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ABDAN DIZ QUE FALTA DE COMANDO DO GOVERNO EMPACA ANGRA 3 E PROPÕE NOVOS CAMINHOS PARA RETOMADA DA OBRA

img20250527113425990MED (1)O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) terá uma nova reunião na manhã de hoje (25) no Ministério de Minas e Energia (MME) e, desta vez, contará com a participação do presidente Lula. Seria um cenário ideal para o governo anunciar, enfim, a retomada das obras de Angra 3. Acontece que, salvo haja uma grande reviravolta de última hora, o reinício da construção da usina nuclear deve ficar fora da pauta mais uma vez. A indefinição sobre o tema amplia ainda mais a insegurança e frustação no setor nuclear. É o que afirma o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), Celso Cunha, nosso entrevistado desta quarta-feira. Para ele, a falta de governança no setor nuclear é a raiz de toda a incerteza em torno de Angra 3. “Sob a ótica técnica e econômica, não há mais o que discutir — já está claro que a conclusão da usina é necessária. Ainda assim, o governo não consegue avançar e transformou a situação em um problema essencialmente político“, avalia o executivo. Cunha revela ainda que, apesar da apatia do Planalto em solucionar o caso de Angra 3, a indústria continua propondo novas sugestões para destravar o empreendimento. Uma possibilidade seria o governo incorporar ao debate a construção da quarta usina nuclear brasileira, já prevista no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034. “Nesse cenário, quem se comprometer com a conclusão de Angra 3 teria a oportunidade de participar também da implantação da quarta planta, o que poderia atrair o interesse de investidores pela escala e continuidade do negócio“, apontou. Outra sugestão seria direcionar a energia de Angra 3 para atender à crescente demanda dos data centers no Brasil, o que poderia viabilizar financeiramente a conclusão da usina. “Ou seja, caminhos existem. O que está faltando é governança”, concluiu.

Existe uma forte expectativa de que a reunião do CNPE não vai tratar de Angra 3. Como o setor recebeu essa definição?

Lula estará na reunião do CNPE de hoje, mas Angra 3 deve ficar fora da pauta

Lula estará na reunião do CNPE de hoje, mas Angra 3 deve ficar fora da pauta

De fato, é lamentável que o governo ainda não tenha se posicionado de forma definitiva sobre a continuidade de Angra 3. Trata-se de uma questão que, do ponto de vista técnico, já conta com pareceres favoráveis do próprio Ministério de Minas e Energia, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e do BNDES. Ou seja, sob a ótica técnica e econômica, não há mais o que discutir — já está claro que a conclusão da usina é necessária. Ainda assim, o governo não consegue avançar e transformou a situação em um problema essencialmente político.

Essa politização é reflexo da falta de governança no setor nuclear. Vemos empresas estatais do segmento não performando, o que retrata exatamente a política que vem sendo conduzida pelo governo. 

Enquanto isso, os custos com Angra 3 continuam crescendo. Todo ano, o país gasta R$ 1,2 bilhão apenas para manter o canteiro de obras. E espero que os gestores estejam, de fato, cuidando dessa estrutura — caso contrário, alguém terá que explicar como se desperdiça tanto dinheiro público.

Em meio a esse dilema de Angra 3, ainda há a indefinição da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN), que ainda não saiu do papel. Como enxerga isso?

cnpeA situação da ANSN é igualmente preocupante. Até hoje, o órgão sequer conseguiu iniciar suas atividades de forma efetiva, já que não houve sabatina dos indicados para a diretoria do órgão. Isso se deve a uma disputa política entre o Senado e o governo federal, que impede o avanço das sabatinas.

E o problema não se resume à ANSN — existem mais de 50 cargos em diferentes instâncias da administração pública aguardando aprovação no Congresso. Essa paralisia institucional contribui para um cenário de inércia no país.

O setor nuclear, em particular, sente fortemente essa ausência de governança. Hoje, não se consegue estabelecer uma estrutura de comando clara, capaz de tomar decisões e conduzir o setor de forma estratégica.

As mudanças ou possíveis saídas entre diretores das estatais ligadas ao setor nuclear também preocupam?

Sem dúvida. Além de todos os entraves já mencionados, ainda acompanhamos, pela imprensa, o movimento de diretores das estatais ligadas ao setor nuclear pedindo demissão ou prestes a deixar seus cargos. Isso aprofunda ainda mais a paralisia nas tomadas de decisão. É realmente lamentável.

O senhor já mencionou em outras ocasiões que Angra 3 foi prejudicada por ter entrado na discussão do acordo entre Eletrobras e União. Pode explicar melhor esse ponto?

A Usina Nuclear de Angra 3. Energia firme que estaria à disposição se houvesse firmeza na decisão de concluí-la

A Usina Nuclear de Angra 3. Energia firme que estaria à disposição se houvesse firmeza na decisão de concluí-la

Não tenho dúvida de que Angra 3 foi diretamente prejudicada por ter sido inserida no contexto da disputa entre a União e a Eletrobras. O presidente Lula, durante a campanha, assumiu o compromisso de retomar o controle da empresa — uma promessa que, na prática, se mostrou inviável, considerando o volume de recursos envolvidos e as indenizações que teriam de ser pagas em caso de reversão da privatização.

A partir disso, instaurou-se uma disputa que chegou ao Supremo Tribunal Federal e, posteriormente, resultou em uma negociação política para garantir ao governo três cadeiras no Conselho de Administração da Eletrobras. No meio desse processo, Angra 3 acabou ficando travada entre os impasses institucionais e os interesses do mercado financeiro e dos fundos que hoje controlam a empresa — os quais, inclusive, já declararam não ter qualquer interesse em concluir a usina. Pelo contrário: querem vender sua participação na Eletronuclear.

E o governo não tem conseguido lidar com essa situação. As empresas estrangeiras, diante desse cenário, também não demonstram interesse algum, e isso se deve, em grande parte, à condição financeira da Eletronuclear. Hoje, a empresa tem um balanço deficitário e está endividada. 

Existe alguma saída viável para mudar esse cenário?

reatorSim, há caminhos viáveis para destravar o projeto de Angra 3. Uma possibilidade seria o governo incorporar ao debate a construção da quarta usina nuclear, já prevista no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2034. A proposta, que começa a ganhar força dentro do setor, consiste em vincular a conclusão de Angra 3 à execução dessa nova usina. Nesse cenário, quem se comprometer com a conclusão de Angra 3 teria a oportunidade de participar também da implantação da quarta planta, o que poderia atrair o interesse de investidores pela escala e continuidade do negócio.

Outra alternativa seria direcionar a energia de Angra 3 para atender à crescente demanda dos data centers no Brasil. Hoje, estima-se uma necessidade de cerca de 9 gigawatts apenas para esse segmento, e não há oferta disponível suficiente para atender a essa demanda. A ideia seria estruturar contratos de compra antecipada de energia com esses grandes consumidores. Com esses recursos, seria possível viabilizar financeiramente a conclusão da usina.

Ou seja, caminhos existem. O que está faltando é governança.

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Michel JAILLETDráusio Lima Atalla Recent comment authors
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Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

Uma terceira opção seria o governo federal assumir sua parcela de responsabilidade ao agir para que o governo Carter com receio de nuclearizar a América Latina interrompesse o fornecimento de combustível para Angra 1, buscasse outro fornecedor na Alemanha, comprasse usinas cuja complexidade e sobre e ganharia excediam a capacidade de um país ainda inábil industrial e financeiramente e corrigisse o erro, bancando agora ele a obra. Com sua longa vida de aproximadamente um século, aliada ao imenso fluxo de caixa, os efeitos dos impactos diretos, indiretos e induzidos na economia mais do que retornariam e remunerariam o capital para… Read more »

Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

Aliás a governadora do Estado de Nova Iorque determinou agora que a empresa estatal New York Power Authority, estatal há um século e jamais privatizada a preço de banana, dê seu jeito e instale uma nova usina nuclear de grande porte no estado. Até na terra dos 30 trilhões de dólares de PIB o governo constrói nuclear. Por que não aqui? Gostamos de nossa penumbra de pouquíssima eletricidade?

Dráusio Lima Atalla
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Dráusio Lima Atalla

Juntamente com a pouquíssima eletricidade vem a baixíssima produtividade e a imensa miséria.

Michel JAILLET
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Michel JAILLET

Prezados amigos brasileiros . Posso dizer que sem o acabamento da Angra 3 o Brasil vai perder a sua capacidade de monitorar um qualquer projeto nuclear ao futuro por falta de jà recursos humanos. Ha saber que na França a parada de continuar de desenvolver a renovaçao do seu programma nuclear demonstar jà custar muito dinheiro que você pode nao iùmaginar pra voltar a nossa capacidade de ontem. Posso dar mais informaçoes sob essa questao se alguem quer saber mais. No Brasil pode ser exist 1000 pessoas competentes na exploraçao das usinas nucleares. Mais 1000 que tem capacidade de fabricar… Read more »