ABDAN CRITICA ADIAMENTO DA DECISÃO SOBRE ANGRA 3 E ALERTA QUE O GOVERNO ESTÁ BRINCANDO COM A CREDIBILIDADE DO PAÍS
O governo não quis decidir sobre a retomada de Angra 3 nesta semana, durante a reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Para piorar, há ainda um enorme sentimento de desilusão no setor nuclear, já que o tema só será avaliado novamente em um próximo encontro do CNPE – que ainda nem tem data para acontecer. Incerteza e insegurança são os dois sentimentos que permeiam o dia a dia dos participantes da indústria nuclear. O presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, voz contundente na defesa da retomada das obras da usina, está muito preocupado não apenas com o destino de Angra 3. Ele também se mostra alerta com a imagem que o Brasil está desenhando de si próprio para investidores estrangeiros. “O governo está brincando com a credibilidade do país, pois não consegue decidir algo que, tecnicamente, já está resolvido”, afirmou. “O problema é que esse impasse não se resume à geração de energia. Ele pode afetar toda a cadeia produtiva, incluindo a medicina e o programa do submarino nuclear. Muitas empresas já estão desistindo de investir no setor”, declarou. Cunha também apontou para o fato de que a negociação entre governo e Eletrobras está impactando a decisão sobre a retomada da construção de Angra 3. Por fim, o presidente da ABDAN relembra ainda os aspectos técnicos que apontam para a importância da geração nuclear na matriz elétrica nacional. “Apesar de ser uma alternativa confiável, com custo previsível e baixa emissão de carbono, a energia nuclear segue marginalizada no debate nacional. Em países desenvolvidos, essa visão já mudou: 28 nações se comprometeram a triplicar sua capacidade nuclear até 2050, conforme acordado nas COPs 28 e 29”, ponderou.
Como o senhor avalia o recente adiamento da decisão sobre a retomada das obras de Angra 3?
Essa decisão do CNPE reflete a incapacidade do governo de tomar decisões. Não estamos mais diante de uma questão técnica, isso já está muito claro. Todos os órgãos competentes já se pronunciaram a favor da continuidade da obra. Questões financeiras, valores e impactos ambientais já foram analisados e não há mais, do ponto de vista técnico, o que contestar. Ainda assim, o CNPE tirou o tema da pauta a pedido do ministro da Casa Civil, Rui Costa.
A postergação da decisão no CNPE está ligada à negociação das cadeiras que o governo quer no Conselho de Administração da Eletrobras. O problema é que o governo passou dois anos discutindo os valores da energia de Angra 3 e, no fim, concluiu que os cálculos originais, com as devidas correções monetárias, estavam corretos. Mesmo assim, buscaram novos argumentos para impedir o andamento do projeto.
Portanto, ao seu ver, qual o grande empecilho que impede, atualmente, a decisão da retomada?
Nós estamos pagando o custo de terem privatizado a Eletrobras, que não quer ficar com Angra 3. Importante lembrar que quando a companhia foi privatizada, já estavam bem claros e definidos os investimentos e as demandas necessárias relacionadas à Angra 3. Ainda assim, a nova administração da Eletrobras decidiu que prefere se desvincular desses compromissos.
Durante o processo de privatização, foi firmado um acordo entre a Eletrobras e a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) para definir as responsabilidades de cada parte, com foco na Eletronuclear e no projeto de Angra 3. Um dos compromissos firmados nesse processo estabelecia que ambas deveriam contribuir para a captação dos recursos necessários à conclusão da usina, de forma proporcional às suas participações acionárias.
Qual o cenário do setor nuclear brasileiro daqui em diante?
Olhamos para esse cenário com muita preocupação. O problema é que esse impasse de Angra 3 não se resume à geração de energia. Ele pode afetar toda a cadeia produtiva, incluindo a medicina e o programa do submarino nuclear. Muitas empresas já estão desistindo de investir no setor.
O Brasil já investiu bilhões de dólares no segmento nuclear desde a década de 1940 e domina o ciclo do combustível nuclear. Somos uma das cinco nações do mundo com essa capacidade. Além disso, temos a sétima maior reserva de urânio – que é um ativo extremamente valioso.
Qual o seu prognóstico para o projeto de Angra 3?
Não há sequer uma previsão para a decisão final. O martelo só deve ser batido em uma nova reunião do CNPE, cuja data ainda não foi escolhida. O governo está brincando com a credibilidade do país, pois não consegue decidir algo que, tecnicamente, já está resolvido. O Brasil pode perder credibilidade no cenário internacional, pois desistir de Angra 3 não significa apenas enterrar bilhões de reais já investidos, mas também envolve um imenso custo jurídico.
Há ainda quem resista a ideia de terminar Angra 3 por conta do custo da energia gerada pela usina. Como o senhor rebate essas críticas?
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Usinas Angra 1 e 2 são peças fundamentais para o sistema elétrico nacional e demonstram a importância da geração nuclear no Brasil
A comparação direta entre o custo nivelado de energia (LCOE) da fonte nuclear e das renováveis intermitentes, como solar e eólica, desconsidera aspectos fundamentais, como os custos sistêmicos, a necessidade de backup e a estabilidade da rede. Quando analisamos os custos da energia contratada no Brasil, fica evidente que a nuclear não é a mais cara, sobretudo em relação a fontes fósseis, como gás natural e diesel. O setor tem insistido nesse debate, mas ainda enfrenta resistência de atores que insistem em comparações imprecisas e incompletas.
Outro fator frequentemente ignorado é a dependência das hidrelétricas para garantir respaldo às fontes intermitentes. O Brasil lida com desafios cada vez maiores, como crises hídricas, queimadas e o uso diversificado da água para agricultura, abastecimento e navegação. Quando os reservatórios estão baixos, restam as usinas térmicas, que impõem um alto custo ao consumidor.
Apesar de ser uma alternativa confiável, com custo previsível e baixa emissão de carbono, a energia nuclear segue marginalizada no debate nacional. Em países desenvolvidos, essa visão já mudou: 28 nações se comprometeram a triplicar sua capacidade nuclear até 2050, conforme acordado nas COPs 28 e 29.
Sugere-se que em paralelo ao esforço pro Angra 3, a indústria inicie um movimento simultâneo voltado para novas usinas, em outros sítios e com tecnologia atual oferecida pelo mercado, em novo modelo de investimento. O desenvolvimento de dois ou três novos sítios localizados em relativa proximidade dos grandes centros de consumo demanda cerca de dois anos, as tecnologias disponíveis exigirão a decisão de comprar usinas ocidentais de países democratas e capitalistas ou não, a opção por geração 3+, passiva ou ativa em conjugação com a geração IV disponível em futuro médio, o modelo da estrutura de capital, talvez com uma… Read more »
Quanto ao empreendimento do submarino nuclear é bom que se saiba que é de alto risco, tangenciando à inviabilidade. A história mostra que nove submarinos nucleares afundaram, três dos quais com toda a tripulação dentro. Cinco submarinos da antiga União Soviética afundaram, dois da Rússia e dois americanos. Ambos americanos e um russo levaram consigo todos a bordo. E todos eram países com larga experiência no desenvolvimento de submarinos nucleares. Custos e benefícios, além dos riscos, precisam ser conhecidos e ponderados. Um eventual acidente do gênero seria devastador para o país e os critérios de segurança das usinas nucleares são… Read more »