NOVO PLANO ESTRATÉGICO DA ABDAN PARA GERAÇÃO NUCLEAR SERÁ LANÇADO EM MAIO
Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Brasil ainda vive um clima de compasso de espera, na expectativa da retomada dos negócios em diversos setores da economia brasileira. A indústria nuclear, por exemplo, aguarda ansiosamente pela retomada das obras de Angra 3. Enquanto as definições não surgem, o setor se prepara para o momento em que a indústria se movimentará novamente. A Associação Brasileira para Desenvolvimento Atividades Nucleares (Abdan), que congrega as principais empresas nacionais do segmento, está desenvolvendo seu novo plano estratégico, analisando as mudanças no setor e identificando as oportunidades. De acordo com o vice-presidente da entidade, Carlos Leipner, o planejamento será finalizado em maio e executado até o final de 2018. “Começamos pelo ponto de calibrar e redefinir a missão da Abdan, a visão que temos como associação. E baseados nisso, acabamos de terminar o trabalho que identifica quais são os pontos principais que estamos enfrentando no País“, explicou Leipner. Ainda de acordo com o vice-presidente, o governo pode contribuir com o setor nuclear ao definir uma política energética de Estado e permitindo a maior participação privada do setor nuclear.
Quais serão as medidas que o senhor adotará na vice-presidência da Abdan?
A Abdan está no processo de desenvolver um novo plano estratégico, visando as mudanças do mercado nuclear no Brasil. O cenário está mudando e, com isso, o foco da associação e as atividades dos nossos associados também estão mudando. Por isso estamos desenvolvendo este novo plano estratégico, para corresponder com as novas diretrizes dos associados.
E como está o processo de elaboração desse plano?
Começamos pelo ponto de calibrar e redefinir a missão da Abdan, a visão que temos como associação. E baseados nisso, acabamos de terminar o trabalho que identifica quais são os pontos principais que estamos enfrentando no País, usando um processo chamado de SWOT [Strenghts (Forças), Weaknesses (Fraquezas), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças)]. Por exemplo, levantamos os pontos fortes da energia nuclear, que é uma energia de base e limpa, muito importante para a rede no Brasil. Outro fator de destaque é que o País tem uma grande reserva de urânio. Em relação aos pontos fracos, identificamos uma situação de envelhecimento dos profissionais do setor, ao mesmo tempo, que poucas pessoas estão entrando no mercado.
Estamos vivenciando um plano político e econômico de instabilidade. Existe uma falta de decisão para novas centrais nucleares. Algumas pessoas podem enxergar esse cenário como negativo, mas ele nos abre a possibilidade de pensarmos em soluções para várias questões em aberto que precisam de definição, como as áreas onde podem ser construídas novas centrais, modelos de negócios, a forma de comercialização da energia e o processo de licenciamento nuclear. Estamos aproveitando este tempo para fazer um road map para o setor nuclear no Brasil.
Poderia detalhar quais são estas questões?
São seis temas ao todo que estamos estudando. O primeiro é o modelo de negócio para novas centrais nucleares. O segundo é o financiamento para os projetos. O terceiro é a comercialização da energia dessas centrais. O quarto tema é a seleção de sítios para as centrais. O quinto é a seleção de tecnologia. E, por fim, o sexto, a forma de licenciamento nuclear. Há um consenso de que a maneira como Angra 3 está sendo licenciada não vai ser adequada para novas centrais. Estamos desenhando vários caminhos para progredir nesses temas.
Quando o novo plano estratégico ficará pronto?
O plano estratégico da Abdan está previsto para o começo de maio. Ele será executado no resto de 2017 e durante 2018. A nossa expectativa é de que no começo de maio o plano esteja finalizado, já com todas as contribuições das associadas. Assim, a associação poderá colocar em marcha todas as atividades estratégicas.
Qual a expectativa com o avanço do setor nuclear brasileiro nos próximos anos?
Enxergamos de forma positiva a maneira como o setor nuclear pode contribuir significativamente com o Brasil. Primeiro, porque o setor nuclear no País já é maduro, olhando pela perspectiva operacional. Temos Angra 1 e 2 com excelente performance. Em segundo, temos fato do Brasil estar focado em ter uma matriz energética limpa, e a nuclear pode contribuir ainda mais para isso, já que não emite gases do efeito estufa. Em terceiro, a nossa cadeia de fornecedores. Temos vários atores no Brasil que tem possibilidade muito grande de continuar contribuindo e expandindo nosso conhecimento na área de tecnologia nuclear. O desenvolvimento de novas centrais resultará em desenvolvimento econômico. Haverá a capacitação de novos profissionais. Nós vemos um aspecto positivo a longo prazo no Brasil. No curto prazo, porém, temos muitos desafios a vencer.
Como a Abdan planeja atuar para aumentar a quantidade de novos profissionais no mercado?
O problema de recursos humanos não se restringe apenas ao Brasil. É uma questão global. Isso é um desafio muito grande para todos os atores da indústria nuclear e a Abdan está comprometida para ajudar no desenvolvimento de novos profissionais. Estamos ajudando na formação de uma nova associação de jovens profissionais no Brasil. A Young Generation Network (YGN) é uma associação global focada no nuclear e que, no Brasil, está sendo formada dentro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Algumas das nossas empresas associadas estão contribuindo com a formação da YGN.
De que maneira o senhor acredita que o governo possa contribuir para o desenvolvimento do segmento nuclear?
Achamos que o governo precisa definir uma política de energia de longo prazo, uma política de Estado. Isso não é uma demanda única nossa, mas é um interesse mútuo da sociedade. Precisamos ter um plano energético de longo prazo. Continuamos a incentivar o governo nesse sentido.
Também acreditamos que o setor privado pode ter uma participação mais significativa no desenvolvimento de novas tecnologias e atividades nucleares. Não só na parte de geração de energia, mas em outras áreas em que a nuclear pode contribuir, como medicina. Nesse sentido, a participação do setor privado precisa ser considerada de maneira mais eficiente, para trazer novos investimentos.
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