engenheiro participe mais efetivamente da política pública. E pensamos também em discutir as empresas e a participação do engenheiro como protagonista, participando, por exemplo, de núcleos e conselhos. Queremos demonstrar cada vez mais a nossa disposição em discutir questões da sociedade com a visão da engenharia.
Que mudanças práticas podem ser efetivadas a curto prazo na indústria brasileira?
Eu acho que temos que terminar as obras. Precisamos finalizar projetos, porque obras paradas são as mais caras que existem. O governo tem que investir em infraestrutura, porque nesse momento de crise a iniciativa privada se paralisa esperando a confiança para poder investir. A macroeconomia só anda se tivermos a iniciativa também por parte do governo.
Em que frentes a federação busca atuar hoje?
Nós tratamos da questão da mobilidade, assim como do saneamento básico, que hoje é algo que precisa ser pensado. Temos um núcleo bem forte discutindo isso e queremos dar nossa contribuição. Também trazemos propostas para o setor de energia.
Como estimular hoje novos projetos no setor energético?
A demanda por energia está diretamente relacionada ao crescimento do Brasil, que cada vez mais precisará dela. Nós elaboramos o Cresce Brasil quando identificamos que, para ter determinado crescimento, é preciso ter investimento.
Quais são as propostas da FNE para retomar o crescimento do setor?
Eu acho que precisamos fazer uma reformulação no planejamento do setor elétrico, tanto na questão das distribuidoras quanto das empresas transmissoras. É preciso debater as responsabilidades, até onde se estendem as distribuidoras, além das geradoras de energia. O atual modelo está ultrapassado, tem alguns problemas e estamos vendo empresas passando por dificuldades. Daqui para frente, teremos que pensar em como o governo vai subsidiar essas empresas. Se mantivermos o modelo dessa forma, acabaremos tendo outros prejuízos.
Qual é hoje a principal dificuldade vivida por essas empresas?
Existe o problema da tarifa, de determinar até onde ela vai. Algumas linhas básicas precisam ser discutidas, para saber de quem é a transmissão, até pela questão dos ganhos de cada um. Precisamos reavaliar também a questão do mercado livre de energia e da rede básica, vendo quais são as responsabilidades de cada lado.
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