A CNEN COBRA DA ELETRONUCLEAR A DOCUMENTAÇÃO SOBRE A SUBSTITUIÇÃO DO GERENTE DE GARANTIA DE QUALIDADE DAS USINAS NUCLEARES

Enquanto a greve dos funcionários continua há 17 dias, uma informação enviada ao Petronotícias revela um viés perigoso em prática que está sendo usada pela empresa Eletronuclear, depois de afastar e exonerar o Gerente de Garantia de Qualidade, Rodolfo Grossi. Em seu lugar foi colocado Samuel Madeira. Esta informação é a de que a empresa  está descumprindo os manuais de análise de segurança FSAR em relação aos requisitos mínimos exigidos para nomeação do Gerente da Garantia da Qualidade. E traz um embasamento da própria companhia publicada em seu site no dia 11 de fevereiro deste ano, dirigida ao Petronotícias, destacando que “a empresa possui um departamento de garantia da qualidade dedicado à operação, que avalia a implementação do Sistema de Garantia da Qualidade, por meio de auditorias e monitorações durante a operação e paradas das usinas. Ressalta ainda que os executivos e técnicos correspondentes permanecem comprometidos com os melhores padrões internacionais de segurança e aprimoramento contínuo de suas atividades.”

A informação que foi nos enviada  revela que no dia 4 deste mês, um dia após o sindicato STIEPAR, através de assembleia anunciar greve por tempo indeterminado a partir das 00h:00 do dia 8,  ocorreu a divulgação pela empresa da substituição de diversos cargos de confiança, incluindo a nomeação do novo gerente da garantia da qualidade. Este cargo envolve grande responsabilidade e experiência sênior no que diz respeito às diretrizes da norma nuclear CNEN NN 1.16 – Garantia da Qualidade para a Segurança de Usinas Nucleoelétricas e outras Instalações.  A norma específica CNEN NE 1.26 – Segurança na Operação de Usinas Nucleoelétricas prevê a necessidade de conhecimento das rotinas diárias da operação e manutenção e participações em reuniões, reuniões da comissão de revisão de operação da usina, reuniões do comitê de análise de operação nuclear, reuniões do plano de emergência local e reuniões com a CNEN.

A norma nuclear CNEN NN 1.16 aplica-se às atividades que influem na qualidade de itens importantes à segurança, desenvolvidas no gerenciamento do empreendimento e em cada um dos seus diversos estágios que incluem, por exemplo, comissionamento e operação. Nos estágios de comissionamento e operação de usinas nucleoelétricas, os requisitos na norma CNEN NN 1.16 são complementares àqueles da norma específica CNEN-NE 1.26, através dos quais são regulamentados os aspectos de Segurança Nuclear inerentes ao gerenciamento e operação das usinas. É verdade que são estabelecidos através de especificação técnica no FSAR, os requisitos mínimos exigidos para o cargo de gerente da qualidade, sendo definido na seção 13.1.3.1  a norma ANSI/ANS 3.1 como qualificação mínima para o cargo. A respectiva norma determina o tempo mínimo de 4 anos com experiência relacionada ao cargo, que engloba 2 anos de experiência em planta nuclear, 1 ano de experiência como supervisor ou gerente e 1 ano com atividades de verificação de performance da qualidade, adicionalmente a análise de segurança determina a não computação de experiência acadêmica como experiência profissional.

A informação que deixa dúvidas na escolha do profissional certo para a função certa é a de que o novo nomeado para o cargo de gerente da garantia da qualidade foi aprovado no último concurso realizado pela empresa para o cargo de engenheiro com lotação na sede localizada no Rio de Janeiro, mas não possui na empresa ou em experiência anterior,  os requisitos exigidos no FSAR, além de não possuir o treinamento de sistemas básicos de usina nuclear. A informação é de que não observa-se  a prática  de comprometimento com os padrões internacionais de segurança. A empresa parece ter descumprido os manuais de segurança FSAR das usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2 e aplica prática não reconhecida internacionalmente que indica improvisação, despreparo e geração de incertezas operacionais que devem ser corrigidas com objetivo de manutenção de padrões de segurança nuclear adequados, revela a informação enviada ao Petronotícias.

A CNEN, através de sua assessoria, informou que:

“ A CNEN, através da Coordenação do Ciclo do Combustível e de Reatores, atenta ao processo de reestruturação da operadora da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), pelo Ofício nº 180/2025-CGRC/DRS/CNEN (Anexo I), EM 16/04/2025, solicitou à Eletronuclear o encaminhamento de documentação comprobatória do atendimento às condições dispostas no(a), em relação ao seu novo organograma (Anexo II):
• Item 4.3.3, da Norma CNEN-NE-1.16 (“Garantia da Qualidade para Usinas Nucleoelétricas”) que estabelece requisitos para a Seleção e Treinamento de Pessoal
• Item 16.5.3 da Especificação Técnica do Capítulo 16 do Relatório Final de Análise de Segurança das usinas Angra 1 e Angra 2;
• Seção 13.1.3 do Relatório Final de Análise de Segurança das usinas Angra 1 e Angra 2, que especifica os requisitos de qualificação mínima de cada membro do quadro de pessoal, baseados no ANSI / ANS 3.1 (Qualificação para Seleção e Treinamento de Pessoal para Usinas Nucleares);
• Para os casos que não possuam os requisitos formais de formação e experiência especificados nos itens acima, conforme especificado em ANSI / ANS 3.1, justificar os fatores aplicados que demonstram suficientemente as habilidades exigidas. Esses outros fatores deverão ser avaliados caso a caso e aprovados e documentados pela gerência competente da Eletronuclear.

Observa-se que essa ação é continuidade do posicionamento da CNEN em relação ao tema, emitido através do Ofício nº 68/2025-CGRC/DRS/CNEN de 21/02/2025 (Anexo III), por haver o entendimento da necessária verificação, como estabelecido pelas Especificações Técnicas das usinas nucleares de potência da CNAAA e requisitos das normas da CNEN, que tratam da Qualificação do Pessoal da que ocupam os cargos apresentados no Organograma da Eletronuclear atualizado em 01/04/2025. Enfim, a CNEN mantém o rigor do seu processo de fiscalização do atendimento aos requisitos de segurança nuclear.”

O QUE DIZ A ELETRONUCLEAR

Procurada por nossa reportagem, a Eletronuclear nos enviou a seguinte nota, que reproduziremos na íntegra a seguir:

“Em relação à matéria publicada pelo portal Petronotícias em 24 de abril de 2025, a Eletronuclear esclarece que a reportagem contém informações incorretas sobre a reestruturação organizacional da empresa e a atuação do Departamento de Garantia da Qualidade.

1. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) não solicitou documentação específica sobre a substituição do gerente da Garantia da Qualidade, mas sim informações adicionais sobre a qualificação de ocupantes de cargos gerenciais conforme o novo organograma da empresa, divulgado em 1º de abril de 2025.
2. A reestruturação organizacional da Eletronuclear foi iniciada em 2024 e efetivada no início de abril de 2025, não havendo qualquer relação com o movimento grevista. O colaborador citado na matéria não foi afastado nem demitido da empresa. Ele permanece na companhia e segue atuando no escopo da área de Garantia da Qualidade.
3. Não há, nas versões atualizadas e vigentes do Relatório Final de Análise de Segurança (FSAR) de Angra 1 e Angra 2, exigência de requisitos mínimos de qualificação para o cargo de gerente da Garantia da Qualidade. A referência feita à norma ANSI/ANS 3.1 aplica-se ao cargo de superintendente, que fica acima do cargo de gerente.
4. A reestruturação mencionada unificou os departamentos corporativo e operacional de Garantia da Qualidade, fortalecendo a gestão integrada do sistema, sem prejuízo às atividades anteriormente realizadas.
5. A nomeação dos novos gestores, incluindo o chefe do atual Departamento de Garantia da Qualidade (DGQ.T), foi deliberada em reunião de diretoria realizada antes do início da greve. O profissional escolhido passou por rigoroso processo de seleção conduzido por empresa especializada em avaliação de lideranças, obtendo o mais alto desempenho no assessment. É engenheiro de materiais, mestre na área e atualmente doutorando, com sólida formação técnica. Possui certificação como auditor líder na norma ISO 9001:2015 e vasta experiência em auditorias internas e externas no setor nuclear, incluindo fornecedores estratégicos. Sua atuação anterior no departamento foi marcada pela condução de auditorias, implementação de melhorias nos processos internos e entrega de resultados consistentes e acima das expectativas. O profissional também possui treinamento completo nos sistemas básicos das usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2, conforme exigido.
6. O ofício da CNEN citado pela reportagem foi devidamente respondido pela Eletronuclear, com os devidos esclarecimentos e comprovação do atendimento aos requisitos regulatórios, conforme previsto pelas normas aplicáveis.

Reiteramos o compromisso da Eletronuclear com os mais altos padrões de segurança e conformidade regulatória na operação das usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2.”