AVANÇO DAS ARTICULAÇÕES DE TEMER DÁ FORÇA AO NOME DE ADRIANO PIRES PARA ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DA PETROBRÁS

Em época de especulações nos bastidores da política e do mercado, mais um nome começa a ganhar força na corrida para a sucessão de Aldemir Bendine na presidência da Petrobrás. Trata-se de Adriano Pires, sócio-diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), que teve um papel importante na campanha à presidência do senador Aécio Neves, quando ficou responsável por coordenar a área de energia do então candidato às últimas eleições, vencidas por Dilma Rousseff. Com o avanço do impeachment da atual presidente, já aprovado na Câmara e à espera do aval do Senado, o vice-presidente Michel Temer está articulando minuto a minuto as indicações para os cargos estratégicos para sua gestão, caso venha a assumir de fato. E, para a Petrobrás, além de outros nomes aventados inicialmente, o de Pires tem se tornado o mais forte após as primeiras discussões. Procurado pelo Petronotícias, ele disse que não poderia dar entrevista ou comentar o assunto.

O candidato à cadeira de Bendine conta com uma extensa qualificação acadêmica, possuindo doutorado em Economia Industrial pela Universidade Paris XIII (1987), mestrado em Planejamento Energético pela COPPE/UFRJ (1983) e graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1980), com mais de 30 anos atuando na área de energia.

No mercado, trilhou sua carreira principalmente na Agência Nacional de Petróleo (ANP), onde atuou como Assessor do Diretor-Geral, Superintendente de Importação e Exportação de petróleo, derivados e gás natural e Superintendente de Abastecimento.

Desde então, vem se dedicando ao Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), fundado em 2000, com o intuito de servir como consultoria para a prestação de “serviços de Inteligência e Gestão de Negócios no mercado de energia”. A empresa faz análises contínuas do mercado e dos indicadores da Petrobrás, e o consultor sempre teve uma postura crítica às gestões do PT frente à estatal. No entanto, o CBIE não divulga seus clientes na apresentação de seus serviços, afirmando apenas que “são empresas atuantes nos vários segmentos dos mercados de eletricidade, gás natural, petróleo e fontes renováveis de energia”.

A posição crítica de Pires lhe deu grande destaque na mídia nacional nos últimos anos, e sua presença nos meios de comunicação vinha se intensificando cada vez mais, por meio de entrevistas e pela publicação de artigos em jornais impressos. Num desses textos, veiculado no Jornal Estado de São Paulo, no último dia 9 de abril, Pires fala sobre a importância de a Petrobrás passar por uma espécie de “refundação”. Nas palavras do consultor, seriam necessárias diversas decisões duras para que a estatal possa retomar o seu rumo:

“De imediato, duas medidas precisam ser implantadas. A primeira é o consumidor ficar ciente de que vai ter de pagar um prêmio no preço da gasolina e do diesel nos próximos 4 a 5 anos, para que a Petrobrás possa gerar caixa e enfrentar sua dívida. (…) A outra medida de curto prazo seria promover uma capitalização da empresa entre R$ 100 bilhões e R$ 200 bilhões, devolvendo aos cofres o dinheiro retirado pela má gestão e pela corrupção”, afirma Pires no artigo.

Nas contas dele, baseadas em publicações da própria Petrobrás e em cálculos do CBIE, a estatal acumula dívidas somadas em cerca de R$ 543 bilhões, com R$ 300 bilhões a R$ 350 bilhões vencendo entre 2016 e 2020. Além disso, ressalta que, para manter a produção no patamar de 2,1 milhões de barris/dia, ela precisaria investir outros R$ 400 bilhões no mesmo período. Contando com um saldo de R$ 100 bilhões em caixa, restam R$ 700-750 bilhões de necessidade de caixa mais rolagem, para R$ 300 bilhões de receita. “A conta não está apertada, ela simplesmente não fecha por uma larga diferença”, pontua o consultor no artigo, ressaltando que a maior parte dos recursos aportados entre 2009 e 2016 não foi aplicada em investimentos com contrapartida em receita, e, por isso, seria fundamental uma revisão do plano estratégico em que se defina a Petrobrás que o País deseja ter nos próximos anos.

O nome dele é bem visto por uma parcela significativa do mercado, por ter um viés técnico e preocupado com a gestão da empresa, para além dos imbróglios políticos. No entanto, por conta das mesmas opiniões, e pelos anos de críticas às decisões do PT à frente da Petrobrás, a ala esquerda nacional não vê o consultor com bons olhos, com críticas feitas em alguns blogs que seguem a defesa do governo petista.

Agora, com o apoio do mercado, seu maior desafio será provar na prática que sua teoria está correta.