A PETROBRÁS ESTÁ VENDENDO O DIESEL COM 27% E A GASOLINA COM 16% DE DEFASAGEM DA PARIDADE INTERNACIONAL DE PREÇOS
A cada dia que passa, a Petrobrás sente na pele que a defasagem dos preços dos combustíveis está causando prejuízos para as empresas importadoras de combustível e ela está deixando na mesa, como diz o mercado, milhões de reais. Por isso, ninguém se espante se ainda hoje os novos preços sejam anunciados pela companhia, a despeito do momento ruim que o governo vive – e terá que ainda que experimentar mais este desgaste. Por enquanto, a presidente da Petrobrás, Magda Chambriard, que estava em alta com o mercado e ainda em alta com o governo Lula, pode começar a sentir o senso de mau humor que o mercado ficará se ela insistir em represar os preços sob o argumento dos preços abrasileirados ou à espera que o dólar se acomode. Na verdade, ele já acomodou, mas acima de R$ 6,10. Já tem muita gente reclamando. E se a Petrobrás perde dinheiro com preços represados, os acionistas perdem mais e o governo Lula fica vivendo uma fantasia de bom menino para não desagradar a população e acelerar ainda mais a inflação. A grande maioria dos importadores não tem o mesmo fôlego da Petrobrás. O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis, Sergio Araújo, é muito claro quando expõe o nível de defasagem dos preços, principalmente quando se refere ao diesel e a gasolina. E é isso que governo teme: dar a má notícia, por responsabilidade dele mesmo. Gasta demais e a sanha por arrecadar não tem trégua. No episódio do PIX, ele já se desgastou só o tanto. E cachorro mordido de cobra, tem medo de linguiça. O preço do diesel está com uma defasagem de 27%, enquanto o da gasolina registra 16%. Um anúncio de aumento nos preços causaria ainda mais desgaste.
O Brasil tem uma produção expressiva de petróleo e está entre os dez maiores produtores mundiais de petróleo. Temos excedente, mas sem refinarias suficientes para processar a nossa produção. O Brasil não tem capacidade atender aos mercados de querosene de aviação, óleos lubrificantes, gasolina, o GLP e o óleo diesel. Especificamente com o diesel, o país tem uma dependência de até 30% da demanda. Por isso, o Brasil importa todo este volume. Em relação à gasolina, a dependência varia entre 8% e 12%, dependendo do preço do Etanol hidratado, que é o combustível substituto da gasolina. A grande maioria da frota nacional usa motores com a tecnologia flex. Na hora de abastecer, o motorista decide pelo mais barato. Por isso a variação desta dependência.
A ABICOM em seu site explica as razões da paridade de preços diferentes. Isto porque os cálculos são feitos em relação a quantidade importada chegada em portos diferentes: O preço dos combustíveis, que sofrem variação, mais o frete, que também varia e o preço do dólar, que também tem variações, e as demais despesas relativas a atividade de importação. Mas, a ABICOM também compara estes valores com aquele apurado com a Agência Nacional de Petróleo, que regulamenta as atividades. Por isso, algumas vezes, há uma defasagem nos valores da associação com outros agentes, mas a variação é pequena e em função de toda variação que os preços estão sujeitos.
Atualmente, a situação da defasagem média do óleo diesel nos polos onde existem as entradas do combustível no país, chega à ordem de R$ 0,98 por litro. São 27%, uma defasagem extremamente elevada. No caso da gasolina, R$ 0,48 por litro, equivalente a 16%. Efetivamente é o valor que a Petrobrás está tendo que represar. Este é o quadro hoje dos preços praticados pela estatal, artificialmente muito baixos. Isso significa que os importadores vivem uma insegurança. De estar trazendo navios com combustíveis, onde o mercado tem o agente dominante cobrando preços defasados. E quando a Petrobrás não diz o que ela pode ofertar de combustível em determinado mês, aumenta ainda mais a insegurança dos importadores, porque não sabem quanto devem importar. A própria Petrobrás também tem importado combustíveis e oferecido via leilão com preços muito abaixo do valor de mercado.
Por isso, esta fórmula “abrasileirada” de cálculos, enaltecida por Chambriard como um “segredo” da Petrobrás, está bem pertinho de dar com os burros n’água. Ela até pode não estar tendo prejuízo, mas está deixando de ganhar muitos milhões. E bota milhões nisso. Esta é a fórmula. E pior, se isso se mantiver, será natural que os importadores façam o que parece óbvio para o mercado: dar um passo atrás. O risco é chegarmos a um ponto de desabastecimento, o que seria terrível para o governo que, no setor econômico, está parecendo ter passado o dia inteiro no boteco e, no final do dia, volta pra casa depois de tomar todas. A associação ainda não vê este risco imediato de desabastecimento, mas vê potencial.
Sérgio Araújo vê ainda um problema interessante: “Hoje se fala em transição energética, renúncia fiscal, subsídios para comercialização de combustíveis renováveis, no entanto quando a gene vê esta prática de preços artificial na gasolina e no óleo diesel, tudo isso fica sem fazer muito sentido. Porque o Etanol Hidratado, por exemplo, o gás natural, o biometano, eles acabam perdendo a competitividade, por estar competindo com um produto que está artificialmente precificado. Finalmente, há também os produtores privados. Hoje temos no Brasil, refinarias que foram privatizadas, temos centrais petroquímicas que produzem gasolina, temos formuladores. Sem dúvidas esses agentes tem dificuldades de fazer a atualização de seus preços considerando de novo porque o agente dominante está ali com preços defasados. As distribuidoras, claro, dão preferência a usar os combustíveis mais baixos, ainda que com preços claramente maquiados.”
A Abicom ainda chama a atenção se esta situação de um agente dominante se mantiver. É uma questão para se perpetuar um mercado sem qualquer concorrência. Não haverá estímulo para a atuação na área de refino. Isto desestimula os investimentos nas atividades também na infraestrutura para a movimentação dos produtos. “Eu não posso dizer que mesmo vendendo abaixo do preço que ela compra está tendo prejuízo. O acionista a Petrobrás tem aquele sentimento, a certeza de estar ficando dinheiro na mesa. A paridade de preços da Petrobrás, é muito menor do que a do importador, porque ela leva vantagens por beneficio de escala, por regularidades, por navios dedicados, ela, leva muita vantagem. E mesmo vendendo m pouquinho abaixo da paridade dos importadores, ela venderia 100%. Ela não tem prejuízos, mas está deixando dinheiro na mesa.”
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