FALTA DE ATUALIZAÇÃO COMPROMETE SETOR DE ENGENHARIA DO PAÍS
As escolas e programas de engenharia no Brasil precisam de atualização urgente. É a conclusão da National Instruments, que desenvolveu a Conferência NI Days para ir contra a necessidade de pesquisadores brasileiros em buscar melhorias no exterior. A atualização está ligada a encarar desafios que atrapalham o desenvolvimento do país, como a falta de investimentos na educação, a necessidade de se aliar às empresas estrangeiras e o combate à escassez de profissionais com conhecimento técnico. Em sua 13ª edição, o evento aconteceu ontem, em São Paulo, e atua como um fórum para apresentação e discussão de soluções técnicas inovadoras com foco na aplicabilidade. O repórter Estephano Sant’Anna conversou com Paulo Pereira, diretor da empresa para América Latina, que falou sobre o evento e sobre como o Brasil deve se preparar para lidar com os novos desafios como a o perfil da Geração Y e a exploração da camada do pré-sal.
O que é o NI Days?
O NI Days é uma conferencia técnica que acontece anualmente e desta vez estamos no 13º evento, comemorando 15 anos de NI Brasil. Celebramos a comunidade de engenharia com usuários e clientes que apresentam estudos de caso, inovações e aplicações que desenvolveram. Do nosso lado, temos engenheiros que fazem demonstrações técnicas e práticas desde o ano passado. Fazemos o câmbio com estudantes de engenharias e ciências, colégios técnicos e universidades, passamos pela indústria automotiva, aeroespacial, energia, e outras.
Como acontece o Fórum Acadêmico?
Faz parte da estrutura do evento. A abertura é comum para todos. Este ano, atingimos um recorde com 1.200 participantes. Contamos com 17 representantes de 17 diferentes estados, incluindo Argentina e Chile. Então depois das apresentações iniciais, começam as oito sessões paralelas. Uma delas é o fórum onde alunos apresentam projetos de graduação, teses de mestrados, etc. Hoje, temos uma comunidade com 150 professores e 100 estudantes, que, no último ano, desenvolveram algum trabalho com nossas ferramentas.
Como foi a participação do Dr. James Truchard (fundador da NI) na abertura do evento?
Inspiradora. Ele comentou a evolução da carreira dele. Demonstrou todo o processo de evolução durante 35 anos. No início, ele usava um mês de trabalho para um experimento que durava minutos. Daí, ele pensou em ferramentas integradas – na época, o computador – que fossem capazes de cumprir medidas necessárias e processar as informações que os engenheiros precisavam. Ele fundou a NI com a missão de agregar a tecnologia para facilitar esse processo, incluindo a visualização de resultados num prazo melhor. O Dr. James utiliza do conceito de plataforma de desenho gráfico para criar uma abstração das indústrias.
A NI esteve na OTC (Offshore Technology Conference, em Houston) este ano?
Sim. Em Houston, nós temos longo tempo de participação e este é um dos maiores eventos no setor. Sempre temos muito impacto e retorno. Houve uma certa frustração na última OTC no Rio, por conta da limitação da Petrobrás, mas também tivemos contato com muita gente, trocando ideias. Este ano estaremos também no Rio Oil &Gas.
Por que criar uma Conferência Tecnológica hoje no Brasil?
Para ir contra essa necessidade que os pesquisadores têm de viajar para o exterior em busca de se atualizar com ferramentas de projetos. Eu venho do Instituto de Pesquisas Espaciais, lembro do início dos anos 90, quando havia essa dificuldade incidente de atualizações técnicas. A gente quer preservar essa cultura local. O NI Days consagra isso porque traz as soluções inovadoras do grupo internacional. Temos de oito a doze apresentadores que vêm de outros países, isso traz para a comunidade de engenheiros do Brasil os mais novos lançamentos para a área de tecnologia. Esse é o sentido, viabilizar ao estudante e recém-formado o acesso a ferramentas sem que a empresa financie uma viagem para o exterior.
Qual é o panorama dos profissionais do país em relação à técnica? Temos técnicos suficientes para a demanda?
Essa é uma pergunta interessante, porque quando olhamos para nós mesmos, nossa expansão, nosso crescimento no Brasil, notamos, com clareza, uma dificuldade em agregar engenheiros qualificados em nosso quadro. Nossos clientes nos procuram pedindo recomendações de, por exemplo, uma região do país onde haja um bom número de pessoas com conhecimento técnico. É um problema principal. Existe uma escassez de engenheiros com formação básica para atender a demanda. Por isso nós somos obrigados a desenvolver uma linha de suporte para clientes, desenvolvendo um tipo de consultoria específica, coisa que não existia antes. Somos forçados a prover algum trabalho paralelo para acelerar o processo.
Por que existe essa escassez?
A engenharia tem um custo e é fato que o interesse pela ciência se perdeu nos últimos dez anos. Cursar engenharia era uma coisa nobre nos anos 80 e 70, quando, aliás, não tínhamos muitas universidades no país. Bom, depois aumentou o número de cursos de graduação, o que, sem dúvida, facilitou o crescimento do número de profissionais. A questão é que, na fase atual, a chamada Geração Y não tem paciência para fazer cinco anos de faculdade, depois mestrado, doutorado e outros aprimoramentos. Então existe essa dificuldade de suprir isso.
Dá tempo de fazer alguma coisa para reverter o quadro?
Tem que encarar os desafios. Um deles é que as escolas e programas de engenharia se atualizem. A gente já vê isso acontecendo nos Estados Unidos, na China, em países emergentes e desenvolvidos; a adoção de novas ferramentas e tecnologia no processo de ensino, até mesmo no ensino médio. A perda de interesse veio do Ensino Médio para o Universitário. A Geração Y corre para programas de curto prazo e busca um trabalho mais administrativo. É um grande desafio para a escola de engenharia criar uma área dinâmica mais representativa. A gente tem uma formação para isso e o evento é uma oportunidade também para que professores compreendam a evolução das ferramentas de ensino, que possuem inclusive um forte apelo emocional.
O que o evento tem reservado para a Indústria de Petróleo e Gás?
Temos soluções em sistemas inteligentes de proteção, por exemplo, em sondas para montagem e desmontagem do poço. Com a tecnologia da National Instruments, pudemos aplicar uma série de controles remotos, tiramos o operador de dentro do poço para ele operar o sistema remoto extremamente seguro. Implementamos uma série de soluções para a garantia de pressão do sistema de bombeio, por exemplo. Então, da mesma forma que o meio ambiente é preservado, as pessoas não se expõem como faziam há dez anos atrás. Este avanço traz segurança em todos os processos, onshore e offshore.
Então as soluções da NI são mais voltadas para a segurança operacional?
A indústria de petróleo e gás exige um aumento da complexidade nos sistemas de controle. A perfuração do pré-sal, por exemplo, não é tradicional, é diferente. Tem que ter uma revisão de uma série de projetos. Muitos projetos hoje são bem elaborados dentro de laboratórios e precisam de uma adequação para ambientes mais agressivos, como no Texas. A NI desenvolveu uma tecnologia (integração entre o hardware NI CompactRIO e o software NI LabVIEW) que demonstra alto desempenho com baixo custo. Promete a execução de tarefas complicadas e a distribuição, comunicação e gerenciamento dos dados adquiridos. É possível criar o sistema e implementar em caminhões em campo.
Você falou sobre o pré-sal. Acha que estamos prontos para operar essa nova camada?
A Petrobrás é, sem dúvida, o líder dessa iniciativa. Eu acho que com o incentivo existente hoje, como número de royalties que existe hoje, o Brasil tem o capital para ser investido. Com parcerias internacionais, vamos acelerar esse processo. Agora, se você imaginar que o Rio vai ser o centro dessas tecnologias, precisa lembrar que não temos engenheiros suficientes. São duas frentes de batalha: identificar parcerias que invistam no Brasil e investir na educação. As empresas parceiras precisam vir para cá com o conceito de ajudar a definir tecnologia. Na educação, é preciso levantar um programa de ensino de novos engenheiros, para que continuemos formando novos profissionais. Criar uma base de sustentação.
Em quanto tempo isso aconteceria?
Não acho que seja um processo de cinco ou dez anos, tem que ser visto para os próximos 50 anos. E também não pode ser uma decisão política, tem que ser estratégica e técnica. A Petrobrás poderia atuar, de fato, como uma mediadora dessas empresas, dos engenheiros que vão produzir essas técnicas e ferramentas exclusivas. É preciso lembrar que muito do que se precisa ainda não existe e compõe um conjunto de variáveis que precisa ser estudado por profissionais técnicos. Acho que o Brasil sozinho não vai conseguir fazer tudo. Para isso, deve contar com as famosas parcerias do exterior.
É de fundamental importância que tenhamos mais fóruns como este de que trata o artigo , mas que sejam efetivamente focados na aplicabilidade .
Universidades e empresas precisam caminhar juntas para identificar necessidades, encontrar soluções e buscar parceiras visando a formação de pessoal qualificado para atuar nas mais diversas áreas da engenharia e aptos a enfrentar os desafios tecnológicos.
Sou Engenheiro com mais de 20 anos de experiência nos segmentos de óleo e gás e industrial. O desinteresse dos jovens por ciências exatas ocorre por que não somos capazes de motivar nossas crianças a estudar ciências no ensino fundamental e muito menos a fazer um curso técnico no ensimo médio. Devido a falência do sistema de ensino no Brasil (Principalmente em ciências exatas), os jovens vêem o Engenheiro como um “NERD” e crêem que ao escolherem esta carreira terão que estudar muito as temidas disciplinas de matemática e física, que a maioria odeia. Sou radicalmente contra a flexibilização da… Read more »