TRADENER PLANEJA INVESTIR R$ 100 MILHÕES AO ANO EM GERAÇÃO E DESENVOLVE CAMPO DE GÁS NO PARANÁ
Por Daniel Fraiha (daniel@petronoticias.com.br) –
O mercado livre de energia tem ganhado mais espaço no cenário brasileiro nos últimos tempos e seu crescimento já vem gerando novas oportunidades para a indústria nacional. Acostumada a lidar com esse mercado, a Tradener, nascida e estabelecida originalmente como comercializadora de energia, está dando novos passos, agora também na área de geração. O presidente da empresa, Walfrido Ávila, conta que o primeiro projeto em vista é a pequena central hidrelétrica (PCH) Tamboril, em Goiás, que teve sua energia vendida no leilão de reserva de outubro passado. O investimento previsto é de R$ 100 milhões e a Tradener já tem outras três PCHs e uma eólica traçadas para saírem do papem nos próximos anos, quando a empresa pretende investir pelo menos R$ 100 milhões ao ano em projetos de geração. “Nós, comercializadores, estamos aumentando muito a base de clientes e, se não tivermos uma geração própria, ficamos defasados. Precisamos ter uma carteira de geração para garantir que não vai faltar energia para eles”, afirma Ávila.
Além disso, a empresa adquiriu um campo de gás no Paraná em 2016, na rodadinha de áreas marginais da ANP, está com tudo pronto para produzir, tem compradores para 100% do gás, mas aguarda há seis meses a aprovação dos órgãos ambientais.
Qual o plano de investimentos para 2017?
Tomamos a decisão de fazer algum investimento em geração. Estamos primeiro fazendo estudos, para o desenvolvimento de projetos bem ancorados, com bons projetistas, de uma maneira bem pé no chão. Participamos do leilão de energia de reserva, em outubro, e ganhamos com a PCH Tamboril, em Goiás. Agora estamos levando adiante o projeto, fazendo o levantamento, a parte de investimento e vamos colocar em prática. No mesmo rio, o São Bartolomeu, teremos quatro PCHs.
Todas são fruto do leilão?
Não. A de Tamboril, para o mercado cativo, sim, mas as outras três são para o mercado livre, a princípio. Se aparecer algum leilão no caminho, podemos incluir alguma delas também. Nós atuamos nos dois mercados.
Qual a capacidade de geração delas?
As quatro somadas dão 65 MW. Cada uma delas demanda cerca de R$ 100 milhões e a primeira deverá ficar pronta em quatro anos. A primeira delas já começou a ser levada adiante, em outubro mesmo. Já temos os estudos todos contratados e os projetos estão sendo feitos de maneira bem desenvolvida, para irmos para o campo já com tudo acertado.
Há outros projetos de geração em vista?
Temos também um projeto eólico no Rio Grande Sul, em Chicolomã, perto de Osório, onde já há outros parques eólicos. Este terá 96 MW, com um investimento de cerca de R$ 1 bilhão, para ser feito até 2020, 2021. Não podemos citar as fontes de financiamento, mas já temos tudo desenhado. Já demos o sinal verde, agora é só uma questão de acertar os detalhes finais para terminar os projetos. Será para o mercado livre.
Como foi a decisão de entrar no mercado de geração?
O preço da energia é muito volátil, e os clientes não podem sofrer essa volatilidade toda. Confunde-se muito o PLD [Preço de Liquidação das Diferenças, calculado e divulgado semanalmente pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)] com o preço da energia, mas isso é liquidação de diferença. O consumidor paga sempre um preço mais equilibrado. Uma média da compras de energia. Nós, comercializadores, estamos aumentando muito a base de clientes e, se não tivermos uma geração própria, ficamos defasados. Isso vai facilitar o atendimento aos clientes. Precisamos ter uma carteira de geração para garantir que não vai faltar energia para eles. Já temos parcerias com alguns geradores para isso, mas consideramos que era importante ter uma geração própria também.
Como se dá o plano de investimentos em geração?
Estamos mirando só em PCHs e eólica. Estamos pleiteando algumas PCHs no rio Corumbá, junto à Aneel, também em Goiás. E temos ainda outro projeto eólico pensado para o Rio Grande do Sul. Não são projetos mirabolantes. São coisas do nosso tamanho, feitas de modo consistente, para atender nosso mercado e deixar nossos clientes com a certeza de que serão bem atendidos. Nada mais que isso. Não somos sonhadores. Somos todos oriundos do setor elétrico, não uma empresa puramente financeira. Conhecemos bem os projetos e primamos por prestar um bom serviço neste mercado.
Quanto pretendem investir em 2017?
A nossa ideia é ir num ritmo de R$ 100 milhões ao ano. Na hora em que entrar em fase de produção, podemos ficar entre R$ 100 milhões e R$ 150 milhões ao ano, podendo variar para um pouco mais ou um pouco menos. Porque também teremos parceiros no projeto eólico, então haverá mais recursos sendo aplicados. Mas a nossa parte deverá ficar nesse patamar.
Como avalia o cenário atual do setor elétrico brasileiro?
Hoje, o nosso sistema de PLD é um bom sistema. Os modelos que existem para cálculos do PLD são bons. O problema são os dados de entrada, que precisam ser bons para darem uma boa resposta. Hoje, nosso modelo tem alguns vícios, como o de previsão de mercado, que não é muito bom, e o de previsão de vazão, que é pior ainda. Isso gera resultados ruins e vai para o encargo de serviço do sistema, que acaba encarecendo a energia do consumidor cativo. Se os dados de entrada fossem melhores, teríamos um resultado final melhor.
Uma operação que não traduz a realidade operativa tira efetividade de um grupo de usinas e diminui o rendimento. Na vida real, o PLD operado não tem traduzido a realidade. De dezembro para cá, o consumidor cativo pagou a mais cerca de R$ 1,5 bilhão até agora. Isso tudo impacta nos investimentos, porque o investidor fica preocupado, já que os preços nem sempre refletem a realidade.
Com as mudanças que vêm sendo pensadas para a área de gás natural, a empresa tem planos de ampliar sua participação nesse mercado?
Temos dois projetos na área. Um de uma térmica, com parceiros, para o caso de haver um leilão – se houver, vamos apresentá-lo. E temos um campo de gás, na bacia do Paraná, em Mato Rico, no centro do Paraná, que está aguardando as instruções dos órgãos ambientais para poder iniciar a produção comercial. É um poço antigo, que foi perfurado pela Petrobrás no passado, de pequeno volume. Não tinha acesso, então ficou quase 30 anos parado. Está furado, com tudo pronto. É só tirar o gás e fornecer, o que poderia melhorar bastante a região, mas estamos aguardando os órgãos ambientais para saber o que precisamos fazer mais para poder vender. Não haverá nova perfuração, obra, nem nada do tipo. Agora é só tirar o gás e vender, mas já tem seis meses sem resposta. É um processo muito demorado. Ganhamos em leilão da Petrobrás, em junho do ano passado, na chamada rodadinha da ANP. A Petrobrás tinha devolvido, a ANP licitou e nós ganhamos. Tem capacidade para produzir de 30 mil a 60 mil metros cúbicos por dia, o que seria excelente para a indústria local. Já temos comprador para 100% do gás, mas não temos resposta dos órgãos ambientais do Paraná.
Tem planos de participar de novas rodadas?
Não vamos participar de novas rodadas se o Brasil não tiver solução para esse tipo de questão.
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