ABANDONADO PELOS AMIGOS, DIRCEU JÁ ESTÁ PRESO NA CARCERAGEM DA POLÍCIA FEDERAL DE CURITIBA

Ao pisar na sede da Policia Federal de Curitiba, o ex-ministro José Dirceu terá um único “orgulho” de sua história:  a de não ter se tornado um delator. Pelo menos até agora. Visto como uma espécie de  “herói da resistência” da época da ditadura no Brasil, ele se transformou em um bandido comum, condenado e cassado pela justiça por crimes de desvio de dinheiro e agora passando pela repetição do mesmo processo, em uma escala ainda maior. Um político como tantos outros que o Brasil já viu através do tempo. Um homem que usou o poder para desviar recursos públicos para enriquecer a si próprio e aos seus familiares. Um líder que transformou sua história e acabou em Pixuleco. Ao chegar na Polícia Federal, Dirceu foi recebido com vaias por um grupo de manifestantes que usaram  fogos de artifício para comemorar a prisão dele.

O juiz do Supremo Tribunal Federal, Luis Roberto Barroso, autorizou a transferência dele para a sede da Polícia Federal de Curitiba. Dirceu chegou esta tarde ( 4) e vai ficar preso por tempo indeterminado para responder às acusações por lavagem e desvio de dinheiro e formação de quadrilha. De homem admirado por alguns e temido por tantos outros, José Dirceu tem contra si inúmeras e robustas provas reunidas por um grupo competente da Polícia Federal e do Ministério Público. Todas as circunstâncias indicam que vai ser difícil se livrar das acusações de ser um dos mentores do esquema de desvio de dinheiro da Petrobrás.

Aos 69 anos, com uma filha de 4 anos, José Dirceu foi praticamente abandonado à própria sorte. Não recebeu publicamente qualquer solidariedade, a não ser de cerca de 15 pessoas que levaram a bandeira do PT para a Praça dos Três Poderes em Brasília na noite de segunda-feira (3). O governo foge de Dirceu como o diabo foge da cruz. Nem o Partido dos Trabalhadores se manifestou. Os amigos desapareceram. Está abandonado, deprimido e doente.

E agora surge uma nova denúncia. Não contra ele diretamente, mas contra o seu próprio filho, o deputado federal Zeca Dirceu, também do PT. Três delatores na Operação Lava Jato confirmaram em depoimentos que repassaram dinheiro da corrupção da Petrobrás para a campanha de Zeca Dirceu na eleição de 2010. Milton Pascowitch, seu irmão, José Adolfo Pascowitch, e o lobista Julio Gerin de Almeida Camargo, também delator da Lava Jato depositaram cada um com R$ 10 mil naquele ano. As doações dos três representaram menos de 2% dos R$ 1,5 milhão arrecadado pelo deputado naquele ano. Em junho, os irmãos Pascowitch fecharam um pacto para entregar informações do esquema de corrupção na Petrobrás em troca de redução de pena. Eles são donos da Jamp Engenheiros Associados Ltda, empresa apontada como fachada para escoar propina paga por empreiteiras beneficiadas no esquema de corrupção da Petrobrás.

Responsável por aproximar a construtora Engevix do PT, Milton Pascowitch revelou R$ 3,8 milhões de propina para José Dirceu, incluindo pagamentos à empresa de Dirceu e reformas residenciais em Vinhedo e São Paulo, além da compra de um apartamento para filha de Dirceu.

Os outros  sete outros acusados  investigados presos da 17ª fase já realizaram o exame de corpo de delito no Instituto Médico-Legal  de  Curitiba.  O grupo também está preso  na carceragem da Superintendência da PF desde a segunda-feira (3), quando foi deflagrada a atual fase. Eles saíram algemados e foram levados para o IML em uma van e sob  escolta policial. O exame é procedimento padrão após a prisão. Entre os investigados estão o irmão do ex-ministro  José Dirceu,  Luiz Eduardo de Oliveira, Fernando Moura e o irmão dele, Olavo Moura Filho,  Roberto Marques, Julio César dos Santos e  Celso Araripe, ex-gerente da Petrobrás.