ESTALEIRO ENSEADA DO PARAGUAÇU PLANEJA ATUAR COMO EPECISTA NO SETOR DE ENERGIA EÓLICA
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A indústria naval passa por um momento delicado no Brasil, trazendo às empresas o desafio da sobrevivência num cenário de poucos negócios. Os estaleiros nacionais sofrem com a falta de novos projetos e o cancelamento de contratos com a principal cliente do País, a Petrobrás. Para fugir desta situação, o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, na Bahia, iniciou um projeto de diversificação de negócios, com a meta de transformar a unidade num polo industrial e logístico. O vice-presidente de operações da Enseada Indústria Naval, Guilherme Guaragna, revela que um dos focos de atuação a partir de agora será o setor de energia eólica, já que o estado da Bahia – onde a unidade está localizada – tem boas perspectivas de crescimento neste segmento. Algumas das formas de se inserir nesse mercado, segundo Guaragna, seria atuando como EPC e na fabricação de torres. O segmento naval, contudo, não deixará de ter seu espaço no estaleiro. O executivo explica que a empresa está buscando negócios nos mercados da marinha mercante, de navios para produtos químicos e de manutenção da indústria naval. Tanto no setor eólico quanto no naval, o Estaleiro Enseada do Paraguaçu já possui conversas com clientes para fechar novos contratos.
Como vai acontecer essa mudança de foco do estaleiro, passando a atuar como um polo industrial e logístico?
O reposicionamento é fruto de uma reflexão importante que nós fizemos, baseada em alguns fatores. Um deles tem a ver com o momento da indústria naval no Brasil. A gente sabe que esse mercado vive em um processo cíclico, algo que tende a se repetir. O segundo ponto leva em consideração o investimento que a Enseada fez de R$ 3 bilhões no estaleiro, numa área de 1,6 milhão de metros quadrados. Possuímos uma posição geoeconômica diferenciada, a região da Bahia, que tem uma indústria eólica em crescimento. Por isso, a Enseada está agindo efetivamente para ter um reposicionamento, sem perder o foco da indústria naval, se transformando assim em polo industrial e logístico.
Em que fase está esse processo de reposicionamento? Estão previstos novos investimentos no estaleiro ou obras de expansão?
O processo já está em curso. A grande vantagem que temos é que não será preciso fazer investimento adicional. Estamos participando de novos negócios, não só na indústria naval, mas também em tomadas de preço na área de logística, sobretudo na parte de logística eólica. Na parte industrial, estamos com foco na fabricação de módulos – módulos para plantas de processos e módulos para a indústria naval. É um processo que se iniciou e que está buscando conquistar novos contratos a partir dessa diversificação.
Não estão previstas novas obras. Mas, obviamente, à medida que forem sendo desenvolvidos novos mercados, vamos reavaliar.
E já há novos negócios em vista a partir desta diversificação de negócios?
Estamos com várias frentes, tanto na indústria naval segmentada, como na eólica e de fabricação. Já temos conversas avançadas. Em relação aos clientes da indústria eólica, estamos em fase final de conversas. Já dentro do segmento naval, estamos participando de três tomadas de preço.
O estaleiro planeja buscar clientes no exterior?
Sim, e inclusive já tivemos recentemente propostas de empresas internacionais solicitando preços. Nós percebemos nesse caso que efetivamente estamos competitivos, levando em conta o custo de mão de obra com produtividade, o custo do aço e o preço do dólar.
Como será a atuação no setor de energia eólica?
Temos três formas de atuação. Uma delas é na questão logística. Temos uma complexidade nesse mercado devido ao tamanho das peças. Você não pode jogar 100 aerogeradores no campo e sair montando. É preciso levar um conjunto numa logística integrada e ir montando. Como o estaleiro tem áreas disponíveis, podemos fazer a armazenagem desses conjuntos e despachá-los. Então, nessa parte de logística, o Enseada passa a ter muita opção. Estamos entrando bem forte.
O outro segmento é o de fabricação de torres. Fabricar torre junto do parque logístico facilita. O Enseada tem tecnologia muito avançada de fabricação de navio e bloco de navio. E uma torre eólica é exatamente um conjunto de blocos cilíndricos que se repetem. O estaleiro é muito competitivo. Vemos isso como uma oportunidade.
O terceiro ponto é usar a expertise que a gente tem de implementação de projeto e atuar na parte de EPC. O Enseada vê oportunidade de atuar como EPC nesse setor.
E o setor naval? Como será a participação do estaleiro a partir de agora neste segmento?
Nosso estaleiro está preparado para fazer navios complexos, como sondas e FPSOs, e navios de menor complexidade. Hoje, o mercado brasileiro não tem o tamanho que tem o mercado asiático. Por isso, como o mercado nacional não é enorme, precisamos atuar em todos os segmentos para que a gente não fique sujeito a ciclos. Por isso, estamos buscando o mercado da marinha mercante, de navios para produtos químicos e de manutenção da indústria naval.
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