DEPOIS DA REESTRUTURAÇÃO, SIEMENS ESTÁ MAIS AGRESSIVA NO MERCADO DE ÓLEO E GÁS DO BRASIL
Depois da preparação para uma atuação mais agressiva no setor de petróleo e gás, a Siemens dá provas de que deu passos certos na direção que queria. A empresa hoje já é chamada a atuar em muitas áreas em que não tinha possibilidades. Para a recente licitação dos FPSOs para Sépia e Libra, o grupo está bem posicionado para desenvolver projetos e vender equipamentos para os dois topsides das plataformas.
O Diretor de Óleo e Gás da Siemens, Claudio Makarovsky, acredita que a decisão para definição de quem vai fornecer os equipamentos para as plataformas ainda não está perto de acontecer, mas diz que a Siemens tem propostas colocadas para todos os players, com diferentes possibilidades. Leia a entrevista especial feita pelo nosso repórter Daniel Fraiha.
– Como a Siemens está no Brasil?
– A Siemens nos últimos dois anos e meio, três anos, colocou um plano em ação visando se fortalecer no setor de óleo e gás, principalmente aqui no Brasil, em função de aumentar seu escopo, principalmente nos setores de exploração e produção. Ela veio de algumas aquisições, Dresser-Range, Rolls Royce. A Rolls Royce na área de turbinas aeroderivadas. Dresser-Range principalmente na área de compressores, mas também turbinas. E hoje aumentamos muito o escopo de equipamentos para o topside. Toda plataforma que vier aí pela frente nós temos soluções bastante diferenciadas, mais compactas, mais leves, tanto para geração quanto compressão, a parte de E-Housing. Nós fomos os mais ágeis para entregar para os replicantes. Entregamos o módulo de elétrica para a P-76, que acabou de ser içada agora para integração. Dentro do E-Housing, entra automação, a parte de telecomunicações, que tem escopo Siemens também. Desenvolvemos uma parceria com a Petrobrás e outras empresas para distribuição no subsea de energia em média tensão. Ao invés de eu ter toda geração de energia lá em cima, o tratamento dessa energia e mandar cabo, cabo, cabo, para baixo, eu mandei uma parte dessa distribuição de energia para o piso.
– Qual a participação da Chemtech?
– A Chemtech é o nosso braço de engenharia. Ela participou de tudo isso e já temos um produto, um piloto que está em teste. Ela é composta de três grandes partes. O transformador, a parte de chaveamento e o inversor de frequência de média tensão. Parte desses equipamentos foi testada separadamente. Agora é o skid completo, que faz parte do processo de certificação, devendo terminar todos os testes de certificação no meio do ano que vem, basicamente. Resumindo: da parte do topside, compressão, geração, E-housing, tratamento de água, automação telecomunicação, engenharia. Este escopo cresceu muito. E agora, em função da nova metodologia da Petrobrás em não comprar e fazer leasing, nós temos trabalhado com todas as operadoras que estão aí no mercado. Como nosso portfólio cresceu bastante, com o braço de engenharia ajudando muito, porque nós temos condição de otimizar os módulos do topside.
– A Siemens prepara algo novo para o mercado?
– Um outro approach que a Siemens está trazendo para o mercado, que vai bombar, é a parte de digitalização. Tecnologias foram desenvolvidas originalmente para aumentar a competitividade na área de manufatura, começam a migrar para a indústria. A indústria do petróleo sempre foi uma grande usuária de grandes volumes de dados. Desde a sísmica, para fazer o levantamento do reservatório, sísmica 4D, que entra a idade e o envelhecimento do poço, e ferramentas que eram utilizadas na internet, como Big Data, Analytics… hoje está migrando como ferramentas, auxílio para indústria do petróleo. A primeira delas a gente chama de engenharia integral. Se você for ler um pouquinho sobre indústria 4.0, eles falam que na manufatura avançada eles conseguem rastrear o produto desde a sua origem. Desde a sua matéria prima, até o final de sua vida. Com essa ferramenta de engenharia integrada você consegue desde a origem de um equipamento, desde o projeto, até ser construído, até ele ser instalado. Quem herda a operação, não participou do projeto. Você não constrói a sua casa, você compra a casa pronta. E aí você quer saber onde fica o disjuntor para ligar o chuveiro, mas você tem que sair para procurar. E esse era um grande problema nas operações das plataformas e de refinarias, porque o As Built era uma coisa demorada e se fazia depois que a plataforma já estava operando ou a refinaria operando. Dificultava muito a manutenção. Perdia-se muito em produtividade.
– Como isso pode ajudar?
– Com as ferramentas usadas em manufaturas sendo trazidas para indústria de processo, permite-se hoje, por exemplo, que eu tenha um banco de dados, com todos os elementos de minha planta, sempre atualizado. Não tenho que atualizar planilha excel, um texto ou um power point, entre aspas. Qualquer modificação que eu faça, todos os meus desenhos, entre aspas, estão automaticamente atualizados. Com isso, eu começo a falar de operação integrada. Quando uma empresa consegue muito mais dados de uma planta a um custo mais barato, mas não sabe o que fazer com estes dados, não tem especialista para analisar, pode procurar a Siemens, que tem como um de seus escopos pegar esses dados de forma criptografada, protegida, e mandar para o pessoal de Analytics fazer esta análise. Então a gente consegue, por exemplo, numa base instalada de quase 300 mil máquinas no mundo todo, entre turbinas, compressores etc, medir e comparar performances de uma máquina do mesmo modelo que está operando no Mar do Norte, uma em Campos e saber porque o desempenho de uma é diferente da outra e colocar ajustes. Isso sem interferir na operação. O que a gente garante com isso? Melhor desempenho, ganho para o cliente, obviamente, estender a vida útil dela. São ferramentas que estavam disponíveis. Esse grupo de digitalização da Siemens tem feito isso.
– A Siemens está pensando em novas aquisições?
– Eu não posso te responder se estamos pensando em novas aquisições. Grandes multinacionais estão sempre pensando nisso. No segmento de óleo e gás, eu não conheço, sinceramente, a estratégia da empresa por novas aquisições, mas hoje nós estamos num ponto de maturar as aquisições e terminar as integrações dessas aquisições, para segmentar o nosso marketing. Por exemplo, até dois anos atrás, a Siemens não era convidada para geração do topside de uma plataforma porque ela não tinha turbinas aeroderivadas. Agora ela tem. Então eu entro num novo jogo. Trazendo as pessoas da Rolls Royce, etc. Com isso, eu sou convidado para um jogo que eu não jogava antes. Essa fase de consolidação, a integração já terminou, o Achilli, presidente da Chemtech, é quem foi o responsável por esta integração. Agora temos que cuidar de uma base instalada que nós herdamos. Essa base de integração do pós venda. Também já está toda integrada. Nós passamos a ter uma frota de máquinas que tem que ser cuidada. Não creio que tenha novas aquisições à curto prazo. Não é do meu métier, mas o mais importante é fazer com que este novo portfólio decole.
– Vocês estão negociando parcerias para as novas plataformas de Libra e Sépia?
– Nós ofertamos para todos os players. Todos que você sabe que estão aí no mercado trabalhando para Libra e Sépia, nós participamos. Então os principais que ficaram para o rebid, todos eles tiveram a nossa proposta. E mais um detalhe, com adaptação para a forma com que eles contratam. Tem alguns operadores que necessitam do módulo completo. Outros compram equipamentos separados. Um terceiro quer uma proposta para todo topside. A nossa vantagem em relação aos demais players no mercado é que nós temos a Chemtech, que é o braço de engenharia. E ela tem essa condição de fazer essa engenharia, porque existe a concepção de uma engenharia conceitual e de visualização nesta fase, que é muito grande. Não é simplesmente juntar equipamentos e cotar. Se você fizer isso, vai cometer um erro muito grande. E essa é a nossa vantagem. A gente consegue otimizar o fornecimento desde a origem da proposta, nos tornamos muito mais agressivos em termos competitivos para este mercado.
– Vocês apresentaram a proposta, mas conseguiram algum acordo com alguém?
– Eu acho difícil que eles fechem algum acordo no momento.
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